quinta-feira, 15 de agosto de 2013

7 Linhas

A 7ª Linha de Umbanda ou "Linha Mista" 

A 7ª Linha de Umbanda é uma linha composta de diversas correntes que são ligadas com as origens, tradições e regiões do país cultuante.
Nessas correntes manifestam-se os espíritos que o Candomblé chama de Eguns.
Em nossa guia de 7 linhas, nós a representamos na cor amarela e temos nela representados as correntes: Preto-Velho, Baiano, Boiadeiro, Marinheiro**, ciganos*** e outros. Como dito acima, estas correntes têm ligação com nossa origem e cultura, pois seria impossível para um terreiro de Umbanda instalado no Japão, ter médiuns que incorporassem a corrente de baianos ou boiadeiros, já que lá nunca houve estas raízes.
Deixando claro também que, por exemplo, na corrente dos baianos, não serão necessariamente, os espíritos que viveram na Bahia que manifestarão nesta corrente. O nome "linha dos baianos" foi dado devido à forte influência deste estado na cultura africana nos rituais e cultos do espiritismo.
Assim também é com as outras correntes, como por exemplo:
- Na linha de boiadeiro, poderão manifestar espíritos que foram ligados de alguma forma com esta vibração: ponteiro, abatedor, ajudante, comerciante de boi, fazendeiro, etc.
- Na linha de marinheiro: pescador, canoeiro, pessoas que viviam à beira mar e dos rios e outros...
Para deixarmos bem claro os exemplos citemos 3 nomes (falanges) conhecidos e registrados na história que se manifestam na linha dos baianos: 


  • Zé Pilintra: espírito nascido e morto no estado de Pernambuco
  • Lampião: Espírito que viveu e morreu nos sertões nordestinos
  • José Quirino: espírito nascido e morto no estado do Mato Grosso
Assim como na linha de marinheiro podemos encontrar manifestações de espíritos de mulheres de pescadores ou lavadeiras (mulheres que viviam à beira do mar ou de rios).
O importante que temos a saber sobre a 7ª linha de Umbanda é que nela como nas outras linhas a manifestação do espírito se dá na forma corporal que ele teve sua encarnação de maior importância ou de despertamento espiritual. Por exemplo:
Hoje sou um médico e tenho o conhecimento da cura. Porém meu coração foi tocado pela fé quando eu era um escravo. Então minha manifestação na Umbanda após minha morte será como um Preto Velho Curandeiro.
É por isso que, nestas linhas vemos as diversificações em cores e guias usadas pelos espíritos, pois por se tratar de uma linha de espíritos ainda muito ligados com os encarnados, cada qual traz sua particularidade em suas chamadas mirongas.
É onde podemos ver um baiano trabalhar com a vela vermelha, se ele foi um filho de Ogum quando estava vivo. Ou um Preto Velho acender uma vela azul se ele tiver a vibração do mar. Ou até mesmo um boiadeiro usar o verde se ele foi um índio boiadeiro. 

SETA- Preto Velho

PRETO - VELHO
COMO AQUI CHEGARAM OS NEGROS AFRICANOS

O tráfico de escravos da África para o Brasil caracterizou-se por uma cruel tragédia da história humana, só comparável à inquisição.
Nesses dois trágicos acontecimento da vida mundial, a Igreja Católica Apostólica Romana esteve sempre atuante: num caso, como cúmplice, no outro, como implacável carrasco, encobrindo, com o terror sanguinolento, uma mega rapinagem por toda a Europa.
Foram mais de 5 milhões de africanos desembarcados nas praias brasileiras durante os anos de 1525 à 1851. Os navios negreiros, também conhecidos por “tumbeiros” ou “túmulos flutuantes”, fizeram o abominável tráfico escravagista, numa cruel migração transatlântica. Em carta escrita em 1648, o Padre Antônio Vieira afirma: “Sem negros não há Pernambuco e sem Angola não há negros”.
Os escravos eram batizados no porto de origem, ao mesmo tempo em que era gravada uma cruz em cada lado do peito do infeliz, com um ferro em brasa. Lançados aos porões dos navios, alguns morreram de sede e pestilência; alguns foram atirados no mar como mercadorias deterioradas durante epidemias e o restante que sobreviveram a tantas atrocidades satisfizeram a cobiça de nossos mercados de escravos.
Navios superlotados de seres indefesos, magros, sombras cambaleantes... as afeições contraídas, seus grandes olhos parecendo que iriam saltar a qualquer momento, e, pior de tudo, suas barrigas franzidas, formando um perfeito buraco, como se elas tivessem se desenvolvido no sentido das costas.
As provisões aos escravos, para que se enquadrassem servilmente ao sórdido esquema social da época, era de “200 a 300” chicotadas com um chicote de couro de múltiplas correias. Tais chicotadas tiveram lugar nas prisões e plantações até os últimos dias de escravidão brasileira.
Pálida descrição do quadro histórico escravista patrocinado pelo Reino português e pela religião católica nos tempos da colonização perversa. Os conquistadores repartiram entre si o valioso terreno em Capitanias Hereditárias e exportaram milhões de toneladas de ouro, pedras preciosas, madeira, café, açúcar, fumo, etc., às custas do trabalho escravo.
VENERÁVEIS PROTETORES
Até o ano de 1900, aportaram no plano astral cerca de 8 milhões de almas africanas e seus descendentes. Foi daí que surgiu uma reunião de negros, anciões em sua maioria, que idealizavam e comandaram um movimento de retorno ao plano físico através da mediunidade. Pretendias demonstrar, prática e lucidamente, duas coisas: às autoridades da religião dominante que estas careciam de um elemento primacial, prioritário: a religiosidade, e à sociedade brasileira, como um todo, que era possível responder às atrocidades, sofridas por mais de três séculos, sem violência, desforra nem vingança.
São da natureza da raça africana, entre outras virtudes, a tolerância, alegria, musicalidade, meiguice, desejo de servir, além da sabedoria das idades sorvida biologicamente pela religião africana.
No astral, outro fator veio aumentar seus entendimento, ou seja, a compreensão do comportamento mesquinho e bestial da humanidade encarnada. Unidos a um milhar de indígenas e outras criaturas vítimas do sistema colonial, decidiram por uma proposta essencialmente humanista a quem deram o nome de Umbanda. O segundo passo foi o envio inicial de uma dezena de almas, liberadas por um índio, que a si próprio deu o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas, para anunciar a fundação de uma nova religião. Isso aconteceu em novembro de 1908.
No mais, é só vê-los pessoalmente nos terreiros, com sua proverbial paciência, humildade e segurança, dando orientação, conselhos, advertindo mansamente sobre os perigos, numa conversação que se torna coloquial com os “sinhô e sinhá”, tudo isso num clima de harmonia, esperança e paz. Milhares de problemas são resolvidos: perseguições debeladas, reconciliações, desmanchos de trabalhos e, sem que muitos percebam, a lição maior ao cidadão componente da desenfreada sociedade de consumo: busque a si mesmos e descobrirá o causador dos problemas e da discórdia reinante.

PRATOS E BEBIDAS A OFERECER AOS PRETOS VELHOS:

Tutu de feijão, torresmo, couve, cuscuz, farofa, bolo de fubá, bolo de milho, cocada, paçoca, pé de moleque, milho cozido, mandioca, canjica, pipoca, etc.
Bebidas: café, vinho tinto, pinga com mel e arruda (Jurema)

SAUDAÇÃO:
Adorei as Almas!

Sua Guia é feita geralmente com contas de rosário, crucifixo, contas brancas e pretas (se ele fizer parte da corrente das almas)
Velas: brancas, branca/preta, azul clara (Dependendo da falange).

FALANGE DOS PRETOS-VELHOS
A Falange dos Pretos-Velhos, composta de milhares de Espíritos, é talvez, no meu ponto de vista, o alicerce de onde se ergueu e difundiu a nossa Sagrada Umbanda. Enquanto encarnados, na condição de negros e escravos, apesar de todo ultraje que sofreram, não deixaram morrer a fé e o Culto aos orixás. Vinham para o Brasil misturados com seus inimigos de guerra. Considerando que em sua terra de origem, muitos destes negros eram prisioneiros de tribos rivais. Experimentaram a dor e o sofrimento, nas mesmas condições: todos agora eram prisioneiros dos brancos europeus. Acredito que esta foi a forma encontrada pela Misericórdia Divina para mostrar uns aos outros, o mal que se faziam mutuamente. Chegando ao Brasil, passaram a viver sob o mesmo jugo. Logo, entenderam a necessidade de se unirem, independente de suas diferenças deixadas na terra natal.

Desencarnados, passaram a incorporar em seus descendentes, em lugares adequados e trazendo consigo, características e costumes das nações que pertenciam.

Hoje, muitas dessas Entidades não incorporam mais. No entanto, chefiam grande número de Espíritos que, por missão, incorporam em nossos Terreiros, seguindo os costumes e ensinamentos recebidos pelos ‘mais velhos’. Nem sempre, aquela Entidade que incorporamos como Preto-Velho, fora na realidade um escravo em sua última existência. Muitos tomam tal forma, e se submetem a tal condição, para continuarem sua escala evolutiva. Dentre essas Entidades, encontramos netos, bisnetos e tataranetos, daqueles negros.

Na Umbanda os Pretos-Velhos desempenham papel muito importante para nossa evolução espiritual: São eles que tomam para si a responsabilidade de nos ensinar os caminhos do perdão, da resignação, da coragem e da esperança. Seus conselhos sempre vêm nos momentos de dificuldade e sempre são cheios de ternura e paciência. Mas quando entendem que o ‘filho’ está abusando de sua bondade, são firmes e austeros.

Geralmente usam em suas roupas e guias (fios de conta) as cores preta e branca, simbolizando a dor e a liberdade. A noite e o dia. A saudade e o reencontro. Também é sabido, que naquela época, os escravos, em sua maioria, vestiam roupas de xadrez preto e branco (carijó)

A guia feita de lágrima de Nossa Senhora (semente de cor cinza com uma palhinha dentro) é muito usada pelos nossos Vovôs e Vovós lembrando os tempos de cativeiro. É de bom tom, ao retirar a palha de dentro da semente, juntá-las e depois fazer uma fogueirinha, agradecendo a luta dos negros pelo fim da escravidão. Este ritual, para nós, representa a nossa luta pelo fim de nossas angústias e sofrimentos.

A postura dessas Entidades, desde sempre, tem sido de grande importância para a valorização da Cultura Afro-Brasileira. Muitos estudiosos, antropólogos em sua maioria, encontram na Umbanda respostas para suas pesquisas sobre um povo que, apesar de todo sofrimento, consegue manter viva sua cultura e dá a todos exemplos magníficos de amor e compaixão.

O grande ‘axé’ dos nossos Pretos-Velhos é, com toda certeza, a virtude de saber perdoar. Mas perdoar sem pieguice. Pois o seu perdão, é fruto do desapego ao orgulho e a vaidade, desenvolvendo assim o mais nobre dos sentimentos: a humildade.

Os Terreiros de Umbanda homenageiam estas Entidades no dia 13 de maio. Data em que foi assinada a Lei Áurea. O grande marco da libertação dos escravos.


Lendas e Histórias - Pretos-Velhos


Vovó Benta
Todos os outros protetores já haviam desligado de seus médiuns, devido a hora avançada e também porque não haviam mais pessoas para serem atendidas.
Fora uma noite semelhante à tantas outras onde aquele salão enchia-se de pessoas famintas do pão da fé e do conselho amigo dos pretos velhos.
Vovó Benta no entanto, continuava incorporada em seu aparelhinho, batendo o pé no chão e cantarolando.
O cambono-chefe veio até ela, informando delicadamente que os atendimentos haviam encerrado, podendo ela "subir".
- Salve camboninho, nega véia sabe que o terreiro esvaziô, mas tô aqui esperando aquela zi fia que tá chegando na portera...
Olhando para a porta, o cabono avistou "aquela senhora" chegando e mesmo sem nada falar à preta velha, seus pensamentos reprimiram aquele tipo de conduta que se repetia.
Quando estavam prestes a encerrar o trabalho, ela chegava escondendo o rosto atrás de um xale. "ainda se fosse alguém decente, mas essa criatura se prostitui nas outras noites e nessa, vem até aqui se fazer de santa..." pensava ele.
Vovó Benta captou as ondas do pensamento do cambono e somente sorriu, pensando em como a vida é uma caixinha de surpresas.
- Saravá zi fia. Como suncê tem passado?
- Minha mãe, minhas noites tem sido um terror. Os pesadelos não me deixam dormir e durante o dia tenho batido perna atrás de emprego, mas a senhora sabe, a minha fama faz com que todas as portas se fechem...
- Não desanima filha. Se você decidiu que realmente quer mudar sua vida, vai precisar de persistência e fé. Não desista de procurar. Há um lar onde a dor está chegando e vai precisar de alguém de coração grande, com vontade de trabalhar e com paciência. Neste lugar, enquanto a filha ganha seu pão honestamente com seu trabalho, vai poder ressarcir os erros de um passado que desconhece e que por fugir dele, até hoje padece.
- Eu não quero desistir, mas são muitas portas se fechando na minha cara... Às vezes penso que não vale a pena mudar de vida...
- A escolha é sua, por isso o Grande Pai nos deu o livre arbítrio, porém esta preta velha vai dizer para a filha que sem subir e descer a montanha, sem atravessar o lodaçal e sem passar pelas águas turbulentas do rio, ninguém chega até a porta da Casa do Pai, a única que não se fecha para nenhum dos filhos. Prova disso, é o fel que o próprio Cristo Jesus precisou provar antes de se elevar aos céus.
- Minha mãezinha, ontem mesmo vim até esta casa me oferecer para limpá-la durante o dia, como maneira de começar a fazer a minha caridade, porém me aconselharam que me restringisse a vir nas sessões de caridade, pois não ficaria bem uma "mulher da vida" limpar a casa dos Sagrados Orixás.
- Mais uma vez o livre arbítrio filha. Jesus recebeu Maria Madalena e permitiu que ungisse seus pés, porque viu o seu coração e não se limitou a julgar seus atos. Continua insistindo filha, mostra que a sua intenção é boa, pede uma chance de mostrar o seu trabalho.
Abençoando aquela mulher sofrida, de coração e forças já abatidos pelas noites de insônia dos tantos anos vividos naquele prostíbulo, Vovó Benta deu a ela um patuá e pediu que o usasse em sua bolsa, acreditando que estaria protegida e amparada por todos os Orixás. Despediu-se, quando a corrente mediúnica apressada, já cantava o ponto de encerramento.
A Preta Velha limpando as energias de seu aparelho com o galho de Arruda, chorou sentida pela falta de entendimento que alguns filhos ainda tem do real significado da caridade. Depois de largá-lo, permaneceu ainda ali junto aos outros espíritos que haviam prestado o seu serviço naquele templo e que agora, de mãos dadas, cantavam e dançavam ao redor dos médiuns, reequilibrando suas energias com a magia do som e do movimento.
Alheios à todo benefício que recebiam dos bondosos pretos velhos, alguns médiuns bocejavam, outros recostavam-se na parede sentindo-se cansados, outros ainda, pensavam no programa de televisão que estavam perdendo, graças "aquela senhora" que sempre atrasava o encerramento dos trabalhos.
A semana corria e os acontecimentos andavam conforme a prescrição de uma força maior à dos homens.
Num entardecer, aquela mulher grávida com fortes dores do parto, tenta chamar seu marido do trabalho, quando a bolsa d'água estoura e inicia-se forte sangramento. Alarmada pelo barulho, a filha adolescente sai do quarto e vendo a mãe no chão desmaiada, sai à rua gritando e chamando socorro. Uma mulher passava por ali, cabisbaixa e desanimada, mas que não hesitou em entrar correndo e atender a mulher, cuja criança já ensaiava nascer. Só teve tempo de lavar rapidamente suas mãos e pedir à menina que trouxesse toalhas e água quente, e ali mesmo fez o parto.
Não acontecia um acaso, pois ela fora adestrada pela vida em realizar partos caseiros, muitos, antes da hora... Sabia como agir e salvou a criança, mas sentindo que a mãe ofegava, ligou para um hospital chamando socorro.
Quando o marido chegou em casa, assustou-se vendo aquela prostitua dentro de sua casa, com um bebê no colo. Os fatos foram relatados e correndo ao hospital, deparou-se com esposa em estado gravíssimo, vindo a desencarnar em poucas horas. Enlouquecido, agora culpava o parto mal feito, mesmo diante da afirmação médica de que a esposa havia sofrido uma parada cardíaca por problemas de pressão alta não tratada na gravidez.
Saiu do hospital disposto a achar um culpado. Quando, enfurecido entrou no quarto para de lá expulsar a prostituta, assustou-se vendo que ao lado dela estava uma preta velha sorrindo. Esfregou os olhos e olhando novamente viu a mulher lhe entregando a criança e saindo.
Que seria dele agora? Os vizinhos movimentaram-se nos primeiros dias, ajudando aquela família, mas depois de um mês cada um voltou a cuidar de sua vida. Na próxima gira de preto velho, o cambono-chefe ajoelhava-se chorando em frente de Vovó Benta, com um bebê nos braços, o que deveria fazer.
- Zi fio, porque tanta tristeza? Esta criança é uma benção.
-Mas não tem mãe.. - exclamava ele choroso
.- Não tem mãe mas tem uma avó.
- Não minha mãe, as duas avós, tanto materna quanto paterna também já desencarnaram.
- Zi fio aguarde ... aquela que é a avó do "curumim" está chegando.
- O cambono estremeceu ao ver "aquela mulher" novamente ali.
- Avó de meu filho?
- O camboninho esquece que foi ela que o salvou? Se serviu de mãe, poderá servir de avó. Tem idade e experiência para tanto.
- Mas não tem moral!
- Zi fio, essa moral de que fala é um chapéu vistoso que dá imponência quando convém, e que serve para esconder a cara quando a vergonha chega. Larga de tanto orgulho e contrata essa filha que tanto precisa de um trabalho, para cuidar do filho que ela mesmo fez vir ao mundo.
Naquela noite, durante o sono, o cambono foi levado a outras paragens do mundo astral e dos quadros que presenciou, foram trazidos à sua mente física, pela manhã como uma forte vontade, senão necessidade, de chamar "aquela mulher" para ser babá de seu filho. E assim o fez.
Ao pedir seus documentos para o devido registro, surpreendeu-se com seu nome verdadeiro, pois a conhecia por Madame Zulu, seu nome de guerra.
Então ela passou a lhe contar que havia conhecido um rapaz rico que a engravidou, quando ainda muito jovem. Por impedimento das famílias, não puderam ficar juntos. Durante a gravidez toda foi obrigada a se esconder e quando o filho nasceu, sumiram com ele. Sua dor havia sido tão grande que saiu pelo mundo a procura do bebê sem nunca ter logrado êxito, até que desanimada e desacreditada, se jogou naquela casa e lá passou a viver de prazeres ilusórios. Falou de suas decepções, de sua tristeza e da saudade que tinha do filho que mal conhecera.
O coração daquele homem agora disparava porque algo muito forte gritava dentro dele. Perguntou por datas, por nomes, por locais e não havia mais dúvidas: - era ela..."aquela mulher" era sua mãe! Entre soluços jogou-se aos sues pés, contando sua história de abandono e de carência materna no orfanato.
Naquela noite, lá no terreiro, um cambono e uma ex-prostituta, agora mãe e filho, ajoelhados aos pés da preta velha choravam emocionados, apresentando o filho e neto para que fosse abençoado.
- Camboninho entende agora porque a preta velha ficava esperando até altas horas para que a filha chegasse no terreiro? Entende porque se diz que "Deus escreve certo por linhas tortas"? Esse pequeno ser que desfruta agora de vosso amor, tem uma história também, mas seja qual for, prometam ampará-lo e amá-lo, o tanto que vossos corações forem capazes, para que a justiça se cumpra.
Talvez um dia viessem a descobrir que em vida passada, o cambono e sua mãe haviam sido pais inconseqüentes daquele ser que ali renascia e que por causa disso, havia se perdido.
Tudo o que mais abominamos, faz parte de nós. A vida sempre nos coloca de frente à espelhos, que independente das máscaras que usarmos, vão sempre refletir nossa imagem verdadeira.
Preta Velha já foi.. já foi prá Aruanda... Vovó Benta 

Fonte: livro Causos de Umbanda - Editora do Conhecimento



Sempre Fica Perfume Nas Mãos Que Oferecem Rosas
A noite se fazia linda...
A lua cheia, tal qual noiva entrando na igreja, espalhava seu véu branco por sobre as Campinas, as pradarias e dava brilho especial aquele jardim florido onde as gérberas e adálias bailavam ao sabor da brisa. Pétalas orvalhadas brilhavam a luz do luar, fazendo do roseiral um manancial de energias que exalavam, enchendo o ar com seu perfume.
Espremendo-se pelas frestas do rancho, o cheiro do jardim entrava e coçava o nariz da negrinha, fazendo-a espirrar...e acordar. Era apenas um pretexto que Preta Rosa usava para se fazer ver, mesmo estando em corpo fluídico. Sorrindo, com seus alvos dentes que contrastavam na pele negra, e exibindo uma rosa atrás da orelha, o espírito amigo soprava na testa da negrinha, fazendo-a dormir novamente, para que nessa brincadeira de esconde-esconde, pudesse tirá-la do corpo físico e novamente juntas, voarem ao sabor do vento em busca de outros tantos espíritos, para que pudessem servir em qualquer paragem, sempre em nome do grande Zambi.
Era rotineiro esse procedimento e Preta Rosa ficava muito feliz em poder contar com a preciosa ajuda da negrinha que no corpo físico era paraplégica, mas que sabia voar quando saía dele. O jardim bem cuidado que ladeava o rancho humilde, auxiliava a descida das boas energias e seguidamente era ali, naquele jardim florido, que a espiritualidade se abastecia das energias florais e curativas de que precisavam nos trabalhos de cura.
Preta Rosa, antes de chamar a negrinha, sempre abastecia sua cesta, com as flores que gostava de espalhar no caminho por onde andava. Flores que existiam além da matéria, naquele manancial sagrado.
A negrinha, quando menina foi duramente castigada pelo feitor, fruto das peraltices naturais da infância, mas que não eram admitidas nas crianças negras. Ferida duramente ao final das costas, paralisou as pernas e nunca mais caminhou. Mas para comer era obrigada a trabalhar, então arrastava-se sob o efeito de dor quase insuportável, para cumprir tarefas que Sinhá lhe ordenava. Passava o dia a esfregar o chão da casa grande e quando a noite chegava, seu corpinho magrela amortecia de cansaço.
Preta Rosa, em encarnação anterior, havia sido sua madrinha e guardava pela negrinha um afeto muito especial. Sabia que a dura pena a que foi submetida nesta vida era, na verdade, um aprendizado ao seu espírito endurecido no orgulho e na teimosia, como sabia também que na próxima encarnação a negrinha viria de pele branca e serviria para manifestá-la junto aos homens da terra. Espíritos afins, uma vivenciando ainda os aprendizados da carne, outra evoluindo no mundo astral, são guerreiras de Zambi e em noites de luar, pelos céus deste Brasil, espalham rosas e perfumes por onde passam, cantarolando os versos que Preta Rosa gosta de fazer. 
História contada por Vovó Benta



 Pai Guiné
Guilherme estava indo para o centro umbandista que freqüentava há pouco mais de seis meses e onde ocorreria, naquela noite, uma gira de preto-velho em que ele teria a gratificante oportunidade de cambonar mais uma vez a Pai Guiné do Congo.
Guilherme era um jovem universitário que procurava desenvolver as atividades do centro com a maior boa-vontade possível.
Auxiliava àqueles que eram atendidos pelo preto-velho e sempre, após o último atendimento, Pai Guiné solicitava ao jovem que sentasse a sua frente para trocarem alguns “dedos de prosa”. Eram nestes momentos que Guilherme mostrava à entidade o sentimento e a idéia de que ser umbandista é ser sempre um vitorioso, como podemos observar no diálogo que se segue:
— Salve Zambi, menino Guilherme! Como vai suncê?
— Salve Deus, Pai Guiné!!! Melhor do que estou seria impossível!!!
— E, por que, zifio?
— Desde que entrei na umbanda só conheci vitórias: minhas notas melhoraram, parei de farrear e encontrei uma menina incrível pra namorar que é médium da corrente deste terreiro.
— Olha zifio, Nêgo fica feliz com sua alegria no desabrochar de sua descoberta de qual é a real felicidade de ser umbandista.
— Olha meu pai-velho, para mim, ser umbandista é ser vitorioso sempre e, se Deus quiser, eu vou vencer ainda mais nesta vida!!!
— Zifio, de fato, ser umbandista é ser vitorioso sempre, desde que se saiba o que é vitória!
— Como?
— O que é vitória pra suncê, meu filho?
— Para mim vitória é vencer, alcançar aquilo que se quer!!!
— Suncê inté que ta certo, mas como se vai saber se aquilo que suncês quer, é aquilo que vai fazer suncês vencer???
— Não entendi!!!
— A sabedoria meu menino!!! É ela o instrumento com que Deus dotou cada ser humano afim de que ele, ao exercê-la, seja sempre um vitorioso em qualquer situação que enfrente na vida.
— Ainda não consegui entender, Pai Guiné!!! O senhor está meio enigmático hoje!!!
— Num se preocupe não zifio, pois nas forças de zambi no tempo certo suncê há de entender!!! Agora Nêgo deve dizer que tá muito ditoso com o namoro entre suncê e a “cavalinha” Gabrielle!
— Mesmo?
— Sim meu fio, pois ela é uma fia tão formosa que é capaz de fazer os zifios crescer moralmente só pelo fato de estarem juntos dela e aprenderem com seus exemplos práticos de amor, bondade e caridade!!!
— Para mim ela é quase uma santa!!!
— É por que suncê só tá vendo ela, nestes três meses de relacionamento, com os olhos do amor, mas em breve o tempo o fará vê-la como é: imperfeita, mas portadora de virtudes morais e edificantes!!!
— Se o senhor diz, eu acredito, mas será que eu poderia tocar em um outro assunto?
— Fique a vontade zifio!!!”
— É que eu gostaria de uma ajuda para alcançar mais uma vitória através da umbanda!
— Qual ajuda?
— É que eu estou muito interessado em uma vaga de estágio numa grande firma de advocacia!
— Vamos ver né zifio, pois só Zambi Nosso Pai é que pode todas as coisas!!!
Guilherme continuou cambonando a entidade e três semanas após o diálogo em questão podemos vê-lo travar uma nova conversa com Pai Guiné do Congo:
—Puxa vovô, eu estou muito feliz por ter obtido minha vitória!!!
— Conseguiu a vaga zifio?
— Graças a Deus, alcancei minha vitória!!!
— Peça sempre sabedoria a Zambi para que esta vitória não seja uma derrota na sua vida!
— Pode deixar vovô, pode deixar!!!
Um ano após esta conversa, encontraremos Guilherme a ter uma nova conversa com o preto-velho:
— Pai Guiné, continuo vencendo na umbanda, alcancei nova vitória!!!
— Como assim, zifio?
— Comprei um carro usado, mas que está tão bonito e ajeitado que parece novo, agora a vida vai ficar mais fácil com esta minha conquista!
— Zifio, peça sempre sabedoria a Zambi para que esta vitória não seja uma derrota na sua vida!!!
— Pode deixar vovô, pode deixar!!!
Três meses após esta prosa lá estava o jovem guilherme em mais um “bate-papo” com Pai Guiné:
— Vovô, é capaz até de o senhor ficar triste, mas eu consegui vencer de novo por meio da umbanda!!! Terminei com a Gabrielle e estou namorando com uma menina da minha turma na faculdade e que me entende melhor; o nome dela é Valquíria.
— Zifio, peça sempre sabedoria a Zambi para que essa vitória não seja uma derrota na sua vida!!!
— Pode deixar vovô, pode deixar!!!
Quatro meses depois Guilherme, abatido, estava novamente a dialogar com o pai-velho:
— Pai Guiné, tive minha primeira derrota desde que sou umbandista!
— Conta pra Nêgo o que aconteceu, meu menino!!!
— Olha, sem eu dar motivo algum, fui dispensado do meu estágio!!!
— Zifio, peça a Zambi nosso pai que faça você ver a vitória que esta derrota é na sua vida!!!
— Como?
— O umbandista é sempre vitorioso zifio!!! Lembra quando nóis conversou sobre isso?
— Lembro sim vovô! Pode deixar que eu vou fazer isto vovô, pode deixar!!!
Três semanas após, Guilherme está outra vez em frente a Pai Guiné a dizer-lhe:
— Pai Guiné, apesar das minhas rogativas a Deus o meu pai desenvolveu uma grave doença e não tem muitas chances de cura!!!
— E na visão de suncê isto é uma vitória ou uma derrota?
Guilherme pensou profundamente antes de responder a entidade, mas só conseguiu dizer:
— Desculpa Pai Guiné, mas para mim é uma derrota!
— Num precisa se desculpar zifio, Nêgo gostou da sinceridade!!! Mas peça a Zambi nosso pai que faça você ver a vitória que esta derrota é na sua vida!!!
— Eu vou fazer!!! Pode deixar vovô, pode deixar!!!
Cinco meses depois Guilherme está de frente a Pai Guiné para ter com ele aquela que, na opinião do jovem, seria a última conversa que teria com a entidade:
— Vovô, graças a Deus, o meu pai já está praticamente curado, mas é que eu acabo de sofrer a maior derrota da minha vida e vim até aqui comunicar ao senhor que vou pedir desligamento do terreiro hoje!!!
Guilherme chorava muito e o pranto era copioso. Pai guiné estalava os dedos enquanto aguardava as emoções do seu pupilo serenarem. Poucos minutos depois a entidade retomou o diálogo:
— Suncê pode dizer pra Nêgo que derrota foi essa meu fio?
— Para que vovô? Para o senhor dizer que a minha derrota é vitória?
— Se o zifio tá zangado e for pra aliviar a dor do seu coração, suncê ta autorizado a fazer malcriação com Nêgo até ficar aliviado, mas depois que suncê tiver falado tudo; Nêgo vai pedir silêncio para que suncê possa escutar tudo o que ele tem a dizer, tudo bem?
— Desculpe Pai Guiné, o senhor pode falar agora que eu escutarei!!!
— Suncê tem certeza?
— Sim senhor!!!
— Então Nêgo vai conversar com suncê, meu menino!!! O zifio tá zangado por que a “rabo-de-saia” Valquiria, vendo que não tinha mais o que sugar de suncê, terminou o namoro, não é?
Boquiaberto, Guilherme respondeu:
— Sim senhor!
— Suncê num tem mais o carro porque teve que vender para ajudar no tratamento do seu pai, não tem mais dinheiro por que está sem emprego; e sem carro e sem dinheiro ela não te quis mais, não é verdade?
— Sim senhor!
— E isto foi uma derrota ou uma vitória em sua vida?
— Agora com o senhor falando assim deste jeito eu, sinceramente, não sei!!!
— Então vamos começar do inicio, certo???
— Certo!
— Um tempo atrás suncê procurou Nêgo pra dizer que tinha conseguido uma vitória que Nêgo sentia que poderia ser uma derrota em sua vida, lembra???
— A vaga de estágio na firma conceituada de advocacia?
— Exatamente!!! Esta vitória não deveria, mas foi uma derrota na sua vida pelo que o motivou prioritariamente a alcançá-la!!!
— Como?
— Comprar um carro, não era o que suncê mais queria?
— Mas isso é ruim?
— Depende do que motiva prioritariamente uma pessoa a adquirir um carro, o que nos leva a segunda vitória que não deveria, mas foi uma derrota em sua vida!!!
— Como?
— Não foi o desejo ardente de impressionar Valquiria e tê-la apenas para si que o motivou prioritariamente a comprar o carro?
— Sim, mas isto é ruim???
— Zifio, isso levou suncê a terceira vitória que não deveria, mas foi uma derrota em sua vida!
— Como assim?
— O desejo de impressionar e ter para si uma mulher de beleza rara e extasiante foi o que fez você abrir mão do relacionamento com a fia Gabrielle, certo?
Boquiaberto, novamente, Guilherme respondeu:
— Sim senhor!
— Suncê abandonou uma fia que só fazia compartilhar para ficar com outra que só queria tudo pra si, isso foi derrota ou vitória?
— Meu Deus!!! Foi por isso que fui mandado embora do estágio: por estar fazendo tudo errado!!! Por isso eu tive minha primeira derrota!!!
— Menino Guilherme, aquilo que suncê chama de primeira derrota foi, na realidade, sua primeira vitória!
— Mas, por quê?
— Por que você estar desempregado proporcionou-lhe a oportunidade de assistir melhor e por mais tempo ao seu pai na ocasião do adoecimento dele!
— Meu Deus!!! Olhando por este lado eu vejo que o senhor tem razão!!!
— E, quando seu pai adoeceu, aconteceu aquilo que suncê chamou de segunda derrota, mas que foi, na verdade, sua segunda vitória.
— Vitória? A doença do meu pai foi vitória?
— Não, mas proporcionou-lhe uma sensibilização na sua vida que o ajudou a sentir e pensar a vida e o amor de uma forma moralmente mais elevada, ou não é verdade que você quase terminou o relacionamento com a Valquiria por três vezes, devido ao excesso de materialismo por parte dela?
— É verdade vovô, é verdade!!!!
— Suncê foi intuído por seus mentores para terminar o relacionamento com ela, mas como a beleza e o envolvimento carnal foram maiores que o seu bom senso, eis que suncê obteve a sua terceira vitória que foi o término da relação só que por iniciativa dela; e logo agora que suncê tá tão perto de conseguir uma vitória crucial pra sua evolução, suncê pensa em largar a sua fé? Nêgo num entende!!!!
— Vitória? Vitória sobre o que? Sobre o desemprego? Sobre o desamor?
— Não meu menino, nas forças de Zambi, há de ser uma vitória sobre suncê mesmo: sobre suas más tendências, sobre a ilusão da matéria e sobre sua ignorância acerca da beleza do espírito. Vitória não é só conseguir o que se deseja, pois se suncê pedir a Zambi e desenvolver a sabedoria, suncê verá a real vitória em todas as situações de sua vida: até mesmo nas derrotas aparentes, suncê entende meu fio?
— Estou entendendo vovô!!!
— Sem sabedoria vencer é só alcançar aquilo que suncês quer, já com sabedoria vencer é encarar as dificuldades da vida como oportunidades sagradas de Deus para a evolução de suncês, pois se isto for alcançado a vitória é certeira, mesmo que aos olhos do mundo seja a mais flagrante derrota, suncê entende?
— Estou entendendo, sim senhor!!!
— Por isso o verdadeiro umbandista vence sempre: por que pede sempre a Zambi que o faça enxergar todas as situações da vida com a visão espiritual da sabedoria!
— É verdade vovô!!!
— Neste mundo tão materializado e ilusório somente o olhar da sabedoria espiritual pode vislumbrar os caminhos que levam suncês a real vitória que, por sua vez, não é aquela sobre o próximo ou sobre a carne, mas sobre suncês mesmos, suncê entende meu menino?
— Sim senhor!!!
— Suncê ainda quer sair do terreiro pelo que lhe parece uma derrota? Ou quer continuar na sua fé aprendendo, a cada gira, a enxergar os fatos com a visão espiritual através dos “óculos” que vem da sabedoria infinita de Zambi nosso pai?
E com o coração e a mente transformados pela misericórdia de Deus foi que Guilherme respondeu:
— Eu fico com Deus, fico com o senhor, fico com Jesus, fico com os orixás, fico com a Umbanda e tudo com muita felicidade!!!!!
E talvez para trazer um pouquinho mais de paz para o coração de Guilherme, foi que Pai Guiné do Congo lhe disse:
— Vamos aprender a vencer sempre?
— Vamos, mas como?
— Fazendo aquilo que Nêgo explicou pra suncê: pedindo a Zambi nosso pai o desenvolvimento da sabedoria!
— Mas como é que se faz isso?
— Tem um jeito muito simples, que foi ensinado pelo próprio mestre Jesus!
— É uma prece?
— É!
— O senhor me ensina?
— A prece fio já conhece, agora o fio deve começar a fazê-la direcionando-a não mais apenas pela memória, mas pelo pensar e pelo coração. Suncê ta pronto?
— Sim senhor!!!
— Então vamos: feche os olhos, relaxe o corpo, esvazie sua mente, concentre-se nas batidas de seu coração e chame Deus para junto de si conectando-se a Ele através da seguinte prece:

“ Pai nosso que estais no céu,
santificado seja Vosso nome,
venha a nós o vosso reino,
seja feita a Vossa vontade,
assim na terra como nos céus….”

Fonte:
Texto escrito por Pedro Rangel.
http://pedrorangelsa.blogspot.com/2009/02/vitoria.html


Vovó Catarina
Os tambores tocavam o ritmo cadenciado dos Orixás, e nós dançávamos. Dançávamos todos em volta da fogueira improvisada ou à luz de tochas ou velas de cera que fazíamos. A comida era pouca, mas para passar a fome nós dançávamos a dança dos Orixás. E assim, ao som dos tambores de nosso povo, nos divertíamos, para não morrer de tristeza e sofrimento. Eu era chamada de feiticeira. Mas eu não era feiticeira, era curandeira. Entendia de ervas, com as quais fazia remédios para o meu povo, e de parto; eu era a parteira do povo de Angola, que estava errando naquela terra de meu Deus. Até que Sinhazinha me tirou do meu povo. Ela não queria que eu usasse meus conhecimentos para curar os negros, somente os brancos; afinal, negro - dizia ela - tinha que trabalhar e trabalhar até morrer. Depois, era só substituir por outro. Mas Dona Moça não pensava assim. Ela gostava de mim, e eu, dela. Fui jogada num canto, separada dos outros escravos, e todas as noites eu chorava ao saber que meu povo sofria e eu não podia fazer nada para ajudar. De dia eu descascava coco e moía café no pilão. À noite eu cantava sozinha, solitária. E ouvia o cantar triste de meu povo, de longe. Ouvia o lamento dos negros de Angola pedindo a Oxalá a liberdade, que só depois nós entendemos o que era. E os tambores tocavam o seu lamento triste, o seu toque cadenciado, enquanto eu respondia de meu cativeiro com as rezas dos meus Orixás. A liberdade, que era cantada por todos do cativeiro, só mais tarde é que nós a compreendemos. A liberdade era de dentro, e não de fora.
Aqueles eram dias difíceis, e nós aprendemos com os cânticos de Oxóssi e as armas de Ogum o que era se humilhar, sofrer e servir, até que nosso espírito estivesse acostumado tanto ao sofrimento e a servir sem discutir, sem nada obter em troca, que, a um simples sinal de dor ou qualquer necessidade, nós estávamos ali, prontos para servir, preparados para trabalhar. E nosso Pai Oxalá nos ensinou, em meio aos toques dos tambores na senzala ou aos chicotes do capitão, que é mais proveitoso servir e sofrer do que ser servido e provocar a infelicidade dos outros.
Um dia, vítima do desespero de Sinhá, eu fui levada à noite para o tronco, enquanto meus irmãos na senzala cantavam. A cada toque mais forte dos tambores, eu recebia uma chibatada, até que, desfalecendo, fui conduzida nos braços de Oxalá para o reino de Aruanda. Meu corpo, na verdade, estava morto, mas eu estava livre, no meio das estrelas de Aruanda. Em meu espírito não restou nenhum rancor, mas apenas um profundo agradecimento aos meus antigos senhores, por me ensinar, com o suor e o sofrimento, que mais compensa ser bom do que mau; sofrer cumprindo nosso dever do que sorrir na ilusão; trabalhar pelo bem de todos do que servir de tropeço. Eu era agora liberta, e nenhum chicote, nenhuma senzala poderia me prender, porque agora eu poderia ouvir por todo lado o barulho dos tambores de Angola, mas também do Kêtu, de Luanda, de Jêje e de todo lugar. Em meio às estrelas de Aruanda eu rezava. Rezava agradecida ao meu Pai Oxalá.
Fui pra Aruanda, lugar de muita paz! Mas eu retomei. Pedi a meu Pai Oxalá que desse oportunidade pra eu voltar ao Brasil pra poder ajudar a Sinhá, pois ela me ensinou muita coisa com o jeito dela nos tratar. E eu voltei. Agora as coisas pareciam mudadas. Eu não era aquela nega feia e escrava. Era filha de gente grande e bonita, sabia ler e ensinava crianças dos outros. Um dia bateu na minha porta um homem com uma menina enjeitada da mãe. Era muito esquisita, doente e trazia nela o mal da lepra. Tadinha! Não tinha pra onde ir, e o pai desesperado não sabia o que fazer. Adotei a pobre coitada, fui tratando aos poucos e, quando me casei, levei a menina comigo. Cresceu, deu problema, mas eu a amava muito. Até que um dia ela veio a desencarnar em meus braços, de um jeito que fazia dó. Quando eu retomei pra Aruanda, o que vocês chamam de plano espiritual, ela veio me receber com os braços abertos e chorando muito, muito mesmo. Perguntei por que chorava, se nós duas agora estávamos livres do sofrimento da carne, então, ela, transformando-se em minha frente, assumiu a feição de Sinhazinha! Ela era a minha Sinhá do tempo do cativeiro. E nós duas nos abraçamos e choramos juntas. Hoje, trabalhamos nas falanges da Umbanda, com a esperança de passar a nossa experiência pra muitos que ainda se encontram perdidos em suas dificuldades.

Fonte: Tambores de Angola
Robson Pinheiro e
Ângelo Inácio (espírito)


Pai Firmino do Congo
A Verdadeira Valentia Não É Aquela Que Afronta...
- Jacobino feitor marvado, um dia te pego na virada. Um dia te mostro que o teu chicote pode inté ferir lombo de negro, mas, que ele jamais tirará a esperança de liberdade para todos esses irmãos de cor que vivemo nessa senzala. Ah! Jacobino tua hora vai chegá e tu vai ter qui fazer a prestação de conta e aí sim, nós vamo nos acertá.
Esses eram meus pensamentos enquanto mais uma vez toda senzala assistia a mais uma sova dada por Jacobino em um dos negros que fora reclamar os maus tratos vividos e do abuso do Comendador Mendonça em querer aliciar sua filha.
Coitado do negro Ernestino, depois de 50 chibatadas ficaria por mais uns dez dias naquele tronco exposto ao sol e a chuva sem direito a pão e nem a água levando todo dia um banho de sal nas costas para jamais esquecer a sua ousadia. Quem já viu alguém tirar satisfações com o senhor Comendador! Nem a sua própria esposa a Sinhá Iolanda ele ouvia. Da casa grande a sinhá a tudo via e ouvia sem nada poder fazer, pelo ao menos naquele instante.
Depois daquela cena monstruosa, todos os negros foram dispersos e eu,Negro Firmino,saí dali com mais raiva ainda daquele feitor. E a voz de meus pensamentos gritava: - Ah! Feitor marvado, mestiço atrevido, um dia te pego. Pego sim! E aí ocê vai ver que negro também é gente! De repente escutei junto a mim uma voz suave que me perguntou:
- Meu fio,onde suncê acha que essa raiva vai te levar? Prá um caminho bom é qui num é! Frimino, Frimino doma esse teu gênio e toma tento! Se tu te vingar, vais parar no tronco tombém iguarzinho a Ernestino e como vai ficar nosso povo? Olha nossas crianças, Frimino! Elas precisam de suncê e num é lá do tronco que ocê vai fazer alguma coisa por elas, é?
Então eu disse:
- Quem é que tá falando comigo? De onde vem essa voz?
Foi aí que um clarão se fez ao meu lado e eu vi a das Dor, a Maria das Dores, que houvera morrido no tronco. Ela estava ali formosa, mais jovial e com semblante de muita paz.
Perguntei então: - Das Dor, como é que ocê tá aqui falando comigo se ocê morreu? Eu mesmo junto com os outros te enterrei.
- Ora essa Frimino! Ocês enterraram o corpo, porém ocê esqueceu que o Espírito é imortá? Agora posso ir onde eu quiser aqui no Engenho para ajudar nossos irmãos e o que é melhor, Frimino, feitor nenhum me barra. Frimino meu fio, venho te dizer que tire essas idéias do teu camutué, pois todo esse sofrimento tem uma razão de ser. Nós num sofremo à toa não Frimino e no passado num fumo tão bonzinho assim. Lá em Aruanda, colônia espirituar em que se encontram muitos dos nossos, sempre nos é explicado que nada acontece sem a permissão de Zambi e que tudo que passamos nesse torrão chamado Terra está dentro da lei de causa e efeito.
- Mas qui diacho de lei é essa das Dor, que só dá ganho pro Comendador e prá Jacobino?
- É a lei que vem nos convidar ao ressarcimento dos erros de outrora ,e ao invés de ocê ficar aí praguejando contra eles, vai rogar forças a Pai Ogum e Pai Xangô para que Ernestino suporte com coragem e resignação essa hora de dor. Vai lá no riacho, recolhe água da cachoeira, pega umas palmas de babosa, pisa elas e faz uns ungüentos pra colocar nas costas daquele pobre coitado. Faz uma beberagem da casca da aroeira, do caju roxo e da quixabá e dá pro Ernestino, pois ele ta cum muita dor e a ferida pode infeccionar.
- Mas como Ernestino vai poder tomar isso se ninguém pode se aproximar dele?
-Espera Frimino, a providência divina se fará. Um anjo de luz vai te procurar na calada da noite do lado de fora da senzala para ajudar. A verdadeira valentia não é aquela que afronta, mas é aquela que sabe agir na hora certa, sem ir de encontro à lei maior. Vai Frimino, que o tempo corre.
- Mas das Dor,quando vou te ver de novo?
- Sempre qui eu tiver permissão e trabalho no bem a fazer ou suncê acha que o Espírito vive prá brincar? Conto com ocê Frimino. Agora vou prá junto de quem vai lhe ser de valia.
Mesmo sem querer sair de junto de das Dor, fui fazer o que ela me mandou até porque dispois de nossa conversa ela sumiu. Fiquei do lado de fora da senzala pitando meu cachimbo. A noite já ia alta quando de repente ouvi passos se dirigindo para aquele lugar e uma voz a me chamar:
- Firmino, Firmino! Onde está você?
- Eu estou aqui, respondi.- Quase que caí de susto ao ver a sinhá Iolanda ali.
- Vamos Firmino, Ernestino precisa de nós. Fez tudo o que Maria das Dores lhe orientou?
- Fiz, sim! Mas como é que a sinhá sabe que ela me pediu alguma coisa? A senhora também a viu foi?
- Não Firmino, vê eu não a vi! Porém escutei a voz dela falando comigo e dizendo que você precisaria de minha ajuda para salvar o Ernestino. E aqui estou. Vamos ao trabalho!
- Mas sinhá,o Jacobino deixou os capangas dele vigiando o tronco.
- Não se preocupe, quero ver quem vai desacatar D. Iolanda, a esposa do Comendador Mendonça. Nessa hora Firmino vou me valer dessa minha condição, afinal de contas, também sou senhora aqui.
- E o Comendador sinhá?
- Dorme depois de umas boas taças de Vermouth.
- E quando ele souber?
- Isso é assunto meu, não se preocupe. Vista essa capa e quanto a estar comigo você está cumprindo minhas ordens, pois também exerço direitos sobre você.
Naquela hora vi quanto minha sinhá era realmente um anjo de luz e a um anjo ninguém desobedece e esse negro Firmino estava com minha sinhá para o que desse e viesse.
Ao chegar em frente ao tronco, logo fomos percebidos pelos capatazes que vieram ao nosso encontro, não reconhecendo a sinhá Iolanda.
Ao vê-los, ela disse:
- Desamarrem o negro do tronco, pois vim cuidar dele.
- Senhora Iolanda, não podemos fazer isso. Recebemos ordens do Jacobino de não deixar ninguém mexer nesse negro. Além do mais, o senhor Mendonça não vai gostar de nada disso.
- Realmente - respondeu a sinhá. - O senhor meu marido não vai gostar de saber que vocês afrontaram à senhora desse Engenho, ou será que não perceberam que também mando em vocês? Desamarrem o Ernestino agora! E podem se recolher, pois vocês não acham que ele tem forças suficientes para fugir daqui depois de um tratamento desalmado desses que recebeu?
- E quem é esse que está ao seu lado?
- É o negro Firmino que fui buscar na senzala e está aqui cumprindo minhas ordens. O que vocês estão esperando? Já disse, desamarrem o Ernestino!
- Senhora Iolanda, vamos acatar sua ordem, porém saiba que devemos satisfação a Jacobino e ao Comendador. - Façam como quiserem. Quanto ao comendador cuido eu.
- Vamos Firmino segure o Ernestino para mim e traga-o para a senzala. Lá, numa esteira, cuidaremos dele melhor. Senhores, tenham uma boa noite.- Essas foram às palavras finais de D. Iolanda.
A prática do curandeirismo entre nós era muito comum e isso era do conhecimento de minha sinhá, que inclusive já houvera se curado várias vezes com o uso das ervas. O pobre do Ernestino não conseguia nem falar de tanta dor, só gemia. Ao olhar para a Sinhá Iolanda lágrimas lhe caiam na face.
Ao chegarmos na senzala, deitei o negro na esteira de bruços, antes lhe dei a beberagem e só depois a sinhá começou a limpar suas costas. Utilizou a água do riacho que eu havia recolhido e depois colocou os ungüentos de babosa. Velou ao lado do Ernestino o resto da noite e antes do dia raiar, retornou a Casa Grande. Porém ao se despedir de todos nós, pois os outros negros acordaram com nossa chegada, ela pediu ao Ernestino que ele não desafiasse mais o Comendador, pois morto ele não seria de nenhuma valia. Me pediu ainda para cuidar de seus curativos, trocando os ungüentos e que mandaria da Casa Grande a alimentação necessária para reerguimento dele, pois tinha perdido muito sangue.
- Sinhá como vai ser quando o sol raiar? Quando o Comendador souber? Temo pela senhora.
- Não se preocupe Firmino, a cada dia o seu próprio problema. Além do mais, meu pai estará chegando para me visitar nessa manhã e eu duvido que o senhor meu marido tente algo contra mim.
Pai Firmino do Congo
Mensagem recebida
por Mãe Luzia Nascimento


Pai João das Almas
São muitas as lembranças da minha encarnação como escravo em uma fazenda de café no interior paulista. O som da chibata, os gritos dos feitores que saíam à caça dos escravos fugidos, as amas de leite obrigadas a amamentar os filhos da sinhá. Lembranças pungentes de muito sofrimento. Quando a princesa Izabel assinou a Lei Áurea, eu estava velho e muito doente.
A senzala era o único lugar onde o negro conseguia ser livre. Minha história de vida foi muito triste, mas aprendi muito. O sinhô era um homem muito refinado e não me tratava mal, mas a sinhá era uma mulher muito infeliz. Seu coração cheio de fel não sabia amar. Era temida e detestada. Por muito pouco mandava chicotear os escravos da senzala e o sinhô fazia todas suas vontades. Negrinhos eram afastados das suas mães, velhos escravos iam para o tronco e as escravas caseiras tremiam com as ordens da caprichosa sinhá. Eu não me queixava e jamais cultivei o ódio e a vingança. Alguns escravos odiavam os senhores com todas as forças até à morte. No plano espiritual, continuavam a perseguição perturbando os senhores com a força da magia negra e da vingança. Como é bom ser bom! Como é triste ser mau! Quantas lágrimas e sofrimentos os senhores plantaram através de suas atitudes. No entanto, todos caminharemos para a Eterna Felicidade! O caminho mais sublime é o Amor, mas alguns só evoluem através da Dor!
Eu era forte e jovem, mas quando meu grande amor foi vendido, capricho da sinhá, minha saúde nunca mais foi a mesma. Minha vida mudou bastante e o meu consolo eram as rezas. Jamais cultivei a revolta ou a vingança. Os Orixás me davam a paz e o consolo para suportar as provas daquela encarnação.
Pior que a escravidão os grilhões da maldade e do preconceito. Muito pior que nosso sofrimento era o peso dos pecados daqueles que oprimiam seus irmãos de cor.
No dia 13 de maio, a alforria! No entanto, as lembranças marcaram minha vida para sempre. Foi minha encarnação mais proveitosa. Nessa vida de martírios, cultivei a renúncia e a humildade.
Quando desencarnei, meu grande amor estava à minha espera. A linda escrava que eu amei e foi vendida já estava no Plano Espiritual ansiosa pelo meu retorno. Somos todos irmãos! Somos todos iguais!
Muito tempo se passou e agora estou novamente na Terra. Não como espírito encarnado, mas como pai velho trabalhando nos terreiros de Umbanda. Minha vestimenta astral é a de preto velho. Escolhi essa missão para estar mais perto dos meus filhos de fé. Muitos precisam de libertação, da alforria da paz e da fé. Essa é a missão dos pretos velhos! Conselho, resignação, amor e paz! Limpar com a fumaça do cachimbo os miasmas do mal e da doença.
Aceitei essa tarefa sublime por muito amar a Humanidade. Conheci o sofrimento, a humilhação e a pobreza.
Minha mensagem é de libertação! Filho de fé liberte-se dos grilhões do orgulho e do egoísmo. Se você está sofrendo, não desanime! Confie no Pai Oxalá que tudo vê e tudo sabe! Faça sua parte no aprimoramento espiritual e na reformulação das suas atitudes. Liberte-se das vibrações negativas do desânimo, da tristeza e do pessimismo. Ame a Terra! Colabore para que esse Planeta melhore cada vez mais e seja um grande Lar de Amor! Liberte-se do peso da angústia através do Amor! Perdoe seus inimigos, porque Oxalá é o exemplo de Perdão e Misericórdia!
Desejo que Oxalá o ilumine hoje e sempre! Nascemos para vencer e evoluir! Nascemos para conviver com Amor e tolerância! Somos todos irmãos! Nascemos para cumprir apenas uma passagem! A verdadeira vida é a vida espiritual! 
Pai João das Almas
(Mensagem psicografada por Sandra)

Pai Francisco de Luanda

Noite na senzala. Os escravos amontoam-se pelo chão arranjando-se como podem. Engrácia entra correndo e vai direto até onde Amundê está e o sacode:
- A sinhazinha está chamando, é urgente! - O escravo é conhecido pelas mezinhas e rezas que aplica a todos seus irmãos e o motivo do chamado é justamente esse. O filho de Sinhá Tereza está muito doente. É apenas uma criança de cinco anos e arde em febre há dois dias sem que os médicos chamados na corte consigam faze-la baixar. Sem ter mais a quem recorrer, no desespero próprio das mães, resolveu seguir o conselho de sua escrava de dentro e chamar o africano. Aproveitando a ida de seu marido à cidade, ele jamais concordaria, manda que venha.
Sabendo do que se tratava o homem foi preparado. Levou algumas ervas e um grande vidro com uma garrafada feita por ele e cujos ingredientes não revelava nem sob tortura. Em poucos minutos adentram o quarto do menino e Amundê percebe que precisa agir com presteza. Manda que Engrácia busque água quente para jogar sobre as ervas que trouxe enquanto serve uma boa colherada do remédio ao garoto. Dentro de uma bacia coloca a água pedida e vai colocando as folhagens uma a uma enquanto reza em seu dialeto. Ordena que desnudem a criança e carinhosamente a coloca dentro da bacia passando-lhe as ervas no pequeno corpo.
Nesse instante a porta se abre e surge o Sinhô Aurélio acompanhado do padre da cidade. Tereza grita e corre até o marido desculpando-se. O padre dirige-se a ela com ferocidade:
- Como entrega seu filho a um feiticeiro? - dirigindo-se ao marido - Diga adeus ao menino, após passar por essa sessão de bruxaria ele morrerá sem dúvida! Tereza corre até o filho e o cobre com um cobertor enquanto o marido ordena que o escravo seja levado imediatamente ao tronco onde o capataz aplicará o castigo merecido.
- Engrácia, acorde todos os negros para que vejam o fim que darei ao assassino de meu filho!
Todos reunidos no grande terreiro ouvem a ordem dada ao capataz:
- Chibata até a morte! E vocês - aponta todos os escravos - saibam que darei o mesmo fim a todos que ousarem chegar perto de minha família novamente. As chibatadas são dadas sem piedade, Amundê deixa escapar urros de dor entremeados com rezas o que somente aguça a maldade do capataz. Lágrimas copiosas correm pelas faces de muitos escravos. Após duas horas de intensa agonia o negro entrega sua alma e seu corpo retesa-se no arroubo final, finalmente descansará. O silêncio do momento é cortado por um grito vindo da principal janela da casa grande:
- Aurélio, pelo amor de Deus!!! - é Tereza com o filho nos braços - o menino está curado, a febre cedeu e ele está brincando!
Assim morreu Amundê, hoje trabalha num Terreiro como o velho Pai Francisco de Luanda.
Sua benção, meu pai! Permita que jamais voltemos a ver algo tão perverso em nossa história. 
por Luiz Carlos Pereira

Pai João de Angola - O Inicio da Linha
O balanço do navio ainda enjoava. Não sei o que mais enojava, se era o balanço do navio ou a visão mórbida de tantos corpos de meus confrades empilhados e já sem vida. Se o mau cheiro e a falta de espaço ou ainda os grilhões que nos prendiam.
Triste sorte, quem são estes animais hominídeos que nos amarravam, batia e subjugava.
Zâmbi estaria revoltado conosco? Ou os Orixás se esqueceram de seu povo?
Pensando assim é que muitos dos nossos não puderam se aproveitar da oportunidade em viver a escravidão. Processo este que se por um lado mancha a história da humanidade, por outro, “lavou a alma” de milhares de espíritos que na carne sentiu o gosto amargo da prestação de contas com o Criador.
Todos sabem que quando os africanos foram escravizados, a Igreja logo tratou de justificar isso, tirando nossa alma, assim fizeram com nossos irmãos indígenas. Claro, é mais fácil arrancar-lhe a alma ao ter que conviver com a consciência.
Não vou aqui estender aos interesses dos colonizadores ou acusa-los. Vou tentar mostrar o lado bom desta sangrenta moeda.
Acontece que na Mãe África as coisas não iam tão bem quanto parece nos contos. Nosso povo era bem desenvolvido, no entanto totalmente dirigido pelo mito, este que ditava nossas diretrizes ou nele é que justificávamos nossos atos. Atos estes nada bons.
É certo que o homem tem necessidade de conquista e expansão. Diferentemente dos índios, nos digladiávamos em busca de riquezas e poderio, o que é pior, justificando como vontade dos Orixás, foi assim que a tribo de Ogum, formado por homens geneticamente mais avantajados pontificou este Orixá como o Senhor das Guerras e da Milícia....
Neste sentido o povo africano estava se distanciando da vida natural ou da conservação da vida, não foi diferente com nossos irmãos ocidentais que jogaram a culpa em Jesus e saíram conquistando terras pela lâmina da espada, bem, mas isso é dívida deles.
Com a escravidão, nós tivemos a oportunidade de nos reconhecer como semelhantes, uma vez que a rincha em tribos era feroz. Subjugados tivemos tempo para pensar em nossos atos, fazer brotar a humildade, simplicidade, resignação e principalmente o amor á vida. Todavia, para os companheiros que chegaram nesta conclusão entendo que cumpriu com o propósito Divino, porém não foi simples assim, muitos outros milhares caíram no ódio, vingança e toda sorte de sentimentos contrários a evolução necessária.
Perdoar o seu algoz talvez seja a chave mais certa para a iluminação!Sabedoria, eis o que simboliza a Linha dos Pretos Velhos, mas saiba leitor, esta sabedoria só existe pela vivência, por experiência, não se compra não se lê, simplesmente vive.
Humildade, sentimento este simples de entender. Se coloque como parte do meio que você vive. Ao invés de querer ser expoente, ou líder, ou coisa do tipo, procure somar, contribuir para solidificar. Veja o Brasil, a fama da construção deste país recai nos ombros dos Europeus que casa alguma teria erguido sem os braços negros do nosso povo. A meu ver mais vale o que é concreto do que é falácia.
Já no Astral o povo africano que tinha se redimido de seus débitos milenares, e já com a “alma lavada” foi convocado por Oxalá a formar a linha de trabalho espiritual em auxílio dos encarnados, surge assim a linha de Preto Velho, onde se assentou os nativos africanos, que pontificava paralelamente com as linhas de Caboclo, enquanto os índios traziam a jovialidade, determinação e pureza natural, nós contribuiríamos com o culto aos Orixás, bem organizado. Com a experiência do ancião e a mandinga que cura e afasta todo mal.
Desta forma iniciava um entrosamento perfeito e renovado no Astral que sustenta tantos encarnados nas mais variadas religiões.
Assim é o arquétipo da linha dos africanos, baseado no ancião, no simples e sábio.
Estamos à disposição daqueles que apesar do coração oprimido ainda se permite acreditar sem perder a fé e a esperança, levar graça aos desgraçados, amor aos desiludidos.
Mantemos o rótulo do velho arcado, para que assim possamos nos aproximar dos amedrontados, pois se a primeira vista não apresentamos perigo, rapidamente sentam em nosso colo.
Somos os Pais Velhos, Preto Velho, Africano, Saravá o Orixá!

Ditado por Pai João de Angola.
R. Queiroz

Pai Joaquim de Angola
São muitos os mistérios que envolvem o povo, as linhas, o universo da nossa Umbanda querida.
Grandes figuras entremeiam com a corda da humanidade, uma desta figura é o grande Preto-velho pai Manoel Joaquim de Angola, que baixa nos terreiros levando sua missão de amor e esse amor é tão grande que ninguém para tentar desvendar quem foi esta lendária figura entre os Pretos Velhos de Umbanda.
Pai Joaquim ou Iquemí foi um negro forte, guerreiro, filho prometido de uma família real africana, oriunda de angola, áfrica para reinar junto ao seu povo.
Iquemí era um príncipe majestoso, amava sua liberdade, seus amores, um legitimo filho do orixá Xangô.
Mas entre guerra de brigar pelo poder, Iquemí foi aprisionado por uma tribo inimiga que o entregaram aos mercadores brancos.
Iquemí o grande guerreiro, príncipe de sua tribo estava em desespero, preso como um animal, veio no porão de um navio aos gritos de desespero dos seus inimigos de cor.
O mercador de escravo, dono do navio aonde vinha Iquemí, soube do destaque de ter um príncipe entre os outros escravos, observou o seu porte, sua beleza, seus dentes perfeitos e seu corpo músculos, mas viu nos seus olhos que não se submeteria aos maus tratos em se tornar um escravo.
O mercador de escravos chamava-se Manoel Joaquim, nascido em Lisboa decidiu ficar com Iquemí na sua fazenda nas terras da bahia.
Assim Iquemí chegou a Bahia foi para a fazenda do mercador.
Mas Iquemí não aceitava ser escravo, o mercador se afeiçoou de Iquemí devido a sua valentia, sua força e destaque entre os negros, mal sabia que sobre a luz do espiritismo ambos eram almas afins unidos pelo destino.
Iquemí foi conquistando a amizade do senhor Manoel Joaquim, que só teve um filho que morreu cedo com apeste, gostava de Iquemí como de um filho e um dia lhe disse:
- Negro, tu não tens um nome, um nome verdadeiro, um nome onde vais ser conhecido, vou pensar como te chamar.
O mercador adoeceu seriamente, antes de morrer batiza Iquemí de Manoel Joaquim de Luanda, um pedido de Iquemí.
Sua fama correu terras, envelhecendo se tornou pai de todos.
Pai Manoel Joaquim de Luanda ( Pai Joaquim d’Angola) seu papel na escravidão foi importantíssimo, promovia a paz entre seus irmãos de cor. Bondoso, um verdadeiro cristão, Pai Joaquim recebeu seu primeiro chapéu de palha, dado por bispo da igreja local quando sua cabeça já era toda branquinha. Sofreu muito no cativeiro, mas jamais esqueceu sua grande e velha mãe África.


Luiz Roberto

Mensagem de Preto Velho

Trabalho na linha de pretos velhos com esta maravilhosa entidade.
Um certo dia, ele atendeu de uma senhora que lhe veio consultar sobre um tumor nos seios, diagnosticado por uma mamografia.

Passes daqui, trabalhos dali, enfim, uma consulta normal…vela, erva, água…
Disse o preto:
- É mizim fia… Tá feito…mas num deixa de procurá o Homi de branco, dispois vem contá pro nego…nego vai ficá no toco esperando cunce vortá…

E saiu a consulente.

Numa próxima gira, estava lá o preto no toco e chegou a sua consulente, já na segunda parte do trabalho.

- Podi entrá mi zim fia, tava le esperano….

- É meu Velho, fui no médico sim…ele disse que o tumor sumiu, vai ver foi engano, o que a mamografia mostrou foi uma sombra de um queloide, que eu já tinha de cirurgia anterior. mas vim lhe agradecer, pois sei que o Senhor me curou..
Diga, meu Pai, o que o Senhor quer de presente, quero lhe agradecer…

Em nossa casa, as entidades as vezes ganham presentes, charutos, bebidas, mas não que peçam, porque as pessoas trazem em agradecimento mesmo, como deve ser em todo lugar.

Mas naquele dia o preto pediu…

- Me traga um bolo de chocolate, mi zi fia, suncê pode faze isso…?? Mais tem qui ser na proxima gira…eu num vô tá aqui, mas fala co caboclo chefe que ele manda mi chamá….

Todos estranharam, e eu mais ainda, passei a semana pensando naquele pedido, eu que amo bolo de chocolate, pensava comigo, Meu Velho…porque um bolo, Meu Pai…Até os filhos da casa acharam estranho e houve uma brincadeira ou outra…do tipo achando que iam comer o bolo….Alguém arriscou dizer que era a comemoração pela cura da mulher… Enfim…esperei ansiosa…Afinal…confio neles.

Em verdade torci para a mulher nem aparecer com aquele bolo…
Mas ela apareceu, e sentou na primeira fila, com o tal bolo, todo confeitado de confetes coloridos.

Chegou o preto, com autorização do chefe do terreiro, que é Seu Serra Negra….

- Trouxe meu bolo, mi zim fia…
- Trouxe meu velho…

Então o preto levantou e disse que na assistencia tinha uma menina, de cor morena, que estava fazendo aniversario, 14 anos, e chamou-a.
Disse à menina:

- Mi zim fia, esse é presente que sunce pediu ao seu anjo da guarda, ele não pode vir, mandou o nego te entregar…

A criança marejou os olhos e saiu com o bolo na mão, sentar ao lado da mãe, que chorava muito na assitencia. Em 14 anos, nunca havia ganhado um bolo de chocolate….Nunca mais voltou, nunca mais vimos. E nunca esquecemos esta história.

Autor Desconhecido 
 
Faz Caridade fio, faz caridade fio!

 Assim era as fala do negro Ambrósio através do aparelho mediúnico que lhe servia de canal para fazer proseador.
Não era a primeira que aquele consulente ouvia esse conselho do Pai Velho, já havia se passados oito meses desde o primeiro dia que aquele senhor tinha adentrado ao terreiro, passando a fazer parte da assistência, sempre voltando ao negro Ambrósio para tirar suas duvidas.
Naquele dia ele estava decidido. Iria perguntar ao Velho
porque toda vez que falava com ele escutava o mesmo conselho? Será
que como espírito não estava vendo que ele já estava fazendo
sua parte?
Esperou ansioso a sua vez. Aquela noite seria especial, seria diferente das outras, aquele encontro marcaria uma nova etapa no caminhar daquele senhor. 
Como sempre fazia, mais por repetição do que mesmo por convicção, se ajoelhou diante do negro Ambrósio e foi dizendo: 
- Benção vô Ambrósio, hoje venho lhe pedir uma explicação para melhor entender o que o senhor me diz.
 - Oxalá te abençoe meu fio! Negro Ambrósio fica feliz com sua presença e gosta de fazer proseador com todos os fios que aqui vem.
 - Meu vô, como o senhor mesmo sabe já faz algum tempo que venho a essa casa e falo com o senhor. Como já lhe disse não tenho uma situação financeira ruim, ao contrário, nunca tive problemas dessa ordem o que sempre me facilitou uma vida com fartura e bem-estar
desde a infância.
 - Certo meu fio, negro Ambrósio já tem cunhecimento de tudo isso que suncê falou.
 - É meu vô, por essa razão gostaria de lhe perguntar porque o senhor toda vez que fala comigo me aconselha a fazer a caridade? O senhor não já sabe que faço isso todo mês entregando gêneros alimentícios aos que estão carentes? Além do que, na minha empresa mantenho uma creche para os filhos dos meus empregados para que assim possam trabalhar com mais tranqüilidade.
Por isso gostaria que me explicasse o porquê desse conselho, dentro da minha consciência cumpro com meu compromisso.
 - É verdade meu fio, tudo isso que suncê falou pra negro veio, faz parte de seu compromisso e fio cumpre direitinho sua parte.
Porém fio esse compromisso faz parte de seu social. Suncê alimenta o corpo material que precisa de sustentação pra ficar de pé, pois se não for assim fio tem prejuízo, só que o fio também precisa distribuir o pão espiritual e assim fazer a caridade.
 - Não entendi meu vô seja mais claro? Que caridade espiritual é essa?
 - É a mesma que esse meu aparelhinho faz aqui no terreiro.
Suncê precisa assumir sua condição de médium.
 Espantado, disse o senhor: como é que é vô Ambrósio o senhor está me dizendo que tenho compromisso com a mediunidade na Umbanda é isso?
 - É isso sim, meu fio. Suncê tem compromisso com essa banda.
 Ante as muitas verdades que ele já tinha ouvido, nunca uma afirmação estava tanto a lhe remoer a alma. Como seria possível?
Achava bonito a Umbanda, gostava do cheiro das ervas e do cachimbo dos vôs, mais daí então a ser médium era demais para ele. 
Mesmo de forma acanhada buscando aparentar tranqüilidade aquele senhor disse ao vô: 
- Meu vô acho que há um equívoco, pois nunca senti nada a respeito da mediunidade.
 - Num sentiu porque se prende e que não quer dizer ou suncê acha que nego veio não vê o companheiro de Aruanda que lhe acompanha e que hoje está dando autorização pra fazer esse conversado? Meu fio diz que gosta do cheiro das ervas e desse terreiro
- o que é uma verdade – mas o que fio não se vê é dobrando o corpo para prestar a caridade, deixando assim que seu Pai Preto também lhe traga lições para seu caminhar. Então meu fio, enquanto suncê não entender, nego veio vai continuar repetindo o conselho: faz caridade fio, faz caridade fio! Mesmo que tenha que arrepetir isso por muitas veis, pois água mole em pedra dura fio,
tanto bate inté que fura. Olha fio! Eu tenho um compromisso moral com esse companheiro de Aruanda que te acompanha e te agaranto que não será de minha parte que não será cumprido. Pensa no que esse veio te falou e dispôs vem prosear novamente, pois o passo de veio é miudinho e devagarzinho, só tem uma coisa fio: o tempo corre e espero que suncê queira aproveitar enquanto tá desse lado de cá!
 Aquele senhor se levantou da frente de negro Ambrósio sem dizer mais nenhuma palavra, seria preciso tempo para digerir tudo que ele tinha ouvido.
 Oito meses se passaram depois daquela prosa, ninguém no terreiro tinha visto novamente aquele senhor na assistência. 
Era 13 de maio, gira festiva de preto velho, os trabalhos tinham se iniciado. Negro Ambrósio olhava para a porteira do terreiro como se estivesse a esperar por alguém e assim cantarolava “acorda cedo meu fio, se com velho quer caminhar, olha que a estrada é longa e velho caminha devagar, é devagar, é devagarinho quem anda com preto velho nunca ficou no caminho”. Acostumados com a curimba os filhos da corrente repetiam os versos sem perceber que naquele dia a entonação estava mais dolente. Mais um filho de Zambi venceria uma etapa, mais um seria libertado.
 E foi olhando para a porteira que negro Ambrósio viu aquele senhor adentrar no terreiro, com os olhos rasos d’água e de joelhos se postar assim dizendo: Vô Ambrósio se é verdade que tenho essa tal mediunidade aqui estou para aprender a fazer caridade, nesses 8 meses minha vida perdeu a alegria, relutei muito para chegar aqui novamente e não nego que fugi por vergonha se ainda houver tempo… 
Aquele senhor nem chegou a ouvir a resposta do negro Ambrósio. Do seu lado já se encontrava um negro que de forma doce e amorosa assim falou: Meu fio a quanto tempo espero por esse momento, por esse reencontro. Vamos trabaiá meu fio nas bênçãos de Zambi e na fé de Oxalá!
 Diante dos filhos daquela corrente, aquele homem branco, de olhos claros, quase translúcidos, alto, dava passagem nesse momento a mais um preto velho e foi curvando aquele corpo que se ouviu a voz da entidade assim dizer: Bendito e louvado sejam o nome de nosso Pai Oxalá! Saravá negro Ambrósio! Pai Joaquim das Almas se faz presente nesse Gongá!
 - Saravá Pai Joaquim!
 E daquele dia em diante mais um filho começava a sua caminhada. Mais um chegava a corrente da casa. Mais uma estrela passou a brilhar nos céus de Aruanda!
 Saravá Preto Velho!!!
A.D.

 Vovó Maria Conga
Cenas de exaustivo trabalho em plantações de cana. É nisso que Vovó Maria Conga parece estar constantemente envolvida. Gosta de doces, cocada branca em especial, mas não dá demonstrações de ter sido esta sua principal ocupação na encarnação como escrava.
Sentada em um toco de madeira no terreiro contou, certa vez, alguns fatos de sua vida em terra brasileira.
Começou dizendo que só o fato de podermos conviver com nossos filhos é uma grande dádiva. Naquele tempo as negras eram destinadas, entre outras coisas, a procriar, a gerar filhos que delas eram afastados muito cedo, até mesmo antes de serem desmamados. Outras negras alimentavam sua cria, assim como tantos outros "filhotes" foram alimentados pela Mãe Conga. Quase todas as mulheres escravas se transformavam em mães; cuidavam das crianças que chegavam à fazenda, rezando para que seus próprios filhos também encontrassem alento aonde quer que estivessem.
Os orixás africanos, desempenhavam papel fundamental nesta época. Diferentes nações africanas que antes guerreavam, foram obrigadas a se unir na defesa da raça e todos os orixás passaram a trabalhar para todo o povo negro. As mães tomavam conhecimento do destino de seus filhos através das mensagens dos orixás. Eram eles que pediam oferendas em momentos difíceis e era a eles que todos recorriam para afastar a dor.
Maria Conga teve que se utilizar de algumas "mirongas" para deixar de ser uma reprodutora, e assim, pelo fato de ainda ser uma mulher forte, restou-lhe a plantação de cana. A colheita era sempre motivo para muito trabalho e uma espécie de algazarra contagiava o lugar. Enquanto as mulheres cortavam a cana, as crianças, em total rebuliço, arrumavam os fardos para que os homens os carregassem até o local indicado pelo feitor. Foi numa dessas ocasiões que Maria Conga soube que um dos seus filhos, afastado dela quando já sabia andar e falar, era homem forte, trabalhando numa fazenda próxima.
Seu coração transbordou de alegria e nada poderia dissuadi-la da idéia de revê-lo. Passou então a escapar da fazenda, correndo de sol a sol, para admirar a beleza daquele forte negro. Nas primeiras vezes não teve meios de falar com ele, mas os orixás ouviram suas súplicas e não tardou para que os dois pudessem se abraçar e derramar as lágrimas por tanto tempo contidas. Parecia a ela que eles nunca tinham se afastado, pois o amor os mantivera unidos por todo o tempo.
Certa tarde, quase chegando na senzala, a negra foi descoberta. Apanhou bastante, mas não deixou de escapar novamente para reencontrar seu filho. Mais uma vez os brancos a pegaram na fuga, e como ela ainda insistisse uma terceira vez resolveram encerrar a questão: queimaram sua perna direita, um pouco acima da canela, para que ela não mais pudesse correr.
Impossibilitada de ver o filho, com menor capacidade de trabalho, a Vó Maria Conga passou a cuidar das crianças negras e de seus doentes. Seu coração se encheu de tristeza ao saber que haviam matado seu filho quando tentava fugir para vê-la.Sua vida mudou. De alegre e tagarela passou a ser muito séria, cuidando do que falava até mesmo com os outros negros. Para as crianças contava histórias de reis negros em terras negras, onde não havia outro senhor. Sábia, experiente e calada, Vovó Maria Conga desencarnou.
Com lágrimas na alma ela acabou seu conto. Disse que só entendeu a medida do amor após a sua morte. Seu filho a esperava sorrindo, guardião que fora da mãe o tempo todo em que aguardava seu retorno ao mundo dos espíritos. 


Maria Cristina Mendes


SETA- Boiadeiro

 BOIADEIRO
  
A gira dos boiadeiros é quase sempre uma extensão da gira de caboclos.
Caracteriza-se pelo ineditismo de “pé de dança”, numa coreografia intrincada de passos rápidos e ágeis, surpreendentemente máscula, que mais parece de um dançarino mímico, liderando bravamente com um boi bravo (ou uma boiada) invisível.
Os médiuns do terreiro, desejando agradar a entidade sertaneja, paramentam-se com roupas próprias do personagem: gibão ou avental de couro, chapéu de vaqueiro e uma corda (“corda de laçar meu boi”) que será usada em movimentos giratórios acima da cabeça do laçador.
Assim, ficas à disposição do “amigo leal” que logo chegará, via mediúnica, com seus trejeitos, fumando seu indefectível cigarro de palha ou charuto, falando e cantando num tosco linguajar de homem do interior, além de muita jovialidade para com os encarnado.
Seu cantório enaltece os Orixás, dizem da sua camaradagem com os Caboclos, falam de Jesus e Nossa Senhora com respeito e carinho, do catolicismo colonial, lembram o “cálice bento e a hóstia consagrada”, mas a toada de sempre é sobre os verdes campos, a boiada, o cavalo baio, seu amor ao Brasil, os vícios e predileções - beber, fumar, namorar, o samba rasgado. Improvisam versos ou repetem os mais de duzentos já publicados e conhecidos pelos freqüentadores que se divertem com os ditos espirituosos, embasbacados pela prodigiosa memória do cantador sobrenatural. Em cima disso tudo, percebe-se claramente a religiosidade ingênua, prosaica, mas prudente reconhecimento de si mesmo ante a atuação viva de um Ser maior.

PRATOS E BEBIDAS A OFERECER AOS BOIADEIROS

Tutu à mineira, carne de sol, farofa, churrasco, frutas
Bebidas: Cerveja branca, pinga, vinho tinto, chá preto, pinga com mel.

SAUDAÇÃO
Xetroá Boiadeiro
Xetroá Cubajé
Xetrô Murrumbaxêtro

Sua Guia: com contas amarelas, brancas, olho de boi, olho de cabra, etc. Poderá também trazer um crucifixo.
Vela: amarela, branca, amarela/preta

São espíritos de pessoas, que em vida trabalharam com o gado, em fazendas por todo o Brasil, estas entidades trabalham da mesma forma que os Caboclos nas sessões de Umbanda. Usam de canções antigas, que expressam o trabalho com o gado e a vida simples das fazendas, nos ensinando a força que o trabalho tem e passando, como ensinamento, que o principal elemento da sua magia é a força de vontade, fazendo assim que consigamos uma vida melhor e farta. Nos seus trabalhos usam de velas, pontos riscados e rezas fortes para todos os fins. O Boiadeiro traz o seu sangue quente do sertão, e o cheiro de carne queimada pelo sol das grandes caminhadas sempre tocando seu berrante para guiar o seu gado. Eles são logo reconhecidos pela forma diferente de dançar, tem uma coreografia intricada de passos rápidos e ágeis, que mais parece um dançarino mímico, lidando bravamente com os bois.

Seu dia é quinta feira, gosta de bebida forte como por exemplo cachaça com mel de abelha, que eles chamam de meladinha, mas também tomam cerveja e os caboclo boiadeiros bebem vinho. Fumam cigarro, cigarro de palha e charutos. Seu prato preferido é carne de boi com feijão tropeiro, feito com feijão de corda ou feijão cavalo. Boiadeiro também gosta muito de abóbora com farofa de torresmo. Em oferendas é sempre bom colocar um pedaço de fumo de rolo e cigarro de palha. No Terreiro os Boiadeiros vêm “descendo em seus aparelhos” como estivessem laçando seu gado, dançando, bradando, enfim, criando seu ambiente de trabalho e vibração. Com seus chicotes e laços vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e as pessoas da assistência. Os fortalecendo dentro da mediunidade, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, assim como os Exus. Alguns usam chapéus de boiadeiro, laços, jalecos de couro, calças de bombachas, e tem alguns, que até tocam berrantes em seus trabalhos.

POVO BOIADEIRO
 
Os Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai. Os Boiadeiros representam a própria essência da miscigenação do povo brasileiro: nossos costumes, crendices, superstições e fé. Ao amanhecer o dia, o Boiadeiro arrumava seu cavalo e levava seu gado para o pasto, somente voltava com o cair da tarde, trazendo o gado de volta para o curral. Nas caminhadas tocava seu berrante e sua viola cantando sempre uma modinha para sua amada, que ficava na janela do sobrado, pois os grandes donos das fazendas não permitiam a mistura de empregados com a patroa. É tal e qual se poderia presenciar do homem rude do campo.
Durante o dia debaixo do calor intenso do sol ele segue, tocando a boiada, marcando seu gados e território. À noite ao voltar para casa, o churrasco com os amigos e a família, um bom papo, ponteado por um gole de aguardente e um bom palheiro, e nas festas muita alegria, nas danças e comemorações. Sofreram preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem.
Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião (posteriormente misturada com a do índio e a do negro) e sua língua, entre outras coisas.Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam a humildade, os Boiadeiros representam a força de vontade, a liberdade e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande. O caboclo boiadeiro está ligado com a imagem do peão boiadeiro - habilidoso, valente e de muita força física. Vem sempre gritando e agitando os braços como se possuísse na mão, um laço laço para laçar um novilho. Sua dança simboliza o peão sobre o cavalo a andar nas pastagens. Enquanto os “caboclos índios” são quase sempre sisudos e de poucas palavras, é possível encontrar alguns boiadeiros sorridentes e conversadores. Os Boiadeiros vêm dentro da 7ª linha (Linha mista). Mas também são regidos por Iansã, tendo recebido da mesma a autoridade de conduzir os eguns da mesma forma que conduziam sua boiada quando encarnados. Levam cada boi (espírito) para seu destino, e trazem os bois que se desgarram (obsessores, quiumbas, etc.) de volta ao caminho do resto da boiada (o caminho do bem).

 


Boiadeiros... uma história
A força econômica do Brasil Colônia residiu em muito nos engenhos produtores de álcool e de açúcar, utilizando a força animal; do boi por excelência, equivalente nos dias de hoje ao indispensável motor elétrico.
Para cuidar das boiadas e de outros animais do pasto, nasceu dessa atividade um tipo caracteristico conhecido pelo nome de Carreiro ou Boiadeiros.
O Boiadeiro é antes de tudo um homem forte, másculo, jovial, ingênuo, respeitador, valente, namorador, sincero, companheiro, resistente, trabalhador e muito festeiro. Suas propriedades se restringem ao cavalo de sua predileção, a sua rede tarimba de capim seco, um céu cheio de estrelas e uma viola dependurada na parede da taipa, testemunha plangente dos ardores e dos cantares.
Freguês acatado dos alambiques de todas as religiões, sua “prova” é disputada e, de acordo com seu gosto, garante a fama da cachaça local;.
Sua exclamação “arre égua” complementada pelo “esta é boa!”, é selo de qualidade, daí passa para a mistura de mel e gotas de limão e, lambendo os beiços, esperto se despede:
“Adeus, meu camarada, até de repente, até outro dia, até outra hora...”
É contumaz tocador de viola, compulsivo dançador, cantador, súbito nos repentes, sem contar com chistes e provocações certeiras, maliciosas, mas sem dano maior à responsabilidade de quem quer que seja. Sua prenda maior, além da “menina do sobrado”, é ser amigo de todos, bornal sempre aberto a qualquer camarada que precise da rapadura, do jabá, da farinha e do imprescindível cigarro de palha.
Não se ilude com a posse das boiadas, das fazendas e estâncias do patrãozinho terreno. Sabe perfeitamente que dono definitivo é Zambi, Vaqueiro-mór, proprietário de tudo que existe na terra e no céu.
Desencarnado, aprendeu com a religião de Umbanda muitas coisas...
Hoje, num passe miraculoso, sai da campina astral e manifesta-se nos milhares de Terreiros, levando para todos energia e orgulho pátrio. Mas também vê com tristeza que os “bóias-frias”, os “sem terra” explorados, espoliados, são parte de sua família, são manadas de almas à mercê dos latifúndios, multinacionais impiedosos, na gana de imperializar os bens produtivos de terra, bem comum de todos os brasileiros.


fonte: www.boiadeirorei.com.br

Ô BOI
 
No decorrer da gira, o chefe do terreiro diz:
- “Xetuá Boiadeiro!”.
O Ogã prepara a mão e a solta no couro do atabaque e canta:
Me chamam de Boiadeiro
Não sou Boiadeiro não
Eu sou laçador de gado
Boiadeiro é meu patrão
Xetruá, Xetruá, Xetruá

O corpo começa a estremecer, o coração bate mais forte e a força, coragem, determinação, sabedoria, seriedade e alegria tomam conta do mental e do emocional do médium que rapidamente gira, começando a dançar e a movimentar seu chicote, ao gritar “Ô! Boi”, a demonstrar o vigor e a força do Boiadeiro agora em terra.
O plano astral inferior estremece não se tem mais como escapar do laço do Boiadeiro que rapidamente envolve todos os seres negativos que perturba o médium e a Casa Santa.
Com amparo de Oxossi, Ogum e Iansã, o boiadeiro encaminha todos esses malfeitores ao domínio da Lei, onde serão refreados e redirecionados para cumprimento da Lei com a grande oportunidade de Evolução, demonstrando um grande trabalho de caridade e principalmente de amor ao próximo.
Os Boiadeiros são entidades que representam a natureza desbravadora, romântica, simples e persistente do homem do sertão, “o caboclo sertanejo”. São os Vaqueiros, Boiadeiros, Laçadores, Peões, Tocadores de Viola. O mestiço Brasileiro, filho de branco com índio, índio com negro e assim vai.
Sofreram preconceitos, como os “sem raça”, sem definição de sua origem. Ganhando a terra do sertão com seu trabalho e luta, mas respeitando a natureza e aprendendo, um pouco com o índio: suas ervas, plantas e curas; e um pouco do negro: seus Orixás, mirongas e feitiços; e um pouco do branco: sua religião, falam de Jesus e de Nossa Senhora com respeito e carinho.
Os boiadeiros já conviveram mais com a modernidade, com a invenção da roda, do ferro, das armas de fogo e com a prática da magia na terra, e esse ponto nos ajudam muito para diferenciarmos dos caboclos, que foram povos primitivos.
De um modo geral, os Boiadeiros usam chapéu de couro com abas largas (para proteger-lhe do sol forte), calças arregaçadas e movimenta-se muito rápido. O chicote e o laço são suas "armas espirituais", verdadeiros Mistérios, e com eles vão quebrando as energias negativas e descarregando os médiuns, o terreiro e os onsulentes. A corda é usada com sabedoria para laçar o "boi brabo", ou para “pegar aquele que se afasta da boiada”, ou ainda usada para “derrubar o boi para abate”. Dentro do campo mediúnico, os boiadeiros fortalecem o médium, abrindo as portas para a entrada dos outros guias e tornando-se grandes protetores, como os Exus.
Dá mesma maneira que os Pretos-Velhos representam à humildade, os Boiadeiros representam à liberdade, o vigor e a determinação que existe no homem do campo e a sua necessidade de conviver com a natureza e os animais, sempre de maneira simples, mas com uma força e fé muito grande.
Salve os Boiadeiros! Xetuá!

Texto adaptado
Original de Marco Caraccio


LENDAS E HISTÓTIAS DE BOIADEIRO

 Boiadeiro Tobias 
Tobias, boiadeiro sorridente, mulato alto, forte, filho de Oxóssi, galante com as damas e camarada com os homens.

O Tobias era boiadeiro na região do Pantanal e aprendeu com um índio velho a usar as ervas.

Ele era o responsável pela saúde da comitiva, dos animais e dos seus companheiros de viagem.

Ele sempre diz que no meio do mato, se alguém ficasse doente ou fosse picado por cobra, não teria tempo de chegar à cidade mais próxima e consultar um médico, que além de raros, eram também CAROS!

Então, lá estava o Tobias, que entrava no mato e achava sempre a erva certa, a casca de árvore necessária, o cogumelo não venenoso, a raiz forte para preparar chás, poções, beberagens, emplastros, até mesmo colocar uns ossos no lugar ou de vez em quando consertar um coração partido...

O Tobias era jovem, forte, corajoso e bem disposto e quando tinha chance, também era namorador!

SETA - Baiano

 BAIANO


O povo baiano, pertencente à 7ª linha da Umbanda, é uma corrente de espíritos falecidos no Nordeste do Brasil, principalmente na Bahia, bastante conhecida e disseminada, pois pouquíssimas tendas não lidam com ela. A explicação é a de que, sendo a Umbanda uma religião baseada na mediunidade sua finalidade é a de oferecer campo e ambiente para a manifestação de todo tipo de espíritos. Como no astral os irmãos desencarnados, a exemplo do que acontece aqui, se agrupam por afinidade, também se manifestam e vêm em turma.
São incorporados para trabalhos de orientação, curas, conselhos, desenvolvimento, desmanche de trabalhos de magia e outros. Ultimamente começaram a aparecer espíritos famosos como Lampião, Maria Bonita, Corisco, Volta Seca e outros que foram cangaceiros e são utilizados para o bem ou para o mal. Como na Umbanda não se faz o mal, eles somente fazem o bem.
É fácil reconhecê-los quando baixados, pois, deles ouve-se frequentemente a exclamação “Oxente!”, muito usada pelo pessoal do nordeste.
Em dias de giras de baiano, geralmente os terreiros são enfeitados com folhas de coqueiros e flores amarelas.

Sua Guia: As guias a eles referentes são feitas com contas amarelas, coquinhos, frutos e sementes de plantas do Nordeste.
Sua Bebida: Gostam de beber batida de coco, aguardente pura e água de coco. Geralmente os baianos fumam cigarros de palha.
Sua Comida: As comidas oferecidas aos baianos geralmente são farofa, carne seca, cuscuz, rapadura e doces feitos com coco.
Velas: amarela, branca, amarela/preta
Saudação: Xetroá Bahia!
Local para entregas: pé de coqueiros



 MANIFESTAÇÃO DOS BAIANOS EM TERREIROS PAULISTAS

Nas décadas de 50 e 60, ao mesmo tempo em que a Umbanda se firmava em São Paulo, via-se crescer o fluxo migratório do Nordeste; esse grande êxodo acabou por transformar a cidade em uma das maiores metrópoles do mundo. Nesse grande fluxo destacaram-se os nordestinos, que vieram para trabalhar na Construção Civil e na Indústria Automobilística, então em grande expansão.
Popularmente, na cidade de São Paulo o nordestino sempre foi associado ao trabalho duro, pobreza e analfabetismo, restando a ele os bairros mais periféricos e as regiões mais precárias para morar.
Com todos os problemas decorrentes do exagerado crescimento populacional, sempre se buscou um “culpado”, todos sempre se voltaram contra o “intruso”, o “cabeça chata”, o ignorante nordestino.
Em São Paulo, assim como todo oriental é rotulado de “japonês”, todo nordestino é pejorativamente chamado de “baiano”, com todo caráter negativo que se tornou inerente a essa expressão.
Surpreendentemente, nos Terreiros de Umbanda paulistas o Baiano conseguiu alcançar grande popularidade. Como a Umbanda sempre caracterizou-se por abrigar Espíritos de diversas correntes, essas Entidades Nordestinas foram sempre muito bem acolhidas. O caráter de luta e irreverência do nordestino migrante parece ter sido o fator mais importante para sua aceitação dentro dos Terreiros.
Durante as giras sempre dão demonstrações de intensa alegria, apresentando fortes traços regionais, usando chapéus de couro ou palha, lembrando os Cangaceiros. Com seu jeito valente, não levam desaforo para casa. Por outro lado, possuem também características de pacientes, e todos gostam de ouvir seus conselhos. Costumam ser também carinhosos, e passam sempre segurança.
Essas diferenças de comportamento podem ser observadas em regiões distintas da cidade; enquanto num Terreiro de um bairro mais periférico observa-se uma incorporação de Baiano com características mais duras, em que parecem ser mais briguentos e falam muito alto, em um Terreiro localizado em um bairro de classe média a incorporação de Baiano é mais mansa e a Entidade manipula essências aromáticas, ervas, flores e velas coloridas. Sob esse aspecto, podemos observar que tudo vai depender da forma de trabalho do chefe da casa e de seus médiuns.
Apesar das diferenças, todos têm em comum a popularidade. São muito queridos e fazem sucesso em realidades sociais distintas. 
"Resumo do resumo"


Lendas e Histórias - Baianos


 Um dia desses...
Um dia desses, passeando por Aruanda, escutei um conto muito interessante. Uma história sobre o encontro de Zé Pelintra com Lampião...
Dizem que tudo começou quando Zé Pelintra, malandro descolado na vida, tentou aproximar - se de Maria Bonita, pois a achava uma mulher muito atraente e forte, como ele gostava. Virgulino, ou melhor, Lampião, não gostou nada da história e veio tirar satisfação com o Zé:
_Então você é o tal do Zé Pelintra? Olha aqui cabra, devia te encher de bala, mas não adianta...Tamo tudo morto já! Mas escuta bem, se tu mexer com a Maria Bonita de novo, vou dá um jeito de te mandar pro inferno...
_Inferno? Hahahaha, eu entro e saiu de lá toda hora, num vai ser novidade nenhuma pra mim!_ respondeu o malandro _ Além do mais, eu nem sabia que a gracinha da "Maria" tinha um "esposo"! Então é por isso que ela vive a me esnobar!
_Gracinha? Olha aqui cabra safado, tu dobre a língua pra falar dela, se não tu vai conhecer quem é Lampião! _ disse Virgulino puxando a peixeira, já que não era e nunca seria, um homem de muita paciência.
_Que isso homem, tá me ameaçando? Você acha que aqui tem bobo?_ e Zé Pelintra estralou os dedos, surgindo toda uma falange de espíritos amigos do malandro, afinal ele conhecia a fama de Lampião e sabia que a parada era dura.
Mas Lampião que também tinha formado toda uma falange, ou bando, como ele gostava de chamar, assoviou como nos tempos de sertão e toda um "bando" de cangaceiros chegaram para participar da briga. A coisa parecia já não ter jeito, quando um espírito simples, com um chapéu na cabeça, uma camisa branca, cabelos enrolados, chegou dizendo:
_Oooooooxxxxxx! Mas o que que é isso aqui? Compadre Lampião põe essa peixeira na bainha! Oxente Zé, tu não mexeu com Maria Bonita de novo, foi? Mas eu num tinha te avisado, ooooxx, recolhe essa navalha, vamo conversar camaradas...
_Nada de conversa, esse cabra mexeu com a minha honra, agora vai ter! _ Disse Lampião enfurecido!
_To te esperando olho de vidro! _ respondeu Zé Pelintra.
_Pera aí! Pela amizade que vocês dois tem por mim, “Severino da Bahia”, vamo baixar as armas e vamo conversar, agora!
Severino era um antigo babalorixá da Bahia, que conhecia os dois e tinha muita afeição por ambos. Os dois por consideração a ele, afinal a coisa que mais prezavam entre os homens era a amizade e lealdade, baixaram as armas. Então Severino disse:
_Olha aqui Zé, esse é o Virgulino Ferreira da Silva, o compadre Lampião, conhecido também como o “Rei do Cangaço”. Ele foi o líder de um movimento, quando encarnado, chamado Banditismo ou Cangaço, correndo todo o sertão nordestino com sua revolta e luta por melhores condições de vida, distribuição de terras, fim da fome e do coronelismo, etc. Mas sabe como é, cometeu muitos abusos, acabou no fim desvirtuando e gerando muita violência...
_É, isso é verdade. Com certeza a minha luta era justa, mas os meios pelo qual lutei não foram, nem de longe, os melhores. Tem gente que diz que Lampião era justiceiro, bem...Posso dizer que num fui tão justo assim_ disse Lampião assumindo um triste semblante.
_ Eu sei como é isso. Também fui um homem que lutou contra toda exploração e sofrimento que o pobre favelado sofria no Rio de Janeiro. Nasci no Sertão do Alagoas, mas os melhores e piores momentos da minha vida foram no Rio de Janeiro mesmo. Eu personificava a malandragem da época. Malandragem era um jeito esperto, “esguio”, “ligeiro”, de driblar os problemas da vida, a fome, a miséria, as tristezas, etc. Mas também cometi muitos excessos, fui por muitas vezes demais violento e, apesar de morrer e terem me transformado em herói, sei que não fui lá nem metade do que o povo diz_ dessa vez era Zé Pelintra quem perdia seu tradicional sorriso de canto de boca e dava vazão a sua angústia pessoal...
_Ooxx, tão vendo só, vocês tem muitas semelhanças, são heróis para o povo encarnado, mas, aqui, pesando os vossos atos, sabem que não foram tão bons assim. Todos têm senso de justiça e lealdade muito grande, mas acabaram por trilhar um caminho de dor e sangue que nunca levou e nunca levará a nada.
_É verdade... Bem, acho que você não é tão ruim quanto eu pensava Zé. Todo mundo pode baixar as armas, de hoje em diante nós cangaceiros vamo respeitar Zé Pelintra, afinal, lutou e morreu pelos mesmos ideias e com a mesma angústia no coração que nós!
_ O mesmo digo eu! Aonde Lampião precisar Zé Pelintra vai estar junto, pois eu posso ser malandro, mas não sou traíra e nem falso. Gostei de você, e quem é meu amigo eu acompanho até na morte.
_Oooooxxxxx! Hahahaha, mas até que enfim! Tamo começando a nos entender. Além do mais, é bom vocês dois estarem aqui, juntos com vossas falanges, porque eu queria conversar a respeito de uma coisa! Sabe o que é...
E Severino falou, falou e falou... Explicando que uma nova religião estava sendo fundada na Terra, por um tal de Caboclo das Sete Encruzilhadas, uma religião que ampararia todos os excluídos, os pobres, miseráveis e onde todo e qualquer espírito poderia se manifestar para a caridade. Explicou que o culto aos amados Pais e Mães Orixás que ele praticava quando estava encarnado iria se renovar, e eles estavam amparando e regendo todo o processo de formação da nova religião, a Umbanda...
_...é isso! Estamos precisando de pessoas com força de vontade, coragem, garra para trabalhar nas muitas linhas de Umbanda que serão formadas para prestar a caridade. E como eu fui convidado a participar, resolvi convidar vocês também! Que acham?
_Olha, eu já tenho uma experiência disso lá no culto a Jurema Sagrada, o Catimbó! Tô dentro, pode contar comigo! Eu, Zé Pelintra, vou estar presente nessa nova religião chamada Umbanda, afinal, se ela num tem preconceito em acolher um “negô” pobre, malandro e ignorante como eu, então nela e por ela eu vou trabalhar. E que os Orixás nos protejam!
_Bem, eu num sô homem de negar batalha não! Também vou tá junto de vocês, eu e todo o meu bando. Na força de “Padinho” Cícero e de todos os Orixás, que eu nem conheço quem são, mas já gosto deles assim mesmo...
E o que era pra transformar - se em uma batalha sangrenta acabou virando uma reunião de amigos. Nascia ali uma linha de Umbanda, apadrinhada pelo baiano “Severino da Bahia”, pelo malandro mestre da Jurema “Zé Pelintra” e pelo temido cangaceiro “Lampião”.
Junto deles vinham diversas falange. Com o malandro Zé Pelintra vinham os outros malandros lendários do Rio de Janeiro com seus nomes simbólicos: “Zé Navalha”, “Sete Facadas”, “Zé da Madrugada”, “7 Navalhadas”, “Zé da Lapa”, “Nego da Lapa”, entre muitos e muitos outros.
Junto com Lampião vinha a força do cangaço nordestino: Corisco, Maria Bonita, Jacinto, Raimundo, Cabeleira, Zé do Sertão, Sinhô Pereira, Xumbinho, Sabino, etc.
Severino trazia toda uma linha de mestres baianos e baianas: Zé do Coco, Zé da Lua, Simão do Bonfim, João do Coqueiro, Maria das Graças, Maria das Candeias, Maria Conga, vixi num acaba mais...
Em homenagem ao irmão Severino, o intermediador que evitou a guerra entre Zé Pelintra e Lampião, a linha foi batizada como “Linha dos Baianos”, pois tanto Severino como seus principais amigos e colaboradores eram “Baianos”.
E uma grande festa começou ao som do tambor, do pandeiro e da viola, pois nascia ali a linha mais alegre, mais divertida e "humana" da Umbanda. Uma linha que iria acolher a qualquer um que quisesse lutar contra os abusos, contra a pobreza, a injustiça, as diferenças sociais, uma linha que teria na amizade e no companheirismo sua marca registrada. Uma linha de guerreiros, que um dia excederam - se na força, mas que hoje lutavam com as mesmas armas, agora guiados pela bandeira branca de Oxalá.
E, de repente, no meio da festa, raios, trovões e uma enorme tempestade começaram a cair. Era Iansã que abençoava todo aquele povo sofrido e batalhador, igualzinho ao povo brasileiro. A Deusa dos raios e dos ventos acolhia em seus braços todas aqueles espíritos, guerreiros como ela, que lutavam por mais igualdade e amor no nosso dia - dia.
E assim acaba a história que eu ouvi, diretamente de um preto – velho, um dia desses em Aruanda. Dizem que Zé Pelintra continua tendo uma queda por “Maria Bonita”, mas deixou isso de lado devido ao respeito que tem pelo irmão Lampião. Falam, ainda, que no momento ele "namora" uma Pombagira, que conheceu quando começou a trabalhar dentro das linhas de Umbanda. Por isso é que ele "baixa", às vezes, disfarçado de Exu...
"Oxente eu sou baiano, oxente baiano eu sou
Oxente eu sou baiano, baiano trabalhador
Venho junto de Corisco, Maria Bonita e Lampião
Trabalhar com Zé PelintraPra ajudar os meus irmãos...!"

Seu Zé da Peixeira

Até hoje quando conto isso, sinto o gosto do meu sangue na boca e um brilho a ofuscar minha visão. Olha “bichinho”, é bom você tratar de fazer o melhor possível da sua vida, porque do lado de cá não é paraíso não.
Minha história é assim, eu me achava um cabra macho da peste, num sabe? E um desinfeliz certo dia desrespeitou minha namorada, vixi "bichinho" meu sangue subiu como um tiro pra cabeça, passei a mão no meu facão e pulei no safado, tão cego que estava de ódio não percebi a burrada que me envolvi. Errei meu golpe e este erro facilitou para o safado furar meu bucho com uma peixeira, “bichinho” tu não imagina a dor que é isso, então aconteceu em segundos que minha vida passou na minha frente, engraçado que na ocasião lembrei de coisa que parecia besteira de lembrar, até pensei numa segunda chance do Céu, mas meu bucho tava furado e rasgado, poucos minutos de agonia foi o suficiente para eu não pertencer ao mundo dos vivos, senti um sono e apaguei...
- Vamos Zé, acorda!  um garoto me chamava.
Com um pouco de dor abri os olhos e resmunguei algo ao garoto.
- Zé, ou melhor, José Arantes, você adiantou teu retorno ao lado espiritual da vida!
- "Oxente bichinho", que besteira é essa?!?
- Tenho que ser objetivo Zé, tu não tem muito tempo, então trate de ser forte e vamos direto ao assunto. ( falou firme o garoto.)
- Muleque, me explique intonce!
- Zé, tu se envolveu numa briga de faca, por conta de sua “honra”, pensando que “honra” se resolve na faca e...bem... você levou a pior. Seu adversário te pegou de jeito e rasgou seu corpo, agora você está num hospital espiritual e para ser franco faz alguns dias isso.
- Credo “bichinho” que tragédia é essa que me cobre?
- Olha Zé, não fique agora tentando buscar resposta, seja pratico e objetivo, levando em conta que a alguns anos você foi iniciado no Santo e paralelamente participava de reuniões mediúnicas, logo a existência do mundo espiritual e vida eterna pra ti não é novidade, certo?
- Meio certo “bichinho”, pois nunca vi um espírito e imaginar que você é um, já começo a ter coceira...- (risos)
Deixe de brincadeira Zé, temos que nos adiantar!
- “Oxente”, quer dizer então que sou um morto!?!
- Pode dizer que você já não pertence aos encarnados.
- Ainda bem que ninguém morre antes da hora, tudo tem o sentido de ser.
- Não é bem assim Zé, aliás a alguns milênios que as coisas não são mais tão naturais quanto querem acreditar lá na Terra.
- Que quer dizer com isso “bichinho”, que não morri na hora que Deus quis?
- Acaso crê que foi Deus quem criou aquela briga? E que ele queria te matar a facada?
- Pode não ser Deus, mas que tinha dedo de Exu eu garanto, e Exu é de Deus, então ta tudo no céu oras!- (risos)
Se não fosse você soltando esta pérola, não acharia tão engraçado este absurdo.
- Absurdo! Mas quem está de brincadeira é você muleque, minha Mãe de Santo me ensinou estas coisas.
- Olha Zé, esqueça um pouco sobre o que aprendeste, mas posso te adiantar que está equivocado, pois naquela briga só tinha dedo seu, aliás cinco dedos empunharam a foice, faltou habilidade, afinal não era como uma touceira de cana, que é estático, então foi golpeado. Asseguro também que isso é responsabilidade sua, não tem Deus determinando sua fúria nesta hora.
- Mas então tem o meu Orixá que é muito bravo!
- Não Zé, não tem... Mas tudo isso você vai entender. Por ora o importante é saber se você concebe a idéia de estar em outra realidade.
- Entendo, mas preciso saber mais, vou me acostumar.
- Certamente, então me acompanhe, temos um longo caminho. O que vem a seguir é muitos detalhes impossíveis de colocar aqui, seriam necessárias muitas páginas e este não é o objetivo no momento. Dali pra frente passei por muitas escolas até que fui convidado a participar de uma falange no Grau Baiano.
De fato vivi no interior da Bahia, minha lida era no canavial e plantações, mergulhado na cultura machista e de pouca instrução, fiz da minha vida algo muito curto, sem emoções ou sentido. Mas ainda assim era muito crédulo, devoto dos Orixás, ainda cedo mamãe me levou num terreiro de Santo e fui iniciado no culto, depois vim a conhecer o Catimbó e outras seitas que misturavam Orixás com espíritos que se comunicavam, eu era médium e gostava muito disto.
Não era capaz de prejudicar ninguém, vivia em paz e adorava o ser humano, só a tal ocasião é que me tirou do eixo, por fim aprendi muito com isso.
Muito se estuda do lado espiritual, tanta coisa que não dá para explicar.
Vou tentar apresentar de forma rápida e simples, como fui iniciado e como é a Linha dos Baianos.
Evolutivamente não estamos muito distantes dos irmãos encarnados, mas nem perto dos Caboclos e Pretos Velhos.
Quando um mentor que me tutelava revelou-me que eu poderia participar de uma falange de trabalhadores espirituais, que se fundamentava nos Orixás, senti-me muito feliz e logo aceitei. Foi quando fui apresentado a três chefes de falanges que começaram a me ensinar a “magia baiana” e todas as iniciações necessárias para eu ser um trabalhador reconhecido pelos Orixás. Mais interessante é que eu teria a liberdade de usar meus conhecimentos e mandingas que havia aprendido na minha experiência como médium na Terra, claro que com algumas reciclagens e crivado sempre na ajuda ao próximo. No dia em que fui assumir meu “cargo”, ou seja, receber o nome simbólico e grau, por ironia do destino fui assentado na falange Zé da Peixeira, achei um desafio, jamais esquecerei a ferramenta que me tirou precocemente da carne, tampouco esquecerei o motivo maior, meu descontrole emocional. Na ocasião conheci centenas de companheiros que na sua última passagem viveram no Rio de Janeiro, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, enfim, tinha brasileiro de toda parte, estranhei, pensei que era uma linha exclusiva de baianos verdadeiramente baianos. Daí que meu tutor explicou o conceito de Grau e que os Baianos e que este nome simbólico é uma homenagem ao Brasil, por ser esta religião brasileira e que compõe este grau espíritos brasileiros, independente da raça, estado ou cor. Na Bahia começou o Brasil, e como devemos ter um Grau para espíritos intermediários entre Caboclos, Preto-Velhos e os encarnados e com identidade nacional então a Linha dos Baianos retrata o brasileiro, livre e feliz.
Pai Oxalá junto de Mãe Yansã sustentam esta Linha, ou melhor, sustenta este Grau, mas tem baiano trabalhando sob a vibração de todos os Orixás. Posso dizer que somos a Linha mais eclética e aberta. Muitos confundem-nos com Exu, criam teorias das mais absurdas nessa idéia, mas tudo bem, o tempo lhes ensinará a separar as coisas.
Óia “bichinho”, to agradecido por ler esta minha história, desculpe a brevidade, noutra oportunidade podemos nos aprofundar, mas deixo aqui o axé da Bahia.
Sou Baiano, sou Brasileiro, sou Zé da Peixeira, salve todos Santos da Bahia!
R. Queiroz

Zé Pelintra e sua falange.
 Umbanda de Zé Pelintra é voltada para a prática da caridade - fora da caridade não há salvação -, tanto espiritual quanto material - ajuda entre irmãos - , propagando que o respeito ao ser humano, é a base fundamental para o progresso de qualquer sociedade. Zé Pelintra também prega a TOLERÂNCIA RELIGIOSA, sem a qual o homem viverá constantemente em guerras.
Para Zé Pelintra, todas as religiões são boas, e o princípio delas é fazer o homem se tornar espiritualizado, se aproximando cada vez mais dos valores reais, que são Deus e as obras espirituais. Na humildade que lhe é peculiar, Zé Pelintra, afirma que todos são sempre aprendizes, mesmo que estejam em graus evolutórios superiores, pois quem sabe mais, deve ensinar a quem ainda não apreendeu e compreender aquele que não consegui saber.
Zé Pelintra, espírito da Umbanda e mestre catimbozeiro, faz suas orações pelo povo do mundo, independente de suas religiões. Prega que cada um colhe aquilo que planta, e que o plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Zé Pelintra faz da Umbanda, o local de encontro para todos os necessitados, procurando solução para o problema das pessoas que lhe procuram.
Ajudando e auxiliando os demais espíritos. Zé Pelintra é o médico dos pobres e advogado dos injustiçados, é devoto de Santo Antonio, e protetor dos comerciantes, principalmente Bares, Lanchonetes, Restaurantes e Boates, e sempre recorre a Jesus, fonte inesgotável de amor e vida.
A falange de Zé Pelintra é muito alegre e com excelente vibração, e também disciplina é o que não falta, atendem a todos sem distinção, seja pobre ou rico, branco ou negro, idoso ou jovem. Seu Zé Pelintra tem várias estórias da sua vida, desde a Lapa do Rio de Janeiro até o Nordeste.
Todavia, a principal história que seu Zé Pelintra quer escrever, é a da CARIDADE, e que ela seja praticada e que passemos os bons exemplos, de Pai para filho, de amigo para amigo, de parente para parente, a fim de que possa existir uma corrente inesgotável de Amor ao Próximo. Zé Pelintra prega o amparo aos idosos e às crianças desamparadas por esse mundo de Deus. Se você, ajudar com pelo menos um sorriso, a um desamparado, estarás, não importa sua religião ou credo, fazendo com que Deus também Sorria e que o Amor Fraterno triunfe sobre o egoísmo. ZÉ PELINTRA pede que os filhos de fé achem uma creche ou um asilo e ajudem no que puder as pessoas e crianças jogadas ao descaso. Não devemos esquecer que a Fé sem as obras boas é morta.
Zé Pelintra nasceu no nordeste, há controvérsias se o mesmo tivesse nascido no Pernambuco ou Alagoas e veio para o Rio de Janeiro, onde se malandriou na Lapa e um certo dia foi assassinado a navalhadas em uma briga de bar.
Assim, Zé Pelintra formou uma bela Falange de luz, que vêm ajudar aqueles que necessitam, els vem na linha de Baianos e são entidades amigas e de muito respeito. 


Texto resumido e reeditado.
Não temos a fonte correta.

Ele é seu Zé Pelintra
"Ele é Seu Zé Pelintra. Nego do pé derramado. Quem quiser brigar com ele, está doido ou está danado."
Zé Pelintra é um dos personagens mais interessantes do extenso quadro de Entidades espirituais que se manifestam na Umbanda.
Contam-se histórias mirabolantes sobre essa Entidade e a que parece ser a mais próxima da realidade humana que ele tivera afirma que se chamava José Gomes da Silva, era oriundo do interior pernambucano, boêmio, jogador totalmente ligado às mulheres. Brigador de primeira, não entrava numa para não vencer. Suas escaramuças com a polícia eram conhecidas, principalmente, porque mesmo enfrentando mais de dez homens, saía sempre vencedor. Apesar de jogador inveterado não gostava de ganhar dos incautos, a esses assustava e os mandava de volta para suas casas e famílias. Aos "expertos" sim, gostava de "limpá-los". Primeiro os enganava, perdendo, inicialmente de forma astuciosa, nos dados ou nas cartas, para depois, aproveitando-se dos ânimos inflamados dos "ganhadores", virava o jogo.
Às mulheres dedicava intensa paixão, nas apesar de seus envolvimentos amorosos não ser o que se pode chamar de fiéis, contam que morreu em função de uma grande paixão.
Bebedor inveterado, mas, ainda que bebesse muito, controlava muito bem tudo o que ocorria à sua volta.
Existem algumas histórias pessoais sobre Zé Pelintra, mas sabemos que as Entidades de Umbanda representam, além de um ser específico, representa também o personagem central que aquela Entidade significa. Isso quer dizer que não é somente José Gomes da Silva que transformou-se no famoso Zé Pelintra, mas qualquer um que tivesse tido aquelas mesmas características, ou seja "José Gomes da Silva" é o chefe da Falange, quem deu origema ela.
Zé Pelintra se manifesta não só no Brasil, até no EUA já se ouviu falar de sua existência.
No Rio de Janeiro, em muitas casas de Umbanda, encontra-se a figura alegre, expansiva e representativa do malandro bonachão. Dizem que ele vivia na Lapa, o bairro carioca mais boêmio que se conhece. Gosta de cigarros, cerveja, whiskie, vermuth e gosta muito de lenços ou camisas na cor vermelha embora use outras cores também. Adora um chapéu Panamá. Muitos se vestem com o famoso terno de linho branco, chapéu e gravata vermelha das imagens. Ah! E as camisas devem ser de seda porque os protegem do fio da navalha, arma característica da malandragem de épocas passadas.
Ele é boêmio e malandro, mas é uma das Entidades mais sérias da Umbanda. Tem sempre uma palavra amiga, uma ajuda, um trabalho de caridade. Todos que o conhecem sabem que podem confiar nele. No Nordeste manifesta-se no Culto à Jurema, ou Catimbó, onde é considerado Mestre e muito respeitado, tanto que é comum ser chamado para participar de batismos e até casamentos. No Catimbó, Zé Pelintra têm características mais regionais. Fuma cachimbo, bebe cachaça misturada com mel e usa bengala o que lhe dá um ar muito mais grave.
Zé Pelintra é uma das Entidades mais ecléticas da Umbanda e para alguns é considerado um Exu, embora ele próprio, diversas vezes, negue essa condição.
"Lá no morro é que é lugar de tirar onda, tomando cerveja de meia, jogando baralho e ronda".
Esta é uma de suas cantigas onde mostra a todos sua área e forma de trabalho, mas é através de outra cantiga que se pode ter uma idéia mais intensa dessa maravilhosa Entidade.
"Se a policia chegasse aqui agora, seria uma grande vitória, ninguém poderia correr...Agora que eu quero ver, quem é malandro não pode correr."
Salve seu Zé Pelintra.
Que Oxalá abençoe a todos,

Texto reeditado,
original de Robson Nogueira


SETAMarinheiro ** 
** Aqui vamos deixar o acesso para os Marinheiros, por se tratar de uma linha de consulta também assim como as outras correntes da 7ª linha, porém lembramos que os Marinheiros fazem parte da linha de Iemanjá.

MARINHEIRO

São espíritos alegres e cordiais que gostam de imitar os marujos no tombadilhos dos navios em dias de tempestade. Mas, na verdade são seus magnetismos aquáticos que lhe dão a impressão de que o solo está se movendo sobre os seus pés. Fato este que os obriga a se locomoverem constantemente para a frente e para trás, tal como fazem as sereias quando incorporam nas suas médiuns. Os marinheiros são realmente espíritos de antigos piratas, marujos, guardas marinhos, pescadores, capitães, pessoas que viviam e trabalhavam no mar. Trabalham dando a impressão que estão " Bêbados", condição essa comum de se encontrar essas pessoas quando em vida. Isso não quer dizer que por se mostrarem nesse estado pode-se zombar ou desacreditar de sua firmeza.
A exemplo dos baianos, os marinheiros vêm em terra para acima de tudo praticar a caridade, dando conselhos, orientações, ajudas, cura, etc.
São ótimos para casos de doenças, para cortar demandas e para descarregar os locais de trabalhos espirituais .

Sua Guia: As guias a eles referentes são, geralmente, feitas com contas de cristal azul, âncoras e estrelas.

Sua Bebida: Gostam de beber aguardente pura, cerveja e rum. Geralmente os marinheiros fumam cigarros comum ou de palha.

Sua Comida: As comidas oferecidas aos marinheiros geralmente são peixes e frutos do mar.

Velas: azul clara, branca

Saudação: Eta marujada!

Local para entregas: mar


Marinheiro o eterno amante do mar
Ser marinheiro de Umbanda significa ser eterno amante do mar e de seus mistérios, significa auxiliar pessoas e espíritos necessitados com os recursos do mar, dos mistérios das águas.
Os marinheiros são milhares de espíritos que em em alguma de suas encarnações viveram do mar, pelo mar e para o mar, dentro de embarcações. Alguns navegaram, outros submergiram nas águas profundas, outros foram arrastados pelas ondas para dentro dele e outros foram levados para outros lugares pelas correntes marítimas. Esses espíritos, quando encarnados, foram capitães do mar, comandantes de navios, soldados da marinha, bucaneiros, piratas, pescadores, navegantes e todos os eternos amantes do mar e dos seus mistérios.
Os marinheiros, no lado espiritual, vivem submersos no fundo do mar, a realidade aquática da vida, que é a região do povo d’água, os seres aquáticos elementais da água. Nessa dimensão aquática, a água os deixa firmes, ao contrário do que acontece quando incorporados. Na matéria, cambaleiam de forma ondulada, balanceando, ao liberar o poder de seu mistério por meio de ondas magnéticas no campo espiritual do médium e do templo. Seus magnetismos absorvem muito do álcool do corpo do médium e, para não paralisar nenhuma das funções de se médium e dar fluidez e volatilidade às suas vibrações de espíritos, expandindo seus campos magnéticos, estabilizando e equilibrando a incorporação, utilizam a energia do rum ou da cachaça para executar as funções que lhes cabem.
Incorporados em seus médiuns, os marinheiros se movimentam e dançam como se estivessem se equilibrando sobre o tombadilho de um barco ou de um navio em alto mar, mas o que realmente acontece é que eles se manifestam sob a irradiação de Mãe Yemanjá, cujo magnetismo faz com que eles tenham os movimentos das ondas do mar. Podem ser regidos também por outras mães d’água, como Nanã e Oxum, formando uma linha de “povos da água”. Seus magnetismos aquáticos dão a impressão de que o solo está se movendo sob seus pés e por isso eles imitam os marujos nos tombadilhos dos navios.
Esses espíritos são extrovertidos, alegres e cordiais, colocando os consulentes à vontade. São magos nos mistérios aquáticos e trazem-nos a possibilidade de libertação dos nossos entraves. A forte vibração da energia aquática dilui cargas trevosas, purifica pessoas e ambientes e atua no trabalho de cura. Mãe Yemanjá é a senhora do lado de cima da Grande Calunga, o mar, e Omolu é o senhor do lado de baixo da Pequena Calunga, a terra, e sustentador do eterno vai-e-vem das águas.

Marinheiros
O Céu está claro e a noite estrelada se descortina revelando a lua, cheia e brilhante.
O mar reflete a doce forma ondulada do astro mãe que parece uma grande pérola na imensidão do Céu.
O marujo, do alto de seu mastro, olha a Lua e se embriaga com seus raios de prata e no convés, o capitão olha sobre seu leme e vê a Terra se aproximar.
Ao longe, o som dos atabaques repinicando faz ouvir o reto da marujada que vêm chegando.
No Terreiro, o voz da preta-velha comanda:
- " Ah, mano"! E o Ogam canta:

Ôh Marinheiro, é hora
É hora de vir trabalhar
Ôh Marinheiro, é hora
É hora de vir trabalhar
É Céu
É Mar
São os Marinheiros que vêm nas ondas do mar
É Céu
É Mar
São os Marinheiros que vêm nas ondas do mar 

Aos poucos eles desembarcam de seus navios da calunga e chegam em Terra. Com suas gargalhadas, abraços e apertos de mão. São os marujos que vêm chegando para trabalhar nas ondas do mar.
Os Marinheiros são homens e mulheres que navegaram e se relacionaram com o mar. Que descobriram ilhas, continentes, novos mundos.
Enfrentaram o ambiente de calmaria ou de mares tortuosos, em tempos de grande paz ou de penosas guerras.
Os Marinheiros trabalham na linha de Iemanjá e Oxum (povo d'áqua) e trazem uma mensagem de esperança e muita força, nos dizendo que se pode lutar e desbravar o desconhecido, do nosso interior ou do mundo que nos rodeia se tivermos fé, confiança e trabalho unido, em grupo.
Seu trabalho é realizado em descarregos, consultas, passes, no desenvolvimento dos médiuns e em outros trabalhos que possam envolver demandas.
A gira de marinheiro e bem alegre e descontraída. Eles são sorridentes e animados, não tem tempo ruim para esta falange. Com palavras macias e diretas eles vão bem fundo na alma dos consulentes e em seus problemas.
A marujada coloca seus bonés e, enquanto trabalham, cantam, bebem e fumam. Bebem Whisky, Vodka, Vinho, Cachaça, e mais o que tiver de bom gosto. Fumam charuto, cigarro, cigarrilha e outros fumos diversos.
Em seus trabalhos são sinceros e ligeiramente românticos, sentimentais e muito amigos. Gostam de ajudar àqueles e àquelas que estão com problemas amorosos ou em procura de alguém, de um "porto seguro".
A gira de marinheiro, em muito, parece uma grande festa, pela sua alegria e descontração, mas também, existe um grande compromisso e responsabilidade no trabalho que e feito.

LENDAS E HISTÓRIAS DE MARINHEIRO

Marinheiro Capitão dos Sete Mares
- Odoyá Yabá! Salve Rainha do Mar!

Salve Yemanjá.
Assim que diariamente eu me colocava de frente pro mar, quer seja a beira-mar ou sobre um navio. De fato fui um homem do mar, pertenci ao agrupamento naval brasileiro e sendo um militar em tempos de defesa no mar desencarnei, atingido por um canhão inimigo, naufragamos em alto mar.
Interessante foi que já no lado espiritual da vida continuei “submerso”, pois é, ainda no fundo do mar, estranhamente podia respirar e a movimentação nesta realidade era estranha, me encontrava na realidade aquática da vida.
Muitos como eu lá estavam, era uma cidade!
Após o processo de ser recebido, esclarecido e alocado naquela região, fui sendo preparado para não só mais louvar a Mãe D’Água, mas sim colaborar com sua atuação junto aos encarnados. E porque no fundo do mar?
Fui orientado que eu trazia na minha ancestralidade a presença desta Mãe e como na última encarnação também fui um homem do mar que aprendeu a lidar com os reveses da vida e que no contexto geral me encontrava numa faixa evolutiva propicia a ser um trabalhado da luz, poderia eu colaborar no auxílio ao próximo.
Fui aprendendo a lidar com os seres aquáticos, elementais da água também conhecido na Umbanda como Povo D’Água. Conheci as “magias” e “mistérios” do mar e como usar isso em favor da humanidade.
A Linha de Trabalho dos Marinheiros foi aberta para acolher aqueles que viveram no litoral ou em contato com a água, entram nesta classe os marinheiros propriamente, os ribeirinhos, canoeiros, pescadores e etc. Todo aquele que viveu e cultuou a água.
Na prática trazemos uma forte vibração da energia aquática que em contato com as forças nocivas dilui e purifica pessoas e ambientes. Gostamos de prosear e trocando experiências orientamos os aflitos. Vivemos “no fundo do mar”, uma dimensão aquática, por isso quando manifestados em solo seco ficamos a bambear, pois pra nós terra firme nos tonteia e a água nos deixa firme. Entenda isso como metáfora ou lenda, mas não jogue em nossas costas a sua bebedeira ao alegar que tonteamos porque somos bêbados. Acaso isso é lícito na evolução espiritual???
Quando usamos o Rum ou Cachaça é para utilizar sua energia para variadas funções e jamais para suprir vício algum. Reflita sobre isso.
Muito poderia ser dito sobre nós, porém vou ficando por aqui, tem um navio lá fora apitando, já chegou a hora e já vou embora.
Que o véu da Mãe D’Água lhe cubra de luz e proteção, recebendo-te no seu colo amoroso, assim você se reconforta e se purifica.
Que Ela acolha sempre a Umbanda nos seus braços, porque assim estaremos seguros!
Fiquem em paz!
Capitão dos Sete Mares
R. Queiroz

SETA - Povo do Oriente    /       Ciganos***
O Povo do Oriente e Ciganos são comandados por Xangô Caô.

 LINHA DO ORIENTE


Na linha do Oriente estão as falanges dos hindus, dos árabes, dos japoneses, chineses e mongóis, dos egípcios, dos gauleses, dos romanos, etc., formadas por espíritos que encarnaram nesses povos e que ensinam ciências ocultas e praticam caridade.


As Falanges destas Legiões estão incumbidas de ensinar aos habitantes da Terra, coisas para eles desconhecidas. São grandes Mestres do Ocultismo.             


O Povo do Oriente fala pouco e, quando o faz, o seu linguajar é perfeito e bastante correto. Não gosta de dar consultas. Raramente usa o termo "chefia de cabeça" e sempre demonstra muita sabedoria e amplos conhecimentos filosóficos e esotéricos. Na Umbanda, os componentes desse Povo são chamados de Mestres da Linha do Oriente (egípcios, tibetanos, chineses, etc). Normalmente atuam de forma discreta, intuindo seus médiuns para que entendam o que está se passando. São importantíssimos na transmissão de mensagens de entidades ou espíritos de nível hierárquico superior, devido a linha de desenvolvimento mental da qual participam. Também atuam na destruição de templos e de magias do passado, libertando o espírito , estimula no médium o caminho da evolução espiritual através dos estudos, da meditação, do conhecimento das leis divinas, do amor, da verdade, da ciência, da arte, do belo. Estimula no médium o caminho da ascensão espiritual, fazendo-o eliminar da sua vida tudo o que é pernicioso.


Nesta linha os espíritos são sempre nos níveis acima de Guias, portanto, elevadíssimos e que raramente se manifestam. É nesta linha que estão classificados o mais vulgarmente conhecido como ‘Povo do Oriente.” Vibração eletromagnética do SOL. Xangô Caô, sincretizado com São João Batista, é também o patrono da linha do oriente, na qual se manifestam espíritos mestres em ciência ocultas, astrologia, quiromância, numerologia, cartomancia. Por este motivo, a linha dos ciganos vêm trabalhar nesta irradiação.

Corrente Médica do Espaço

Na Umbanda são muitos os mensageiros iluminados que se manifestam auxiliando os doentes do corpo e da alma.
Em todos os templos, tendas ou terreiros, existem equipes formadas para todo o tipo de atendimento.
Alguns se destacam pela dinâmica variada de atendimento através: dos Caboclos; Pretos Velhos; Crianças; Baianos; Ciganos; etc. Se adequando a um calendário específico, ou rituais adequados para determinadas entidades, um núcleo de atendimento é a soma de diversos tipos de médiuns e mediunidades. Sem contar a missão de determinado espírito com determinado médium.
Na Umbanda com sua linguagem universal, muitos trabalhos com a Corrente Médica do Espaço ocorrem sem conflito nem discriminação. Nenhum trabalho é melhor ou pior que o outro, todos se complementam na atividade espiritual que conforta, ampara, através da fé.
Entre os espíritos existe o trabalho de equipe, demonstram a grandiosidade do amor ao transferirem tarefas para outros irmãos ou trabalhando lado a lado.
A Corrente Médica pode chegar a realizar operações espirituais, porém sem a necessidade de cortes ou injeções. O procedimento é realizado no nível perispiritual através da imposição das mãos e/ou do uso simbólico de alguns apetrechos médicos.


 CIGANOS
* Embora em nossa casa não trabalhamos com a linha de Ciganos "separadamente", temos Guias desta linha que se manifestam para trabalhar, atender as pessoas e prestar muita caridade. Independentemente de trabalhar com a linha ou não nós cuidamos, respeitamos e gostamos do povo Cigano.

O POVO CIGANO


O grande lema do Povo Cigano é: " O céu é meu teto; a terra é minha patria e a liberdade é minha religião", traduzindo um espírito essencialmente nômade e livre dos condicionamentos das pessoas normais geralmente cercadas pelos sistemas aos quais estão subjugadas.
Em sua maioria, os ciganos são artistas (de muitas artes, inclusive a arte circense); e eximios ferreiros, fabricandoseus próprios utencilios domésticos, suas jóias e suas selas. Os Ciganos sempre levaram uma vida muito simples, fabricando tachos, consertando panelas, vendendo cavalos (atualmente vendem carros) fazendo artesanato (principalmente em cobre o metal nobre desse povo) e lendo as cartas ciganas para ver a " buena dicha" ( boa sorte).
Na verdade cigano que se preza, antes de ler a mão, lê os olhos das pessoas (os espelhos da alma) e tocam seus pulsos (para sentirem o nível de vibração energética) e só então que interpretam as linhas da mão. A prática da quiromancia para o Povo Cigano não é um mero sistema de adivinhação, mas, acima de tudo um inteligente esquema de orientação sobre o corpo, a mente e o espírito; sobre a saúde e o destino. O mais importante para o Povo Cigano é interagir com a Mãe Natureza respeitando seu ciclos naturais e sua força geradora e provedora. Mitologicamente o Povo Cigano está ligado à Kali a deusa negra da mitologia hindu, associada a figura de Santa Sra, cujo mistério envolve o das "virgens negras", que na iconografia cristã representa a figura de Sara, a serva ( de origem Núbia) que teria acompanhado as três marias: Jacobina, Salomé e madalena, e , junto com José de Arimateia fugido da palestina numa pequena barca, transportando o santo Graal ( o cálice sagrado) , que seria levado por elas para um mosteiro da antiga Bretanha. Diz o mito que a barca teria perdido o rumo durante o trajeto e atracado no porto de Camargue, as margens do mediterrâneo, que por sua vez ficou conhecido como " Saintes Maries de la Mer", transformando-se desde então num local de grande concentração do Povo Cigano. Santa Sara é comemorada todos os anos, nos dias 24 e 25 de maio, através de uma longa noite de vigília e Oração, pelos Ciganos espalhados no mundo inteiro, com candeias de velas azuis, e flores e vestes coloridas; muita música e muita dança, cujo símbolo religioso representa o processo de purificação e renovação da natureza e o eterno "retorno dos tempos". Os Ciganos geralmente se reúnem em Clãs para festejar os ritos de passagem: o nascimento, a morte, o casamento e os aniversários. Estão sempre reunidos nos campos, nas praias, nas feiras e nas praças. Esse povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza pois para o cigano a vida é uma festa e a natureza que o rodeia a mais bela e generosa anfitriã. Onde quer que estejam, os ciganos são logo reconhecidos por suas roupas e ornamentos, e, principalmente por seus hábitos ruidosos. São um povo cheio de energia e grande dose de passionalidade. São tão peculiares dentro do seu código de ética; honra a justiça; senso; sentido e sentimento de liberdade que contagia e incomodam qualquer sistema. Porem a comunidade cigana ama e respeita a natureza, os idosos e todos os membros do grupo educam as crianças de todos, dentro dos princípios e normas próprios de uma tradição puramente oral, cujos ensinamentos são passados de pai para filho ou de mestres para discípulo, através das estórias contadas e das músicas tocadas em torno das fogueiras acessas e das barracas coloridas sempre montadas ao ar livre( mesmo no fundo do quintal das ricas mansões dos ciganos mais abastados). Para o Povo Cigano, a Lua Cheia é o maior elo de ligações com: o "Sagrado" quando são realizados mensalmente os grandes festivais de consagração, imantação e reverenciação à grande "Madrinha". A celebração da lua Cheia, acontecem todos os meses em torno das fogueiras acesas, com dança e orações. Também para os Ciganos tudo na vida é "Maktub" ( está escrito nas estrelas), por isso são atentos observadores do céu e verdadeiros adoradores dos Astros. Os Ciganos praticam a Astrologia da mãe terra respeitando e festejando seus ciclos naturais, através dos quais desenvolvem poderes verdadeiramente mágicos. Gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter a oportunidade de conhecer a História deste Povo tão querido, alegre e tão cheio de energia. E agora quero agradecer por está aqui passando todas estas informações.

Poesia Cigana

Tu És
És uma linda flor que desabrocha ao amanhecer
És um espírito de luz.
És a lua que clareia nossas mentes
para que possamos dar um conselho
na hora certa.
És o espírito que nos dá força
para superarmos todos os nossos obstáculos.

És a estrela brilhante que ilumina
nossas vidas neste planeta Terra.
És um espírito maravilhoso que à noite
vigia nossos sonhos, impendido a aproximação
de espíritos maléficos.

Cigana, com tuas fitas coloridas,
estás sempre transmitindo a força do arco-íris.
Sempre que um aflito te invocar, possas transmitir-lhe
a energia da paz, da harmonia e da consolação.
Que ao olhar a chama de uma vela,
possamos sentir a tua presença.
Que ao tocar um cristal, possamos
sentir a tua energia positiva.
Que ao sentir o aroma de violetas,
possamos sentir que estás nos confortando.

Cigana, cobre-nos com tuas saias coloridas,
escondendo-nos dos invejosos e mostrando a eles
que o caminho não é esse... 
 
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