quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Exu

 EXÚ
 Em que pese ser a palavra “Exu” de origem africana, sabemos que os que baixam nos terreiros umbandistas não são os mensageiros dos deuses dos cultos de nações. Os que vem na Umbanda são entidades que, embora conhecedores dos segredos da magia astral, astutos, inteligentes, são seres como nós que passaram pela vida terrena como encarnados e procuram evoluir-se nos planos espirituais, estando já em degraus médios, onde estagiam, por procederem de camadas mais baixas, ou seja, foram integrantes de falanges com certa propensão à pratica do mal, mas, agora, em trânsito para as mais altas, em relação às ocupadas anteriormente. Na Umbanda, generalizou-se o termo “exu” para designar os que nela cooperam, em trabalhos sérios de magia. Mesmo entre os considerados maus, há quem não o seja inteiramente, já lhes despertando intuição à prática do bem, malgrado também, em alguns casos, pratiquem o mal. E estes, denominados “exus neutros”, são assim tratados por possuírem alguma tendência à prática de caridade. São por assim dizer, “neutros” por se colocarem numa posição de equilíbrio entre os dois princípios, enquanto os que trabalham na denominada Demonologia são quase totalmente propensos à perversidade, porém, sempre a pedido de consulentes e frequentadores, cuja educação moral se lhes equipara.
Embora geralmente se acredite que o exu só faça o mal, há confusão nessa crença, pois existem três categorias de exus:
a) os “doutrinados” ou “de lei”- Estes, trabalhadores na Umbanda, só se dedicam à prática do bem. Não aceitam prejudicar a outros, mesmo que mereçam.
b) os “neutros”- Agem, geralmente em apenas alguns terreiros de Umbanda, pertencendo mais aos de Quimbanda, onde é faca de dois gumes, porque fazem o que se lhes pedir, mas só atendendo para o mal se o atingido merecer, por estar com seu Carma comprometido, ou seja, se a futura vítima também tiver faltas graves que justifiquem o ato considerado prejudicial.
c) os “atrasados” ou “quiumbas”- Trabalham onde se pratica a denominada demonologia, isto é, onde a tendência é quase totalmente para o mal.
Porém, necessário se torna esclarecer não existirem criaturas inteiramente, totalmente dedicadas à pratica do malefício, pois sendo seres humanos, os quiumbas ou exus pagãos, como se-lhes chamam, possuem também princípios ou começos de bons sentimentos, brotando-lhes do íntimo da alma e o procedimento condenável se explica pela revolta temporária experimentada por algum motivo pessoal, consequência da ignorância da Lei de Causa e Efeito, à qual estamos sujeitos, pois são ainda imperfeitos em relação à ética espiritualista.
Cabe-nos esclarecer, outrossim, que as magias negativas nunca são feitas em terreiros de Umbanda, como muitas pessoas pensam, mas geralmente por médiuns solitários particulares, conhecedores do assunto, que trabalham sozinhos ou por terreiros de Quimbanda. Frisamos: Nunca em centro Umbandista. Aqui o exu é o órgão de choque e o prato que nivela o equilíbrio da balança.
Na vida, em todos os setores, há sempre a dualidade a reger as atividades. Assim, há bem-mal; esquerda-direita; fino-grosso; alto-baixo; atividade-passividade; princípio-fim. Existe também o ponto de equilíbrio, intermediário ou o meio entre os dois opostos. Entre o bem e o mal temos o neutro; entre o esquerdo e o direito há o centro. Essa posição de equilíbrio é necessária para balanceamento das pontas opostas. Também a situação do exu neutro, nem de um, nem de outro lado, mas influindo em ambos os pratos da balança. É faca de dois gumes. Se pedirem o bem, ele o fará; se o mal, também o fará. Depende da moral do médium que com ele trabalha, condicionando-o a situar-se em um dos lados: ou bom ou mau, sempre a pedido dos frequentadores.
Nas sessões ritualísticas umbandistas, dificilmente um dirigente de terreiro tem força suficiente para desmanchar um trabalho de macumba usando apenas o seu guia (ou orixá, como queiram). Mesmo porque cada qual tem seu campo de ação limitado. O preto-velho, o caboclo, por exemplo, não descem às camadas vibratórias mais densas com a finalidade de demandas com o exu, assim como o engenheiro não vai preparar argamassa ou carregar tijolos para a construção do edifício. Este o motivo pelo qual consultamos o preto-velho ou o caboclo, que percebendo tratar-se de caso pesado de magia negra, alegam ser coisas para o “compadre” resolver. Que chamem o exu da casa. Logo, cada um tem atribuições próprias dentro da área vibratória que lhe corresponde. Em alguns casos, pode o caboclo, o preto-velho desmanchar trabalhos de Quimbanda, embora não seja o normal.
Eles, os exus, representam o polo negativo do terreiro, tal como na corrente elétrica, a fim de que haja o fluxo eletrônico para se acender uma lâmpada. Pertencem, outrossim, a linhas próprias na Umbanda, em um total de sete, funcionando paralelamente em correspondência vibratória aos guias.
Dia da semana: Segunda feira
Saudação: Laroiê Exu (“Salve Exu”) Exu é Mojubá (Exu é Rei)
Número: 1
Frutas: Caju, carambola e frutas ácidas (cítricas)
Ervas: Abranda fogo, mamona, carqueja, picão preto, unha de gato, arruda, comigo ninguém pode, arrebenta cavalo, azevinho, bardana, beladona, cactus, cana de açúcar, cansação, catingueira, corredeira, figueira preta, folha da fortuna, garra do diabo, mangueira, pau d’alho, pau santo, pimenta da costa, pinhão roxo, urtiga, chorão; 

Os Exús não se assemelham às figuras diabólicas de patas e chifres, como são representados por herança da religião católica.
Situam-se em nível evolutivo comparável ao de diversos individuos com os quais se convive na sociedade. São carinhosamente chamados de compadres. Muitos revelam grande grau de erudição, demonstram conhecimentos científicos, cultura religiosa e poderes de cura.
Como estão ainda presos a sensações e poderes de cura, são orgulhosos e vaidosos, necessitando de agrados e presentes para realizarem alguma tarefa.
A Pomba Gira possui as mesmas características e variações de aperfeiçoamento dos Exús, trabalham na esquerda devido a sua situação espiritual; sendo feminina é muito vaidosa, vingativa, interesseira, maliciosa, "inteligente" e sensualissima.
Segue um trecho do livro "O guardião da Meia Noite", de Rubens Saraceni, onde fala um pouco sobre o comportamento dos Exús: 
“Não derrubo quem não merece, nem elevo quem não fizer por merecer.
Não traio a ninguém, mas também não deixo de castigar um traidor. Leve o tempo que for necessário, eu o castigo.
Não castigo um inocente, mas não perdôo um culpado. Não dou a um devedor, mas não tiro de um credor.
Não salvo a quem quer se perder, mas não ponho a perder quem quer se salvar.
Não ajudo a morrer quem quiser viver, mas não deixo vivo quem quer se matar.
Não tomo de quem achar, mas não devolvo a quem perder.
Não induzo ninguém a abandonar o caminho da Lei, mas não culpo quem dele se afastou.
Não ajudo alguém que não queira ser ajudado, mas não nego ajuda a quem merecer.
Não peço o impossível, mas dou apenas o possível. Nem tudo que me pedem eu dou, mas nem tudo que dou é porque me pediram.Não faço chorar o inocente, mas não deixo sorrir o culpado. Não infrinjo à Lei, e pela Lei não sou incomodado".
 Exus - Em diferentes religiões e as suas origensHá que se entender de uma vez por todas que Umbanda e Candomblé são religiões absolutamente distintas, que guardam muito mais diferenças do que semelhanças.
É como querer comparar a religião Católica com a Evangélica. Existem semelhanças? Sim como, por exemplo, os nomes de alguns Orixás, mas a forma de entendimento do que seja Orixá e principalmente a forma de culto a esses Orixás é absolutamente diferente.
Com Exu não poderia ser diferente. O Candomblé o entende como sendo Orixá ou ainda nas palavras de Pierre Verger: “Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida. Há, antes de mais nada, a discussão se Exu é um Orixá ou apenas uma Entidade diferente, que ficaria entre a classificação de Orixá e Ser Humano. Sem dúvida, ele trafega tanto pelo mundo material (ayé), onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos, como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam Orixás, Entidades afins e as Almas dos mortos (eguns).”
Como a nossa discussão não diz respeito as interpretações do Candomblé, visto se tratar de outra religião, nos ateremos a Umbanda onde Exu não é Orixá. Não é Orixá porque Orixá é energia emanada de Zambi (Deus), representada na terra através das Forças da Natureza. Orixá é potencia de Luz.[1] Que fique claro que nesse estágio o espírito ainda não assumiu compromisso de fé e “batismo” junto a Orixá (ele ainda está em tratamento e aprendizado). É o que comumente alguns chamam de “Exu Pagão”. Não gostamos e não usamos esse termo por envolver a palavra exu, que já é por demais mal compreendida.
Origens
A título de curiosidade apenas, ressalto que existem várias correntes que afirmam diferentes origens para a palavra Exu, a saber:
A primeira corrente afirma que a palavra Exu seria uma corruptela ou distorção dos nomes Esseiá/Essuiá, significando lado oposto ou outro lado da margem, nomenclatura dada a espíritos desgarrados que foram arrebanhados para a Lemúria, continente que teria existido no planeta Terra.
A Segunda corrente assevera que o nome Exu seria uma variante do termo Yrshu, nome do filho mais moço do imperador Ugra, na Índia antiga. Yrshu, aspirando ao poder, rebelou-se contra os ensinamentos e preceitos preconizados pelos Magos Brancos do império. Foi totalmente dominado e banido com seus seguidores do território indiano. Daí adveio a relação Yrshu / Exu, como sinônimo de povo banido, expatriado.
A terceira corrente afirma que o nome Exu é de origem africana e quer dizer Esfera.
Saliente-se que entre os hebreus encontramos o termo Exud, originário do sânscrito, significando também povo banido. (Retirado do site de Jurema de Oxalá)
Como disse anteriormente, é apenas a título de curiosidade, pois nada disso interfere no trabalho de Exu nos terreiros de Umbanda. 

Umbanda - Mitos e Realidade
Texto RESUMIDO

Mais uma vez gostaríamos de ressaltar que não é nosso objetivo aqui passar “fórmulas mágicas” do tipo: “Sua vida vai mal? Faça um “agrado” para o seu Exu ou para a sua Pomba Gira”.
Não meu amigo (a)... Não é esta a nossa proposta. Muito pelo contrário... A nossa proposta é justamente ajudar a desmistificar tudo isto. É entrar na luta, junto com outros irmãos umbandistas sérios, independentemente da ritualística praticada, mostrar que Umbanda de Verdade nada tem a ver com certos “trabalhinhos” que no final das contas só “agradam” a obsessores (kiumbas)... Que podem até dar a você a falsa impressão de “melhora”, mas estão apenas preparando o terreno para sugar suas energias mais tarde, cobrando cada vez mais e mais... Pois são insaciáveis no seu desejo de fazer o mal.
Isto não é e nem nunca foi Umbanda. Lamento desapontá-lo (a), mas você não verá isso acontecendo em nenhum verdadeiro terreiro de Umbanda!
Não existe isso de que Exu tanto faz o mal como o bem e que depende de quem pede. Isto simplesmente não tem lógica alguma. Se não concorda me responda o seguinte: Como Orixá iria “colocar” Exu como Guardião se ele não fosse confiável? E se ele se “vendesse” por um despacho, por cachaça, bichos, velas e outros absurdos que vemos nas encruzilhadas? Além do mais, Exu não é idiota. Se até uma criança sabe o que é “certo” e o que é “errado”, Exu não vai saber?
Exu e Pomba Gira são espíritos em busca de evolução e compromissados com a espiritualidade superior. Agora, o que tem de obsessor que se faz passar por Exu e Pomba Gira não está no “gibi”! E a culpa é de quem? Dos médiuns invigilantes e trapaceiros! Que usam a sua mediunidade a serviço do astral inferior! Absurdos como esses que fizeram com que a Umbanda, os Exus e as Pomba Giras fossem tão execrados por outras religiões!
Para começo de conversa, na Umbanda não há trabalho de amarração. Não fazemos trabalhos para trazer a pessoa em “X” dias de volta. Fuja correndo de quem cobra por consultas ou trabalhos. Na Umbanda não existe nenhum tipo de cobrança. Não existe barganha na espiritualidade superior! Existe sim na inferior.
Se você estiver disposto (a) a pagar o preço, que pague. Mas não diga que foi na Umbanda que você fez esse tipo de coisa. Mesmo que o dono do lugar se diga de Umbanda e se apresente como Pai no Santo.
Lembre-se sempre: a Umbanda é Caridade!
Procuraremos explicar de maneira clara como se processa tudo isto.
Em primeiro lugar dentro da Legião de Exu encontramos vários espíritos em diferentes estágios evolutivos. Aliás essa premissa vale para todas as falanges (caboclos, pretos velhos, crianças e exus).
A título de exemplo peguemos aquele que está lá no “final da fila” (no nível 7 ou 8), de uma falange de Exus chefiada por Exu 7 Encruzilhadas, onde o nível 1 se “chama” Exu 7 Encruzilhadas.
O Exu 7 Encruzilhadas e seus comandados, conseguiram açambarcar e convencer aquele irmão obsessor a não continuar no caminho que estava e o convidam a pertencer a esta legião (tudo isto com a devida vênia de Orixá). O irmão em tratamento aceita e começa a aprender as primeiras lições. Entretanto, por ainda se encontrar em um estado de debilidade, e não estar absolutamente convencido de que aquele seja o caminho certo, ou ainda, por estar apegado ao processo obsessivo do qual fazia parte, deixa-se seduzir pelas invocações dos médiuns invigilantes e maliciosos e vê neles a oportunidade de continuarem, agora com “pompas e galas”, a obsediar pessoas.[1]
Mas agora ele está, de certa forma, ligado a legião de 7 Encruzilhadas, e com esse nome ele se apresenta a um médium invigilante. Incorpora usando o nome de 7 Encruzilhadas e pronto! Está feita a bobagem! O médium pensa que é seu 7 Encruzilhadas que está ali e o espírito outrora em tratamento pensa que é seu 7. E ainda por cima sai dando consulta, atendendo pessoas e pedindo horrores, em nome de Exu.
É exatamente aí que entra aquela história que Exu tanto faz o bem quanto o mal e que depende de quem pede. Um absurdo em nome de Exu e em nome da Umbanda.
Quando um terreiro de Umbanda faz um trabalho de desobsessão, atraindo para a corrente da Casa esse espírito, ele se apresenta como 7 Encruzilhadas, mas os olhos treinados, e a própria corrente de Exu e de desobsessão da Casa não permitem que haja confusão.
Exu é agente magístico que tem objetivo de defesa, e por isso como são comumente chamados no meio umbandista de Guardiões. São profundos conhecedores das armadilhas, trilhas e caminhos do astral inferior e apresentam-se com as mais variadas vestimentas astrais.
Exu não tem chifre nem rabo. Exu não é o diabo.
Um obsessor pode sim plasmar toda a vestimenta de um Exu, mas nunca poderá plasmar a sua Luz.
Eles são nossos defensores, são a vibração mais próxima da terra e mais semelhante a nossa própria, entretanto Exu não está aqui para satisfazer as nossas vontades mesquinhas e menores.
O nosso egoísmo e o jogo de interesses nos faz nos envolvermos muitas vezes e nos leva a cometer sandices em nome de Exu, atraindo para nós um “exu pagão” no lugar no nosso Exu de Lei ou Exu Guardião (esses sim compromissados com Orixá).
Ao contrário do que muitos crêem, Exu não está a mercê de nossa vontade, mas segue as determinações dos Orixás. É claro também que, tal como nós, eles têm o seu livre-arbítrio, podendo também se desviar do caminho. Entretanto quando isto acontece, outros Exus no mesmo patamar evolutivo ou superior, além dos próprios enviados de Orixá, impedem que esse desvio atinja o médium que normalmente nem toma conhecimento do que aconteceu. Além do mais isso deve ser encarado como um fato isolado, e não como um acontecimento de toda falange, e faz parte de nossa obrigação como médiuns ajudar também os nossos guardiões, mantendo-nos sempre equilibrados e harmônicos com nossos Orixás, para que não lhes peçamos coisas que poderão “desviá-los” da sua real função, pois a verdade é que eles não se desviarão, mas poderão ser “atrapalhados” por nós.
Todas as vezes que baixamos a nossa faixa vibratória, abrimos guarda para a manifestação de espíritos trevosos, dificultando os trabalhos de defesa de Exu e de proteção de nossos Caboclos e Pretos Velhos, portanto, o quanto o nosso Exu/Pomba Gira evoluirá, está intimamente ligado a o quanto nos empenhamos para que isto aconteça.
Cultuemos então esses valorosos trabalhadores para que adquiram a evolução necessária para um dia virem a trabalhar como um representante e/ou enviado de Orixá.
Mãe Iassan
Fonte: Livro -
Umbanda - Mitos e Realidade
Texto RESUMIDO

Conversando sobre ExuDizem que Exu é homem sério, carrasco, espírito sem compaixão alguma. Muitos falam que nem mesmo sentimento essas entidades têmMuitos temem Exu, relacionando–o com o Diabo ou com algum dessesmonstros cavernosos que a mente humana é capaz de criar.
Bem... dia desses, no campo santo de meu pai Omulu, o cemitério, vialgo inusitado, que me fez pensar...
Um desses Exus Caveiras, que apresentam essa forma plasmada comomeio de ligação à falange a que pertencem, chorava sobre um túmulo. Discretamente, isso devo dizer. Afinal, os Caveiras, em sua maioria,são de natureza recatada e introspectiva. Mas chorava sim.
Engraçado pensar nessa situação, não é mesmo? Ele chorava peloserros do passado, chorava por uma pessoa a que amava muito, mas quejá não tem mais por perto. Claro, sabe que ninguém morre, mas asaudade e o remorso apertavam fundo seu coração.
Isso acontece muito no plano espiritual, onde, muitas vezes, os laços são rompidos, devido às diferenças vibratórias. Na verdade,eles não se rompem, mas apenas se afrouxam um pouco...
Mas, voltando à nossa história, fiquei pensando muito sobre aquela visão. Pensei que ninguém acreditaria em mim, se eu contasseesse "causo" a alguém. Afinal, Exu é homem acima do bem e do mal, Exu não tem sentimento, Exu não chora...
E para aqueles, então, que endeusam "seu" Exu, pensando ser ele um grande guardião, espírito da mais alta elite espiritual, espírito corajoso, sem medos, violento guerreiro das trevas. Acaba que, na Umbanda, Exu assume um arquétipo, ou mito, tão supra–humano, que,muitas vezes, deixa de ser apenas o mais humano da própria Umbanda.
Arquétipo esse, diga–se de passagem, muito diferente do Orixá Exu, o arquétipo base para a formação do que chamamos de Linha de Esquerda dentro do ritual de Umbanda.
É, eu acho que todo Exu chora. Assim como eu e você também. Todo mundo chora, pois todos temos dores, remorsos e tristezas. Isso é humano. Mas, voltando ao campo santo...
Logo depois vi outro Exu, vestindo uma longa capa preta, aproximar-se do triste amigo Caveira. O que conversaram não sei, pois não ouvie não estava apto a ler os seus pensamentos. Mas uma coisa é certa: os dois saíram a gargalhar muito!
Engraçado... Como é que pode? Estava chorando até agora e, de repente, sai rindo, de uma hora pra outra? - pensei, contrariado.
Fiquei alguns dias refletindo sobre isso e cheguei a uma conclusão.
A principal característica de todo Exu é o seu bom–humor. Afinal,mesmo em situações muito complicadas, eles sempre têm uma boa gargalhada para dar. Na pior situação, mesmo que de forma sarcástica, eles se divertem. Eles podem escrever certo por linhas tortas, errado por linhas retas, errado por linhas tortas, ou sei lá mais o quê, mas uma coisa é certa: vão escrever gargalhando.
Admiro esse aspecto de Exu. Tem gente que, de tanto trabalhar com Exu, torna–se sério, faz "cara de mau", vive reclamando da vida, além de tornar–se um grande juiz. A verdade é que nunca vi Exu reclamar de nada, nem julgar ninguém. Pelo contrário, o que vejo é Exu nos ensinar a não reclamar da vida, pois tem gente que passa por coisa muito pior e o faz com honra e ... bom–humor!
Vejo também que Exu não julga ninguém. Afinal, quem é ele, ou melhor, quem somos nós para julgarmos alguém? Exu ensina que o que nós muito condenamos, assim o fazemos porque isso nos incomoda. E sabe por quê? Porque tudo que condenamos aparece em nós, antes de aparecer nos outros.
Por isso Exu não gosta de falso pregador, que vive dizendo aos outros como devem agir, vive dizendo o que é certo, vive alertando os outros contra a vaidade, vive julgando, mas, no dia a dia, pouco aplica as regras que impõe para os outros. O mundo está cheio deles. E Exu sorri quando encontra um desses. Mais para frente eles serão engolidos por si mesmos. Pela própria sombra. Mas Exu não ri porque fica feliz com isso. Muito pelo contrário. Ele até sente por aquela pessoa, mas já que não dá pra fazer outra coisa, o melhor é sorrir mesmo, não é?
O certo é que a linha de Exu nos coloca frente a frente com o inimigo! Mas aqui não estamos falando de nenhum "kiumba", assediador ou obsessor, mas sim de nós mesmos. O que eu já vi de médium perdendo a compostura quando "incorporado" com Exu, não é brincadeira. Muitos colocam suas angústias para fora; outros, seus medos e inseguranças; muitos, seus complexos de inferioridade. Tudo isso Exu permite, para que a pessoa perceba o quanto é complicada e enrolada naquele sentido da vida.
Mas dizem que o pior cego é aquele que não quer ver... E o que tem de gente que não quer enxergar os próprios defeitos... Aí não resta outra opção para Exu, a não ser sorrir e sorrir mesmo quando nós nos damos mal.
Mas, ainda falando dos múltiplos aspectos contraditórios de Exu, pois ele é a contradição em pessoa, devo relatar aqui mais uma experiência surpreendente sobre a sua natureza.
Dia desses, depois de um "pesado trabalho de esquerda", fiquei refletindo sobre algumas coisas. E sempre que faço isso, algo estranho acontece.
Nesse trabalho, muitos kiumbas, espíritos assediadores, obsessores, eguns, ou seja qual for o nome que queiram dar, foram recolhidos e encaminhados pelas falanges de Exu que estavam presentes. Sabe como é... na Umbanda, a gente não pega um livro pesado e começa a doutrinar os espíritos "desregrados da seara bendita". A gente entra com a energia, com a mediunidade e com os sentimentos bacanas, deixando o encaminhamento e a "doutrinação" desses amigos mais revoltados nas mãos dos guias espirituais.
Esse trabalho foi complicado. Muitos, na expressão popular, estavam "demandando o grupo", ou seja, estavam perseguindo nosso grupo de trabalho e assistência espiritual, pois tinham objetivos e finalidades diversas e opostas.
Ninguém tinha arriado um ebó na encruzilhada contra a gente. Eram atuações vindas de inteligências opostas ao trabalho proposto e atraídas pelas "brechas vibratórias" de nossos próprios sentimentos e pensamentos.
Mas que na Umbanda ainda se pensa que tudo de errado é culpa de algum ebó na encruzilhada, isso é verdade...
Bom, o que sei é que, alguns dias depois, durante a noite, enquanto eu dormia, alguém me levou até um estranho lugar. Eu estava projetado, desdobrado, desprendido do corpo físico, ou qualquer outro nome que vocês queiram dar. Fenômeno esse muito estudado por diversas culturas espiritualistas do mundo. Fenômeno esse muito comum também dentro da Umbanda, mas pouco estudado. Afinal, muitos pensam que Umbanda é "só incorporar" os guias e, de preferência, de forma inconsciente! Sei, sei... Olha Exu gargalhando novamente!
Nesse local, muitos espíritos eram levados até mim e eu projetava energias de cura para eles. Vi várias pessoas projetadas no ambiente, inclusive gente muito próxima, do grupo. Alguns um pouco conscientes, outros completamente inconscientes. Mas o importante era a energia mais densa que vinha pelo cordão de prata e que auxiliava no tratamento daqueles irmãos sofredores.
Por quanto tempo fiquei lá não sei, já que a noção de tempo e espaço é muito diferente no plano astral. O que sei é que, em um certo momento, um Exu, que tomava conta do ambiente, veio conversar comigo:
- Está vendo quanto espírito a gente tem "pego" daquelas reuniões que vocês fazem? - perguntou ele.
- Nossa, quantos! Muito mais do que eu podia imaginar.
- E isso não é nada, comparado aos milhares que chegam, diariamente, "das muitas casas" dos guardiões da Umbanda, espalhadas pelo Brasil.
- Puxa!, mas isso é sinal que o pessoal anda trabalhando bem, não é mesmo?
- Hahahaha, mas você é um idiota mesmo, né? Desde quando fazer isso é um bom trabalho? Milhares chegam, mas sabem quantos saem daqui? Poucos! A maioria também para servir as falanges de Exu. O grande problema é que os médiuns de Umbanda pouco ou nada cuidam dos que aqui ficam precisando de ajuda.
- Nossa missão aqui é transformar os antigos valores desses espíritos, mesmo que seja através da dor. Mas, depois disso, muitos precisam ser curados, tratados. E, dessa parte, os umbandistas não querem nem saber!
- Ah, eu ainda pego o maldito que disseminou que Umbanda só serve para cortar magias negras e resolver dificuldades materiais. Vocês adoram falar de amor e caridade, mas quase ninguém se lembra de vir até aqui cuidar desses espíritos que vocês mesmos mandam para cá.
- É que muitos não sabem como fazer isso, amigo! - tentei eu defender os umbandistas.
- Claro que não sabem! Só se preocupam em "cortar demandas", combater feitiços e destruir "demônios das trevas". Grandes guerreiros! Mas nada fazem sem os vossos Exus, parecendo mais grandes bebês chorões, querendo brincar de guerra!
- Lembre–se bem. Todos que a mão esquerda derrubar terão de subir pela mão direita. Essa é a Lei. Comecem a se conscientizar de que ninguém aqui gosta de ver o sofrimento alheio. Comecem a ter uma visão mais ampla do universo espiritual e da forma como a Umbanda se relaciona com ele.
- Dediquem–se mais a esses que são encaminhados nos trabalhos espirituais. Orem por eles, façam uma vibração por eles, tratem–nos com a luz das velas e do coração. Busquem conhecimento e uma forma de auxiliá–los.
- Quero ver se amanhã, quando você não agüentar mais o chicote e não tiver ninguém para lhe estender a mão, se você vai achar tão "glamoroso" esse ciclo infernal de demandas, perseguições emagias negativas. Isso aqui é só sujeira, ódio, desgraça e tristeza. Poucos têm coragem de pousar os olhos sobre essas paragens sombrias.
- É, isso é verdade. Muitos falam, mas poucos realmente conhecem a verdadeira situação do astral inferior, à qual a Umbanda e toda a humanidade está ligada, não é mesmo?
- Hahaha, até que você não é tão idiota! Olha, vou dar um jeito de você se lembrar dessa conversa toda ao acordar. Veja se escreve isso para os seus amigos umbandistas! E pare de reclamar da vida. Quer melhorar? Trabalhe mais!
- Está certo, seu Exu Ganga. Só mais uma coisa. Um dia desses li num livro que Ganga é uma falange relacionada ao "lixo". Mas você se apresenta como um negro e, a julgar por esses facões nas suas mãos, acho que nada tem a ver com lixo...
- Lixo é esse livro que você andou lendo! Ganga é uma corruptela do termo Nganga, do tronco lingüístico bantu. Quer dizer "o mestre", aquele que domina algo. O termo foi usado por muitos, desde sacerdotes até mestres na arte da caça, da guerra, da magia, etc. Algo parecido com o Kimbanda, mas esse mais relacionado diretamenteà cura e à prática de Mbanda. A linha de Exus Ganga é formada por antigos sacerdotes e guerreiros negros. É isso! Veja se queima a porcaria do livro onde você leu essa besteira de "lixo"...
Pouca coisa lembro depois disso.
Despertei no corpo físico, era madrugada e não fui dormir mais.
Agora estou acabando de escrever esse texto, onde juntei duas experiências sobre os Exus. Não sei porque fiz isso, talvez pelo caráter desmitificador da sua figura.
Para falar a verdade, essas duas histórias são bem diferentes.
Primeiro um Exu que chora, sorri e ensina o bom–humor, o autoconhecimento e o não julgamento. Depois um Exu que se preocupacom o pessoal "lá de baixo".
Diferente, principalmente daquilo que estamos acostumados a ouvir dentro do meio umbandista. Talvez Exu esteja mudando. Talvez nós, médiuns e umbandistas, estejamos mudando. Talvez a Umbanda esteja mudando.
Ou, quem sabe, a Umbanda e os Exus sempre foram assim, nós é que não compreendemos direito aquilo que está muito perto de nós, mas, ao mesmo tempo, é tão diferente.
Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver...
(Fernando Sepe)

Anjos ou Demônios
Doutrinados nas leis da Umbanda, os Exus e Pomba-giras são emissários, elo entre os homens e os Orixás.
Subordinados às energias superiores, são compro­missados com as leis divi­nas e estagiam em graus médios da espiritualidade, praticando o bem, caminhando na luz em bus­ca de sua própria evolução. Tri­lham no astral inferior apenas para combater o mal: desfazem feitiços, trabalhos de magia negra em pes­soas e ambientes; resgatam os espíritos malígnos e obsessores, responsáveis por separações de casais; vícios de bebidas e drogas; embaraços nos negócios; pertur­bações; discussões em família e uma infinidade de malefícios… En­caminham estes espíritos a um guardião-chefe, onde passam por uma triagem e, após se redimirem de seus erros, são batizados e preparados para cumprir sua missão, juntamente com o Exu que lhes resgatou. Esses Exus, no cumprimento de suas missões, evoluem: são co­roados e recebem, por mé­rito de seu sacrifício, a con­dição de progredirem como elementos da linha positi­va.
É comum ouvir dizer que sem Exu não se faz nada. Isso se dá pelo fato destas entidades estarem frente aos combates es­pirituais, prestando defe­sa e proteção, e não por­que são vingadores, traí­ras ou forças do mal, como a maior parte das lendas nos leva a pensar.
Entretanto cabe lem­brar, que o estágio evolutivo de Exu é inferior ao dos caboclos, baianos, pretos-velhos, etc., o que também não significa que não sejam evoluídos - ape­nas encontram-se num es­tágio abaixo. Sua energia é mais densa e sua vibração ou força de incorporação está mais próxima ou simi­lar à vibração da Terra, exi­gindo dos médiuns uma concentração diferenciada da que possam sentir ao in­corporarem um caboclo, um baiano ou preto-velho. Fato é que, quanto mais evoluída for a entidade a ser incorporada, mais sutil será a incorporação e a energia sentida. Há também de se lembrar que, quando um médium incorpora um Exu ou Pomba-gira, ele está ativando seus chackras infe­riores, e, se este médium for despreparado ou tiver conduta questionável, po­derá interferir na incorpo­ração: ele dará vazão aos seus sentimentos meno­res, transferindo para o Exu o seu tipo de compor­tamento e neste caso não há dúvidas: o médium está mistificando um ato sagra­do da espiritualidade.
Outro aspecto a ressal­tar é que esse estágio es­piritual, onde se encontra Exu, em nada o impede de trabalhar harmoniosamen­te com as entidades mais evoluídas, até porque a questão hierárquica, no Pla­no Astral, é sublimada: lá não existem disputas pelo poder, pois, todos estão conscientes de suas tare­fas e de seus graus.

Exú não é fofoqueiro!!!
É comum nos depararmos com a seguinte afirmação de alguns umbandistas:
"Tudo eu sei. Não adianta me trair, falar mentiras, que eu tenho um exú que faz com que a verdade de alguma forma chegue até mim. Cedo ou tarde eu fico sabendo de tudo".
Geralmente, quando ocorre tal afirmação, a intenção de quem pronuncia este tipo de frase é de intimidar os ouvintes e forçar a fidelidade através do medo. Muitas vezes, já ouvimos isto da boca de dirigentes de terreiros.
O desejo das pessoas que falam este tipo de absurdo é tornar quem escuta, reféns de uma capacidade que elas na verdade não possuem. Escolhem o Exú como a entidade que realiza este papel por alguns motivos:
1) o peso que a entidade Exú possui na imaginação das pessoas (força cega que faz o bem e o mal, dependendo da ordem que lhe for dada e do pagamento que lhe for ofertado), logo pode vir a ser usado para aplicar punições;
2) por considerarem esta entidade como aquela que trata dos assuntos mais terrenos (demandas, dinheiro, amor, magia etc.), o que referenda a sua capacidade de agir conforme ordenado;
3) Exú também é o mensageiro dos Orixás ou como dizem o escravo, logo servindo também de "menino de recados";
4) as lendas e tradições que falam da necessidade de se aplacar a ira de Exú antes de se iniciar qualquer ritual, para que o mesmo não provoque nenhum problema, o que faz de Exú uma entidade chegada a armar um maior barraco, como se diz no popular.
Baseado nestas crenças, Exú serve então, muito bem, para mensageiro e revelador de intrigas, mentiras, traições etc.
Nada mais absurdo e ignorante!
Exú é o executor da justiça kármica!
É uma entidade com hierarquia, direitos de trabalho dentro da Umbanda/Quimbanda bem definidos.
Tem responsabilidades e respondem por seus atos, assim como todos nós.Exús são espíritos evolutivos e trabalham sim, para combater as demandas, bruxarias, feitiçarias e demais situações, que exijam o seus conhecimentos milenares nestes tipos de causas.
Não são forças cegas, como desejam alguns. São entidades justas, pois executam esta justiça. Respondem aos Orixás como executores da Lei e não como seus escravos.
Para Exú não existe o que é certo e errado e sim o que é justo e merecido, seja isto aos olhos de quem recebe bom ou ruim.
Em outras palavras Exú é que faz as coisas acontecerem. Isto apenas para ficar em algumas de suas principais características e funções.
Agora, voltando ao caso acima descrito, realmente a pessoa que pronuncia a frase que iniciamos o texto, tem sim uma capacidade ou um dom... Esta capacidade ou dom é chamado de FOFOCA. O mensageiro não é um Exú, mas sim uma entidade (ser humano) chamado de FOFOQUEIRO(A).
O que acontece é que as pessoas e locais onde normalmente ocorrem este tipo de situação, vivem e se alimentam constantemente de intrigas, confusões, leva-e-traz, disse-me-disse e toda sorte de artimanhas produzidas pelo mexerico e especulações.
Quando se trata do dirigente a situação se agrava e compromete toda a coletividade.
Ao se sentir traído, ao querer apurar uma história, ao se deparar com a mentira, por que não chamar os envolvidos e manter uma conversa franca, um diálogo aberto, na tentativa de que prevaleça a verdade e se encontre uma solução para o caso?
Não optando por este caminho, válido e saudável para a vida espiritual e material da coletividade, preferindo se informar e formatar o seu juízo de valor pela conversa de outros, o dirigente demonstra incapacidade, fragilidade moral, medo e extrema covardia.Fatos como este provocam uma rede emaranhada de problemas em um terreiro. Quando se percebe, a desunião e a dispersão dos adeptos já está de tal forma que não é mais possível fazer a união.
Alerta, irmão umbandistas! Se uma situação como esta existirem em suas casas espirituais, lembrem-se, que o objetivo da Umbanda é um só: a prática do bem do amor, da caridade, a evolução espiritual dos adeptos e de quem bate a porta.
Exú não tem nada haver com esta rede de intrigas. Exú não é fofoqueiro!!!
Caio de Omulu

Médium e Exú
Muitas vezes, ele funciona como um espelho, refletindo em seu comportamento os defeitos e qualidades de seu médium. Não estamos falando aqui de mistificação nem animismo e sim de um comportamento em que pela convivência um exterioriza qualidades e defeitos do outro. Apesar de Exu ter opinião própria, e manifesta em linguagem simples e direta de forma que todos entendam. É ele a entidade mais próxima a nossa realidade e anseios materiais. Quando o médium começa a se desenvolver costuma ouvir que há a necessidade de doutrinar seu Exu. É natural que o médium não tenha doutrina no inicio de sua jornada espiritual e Exu exterioriza isso em seu comportamento, após boa doutrinação da entidade veremos a necessidade de doutrina também para o médium que acaba de chegar na casa. Durante o desenvolvimento mediúnico é ainda natural que o Exu se apresente pedindo sua oferenda, pois sua força é potencializadora e vitalizadora da mediunidade.
Este mesmo médium que está iniciando na Umbanda encontra todo um universo novo aos seus olhos e Exu costuma ser algo intrigante e fascinante ao mesmo tempo; quando não uma entidade, força, que assusta um pouco os que não o conhecem.
A questão é: Enquanto o médium estiver preocupado com a doutrina de “seu” exu estará também doutrinando-se, subconscientemente!
Devemos, sim, estar atentos quando nos deparamos com entidades de esquerda sem doutrina, muitas vezes estão chamando nossa atenção a seu médium para que tomemos uma atitude doutrinária em relação a ambos.
Tudo isso é bem diferente de um obsessor ou quiumba, trazido por transporte, que normalmente tem comportamento rude e agressivo. Falamos aqui do Exu de lei que acompanha o médium como entidade de trabalho na esquerda.
Não devemos subestimar exu, achando que é entidade sem luz desprovida de evolução, observando apenas um aspecto externo e superficial, pois quando vamos com a farinha ele já voltou com a farofa, devemos sim ficar atentos com o que nos dizem nas entrelinhas ou o que querem nos passar, quando não podem ou não se sentem a vontade para revelar.
Quanto ao que pode revelar, pergunte a ele sobre seu médium e o comportamento do mesmo e verá que Exu é o primeiro a apontar os defeitos de seu “cavalo” e isto está ainda dentro da qualidade especular de Exu.
No desenvolvimento mediúnico é ele um elemento de muita importância, pois dá força e potencializa as faculdades mediúnicas, não é difícil encontrarmos exu pedindo para ser oferendado logo no inicio da vida mediúnica.
Em uma casa de luz, em um terreiro de umbanda de fato, exu não aceitará trabalhos de ordem negativa a favor de futilidades ou egoísmos. Veremos exu trabalhando com seriedade e em sintonia com as entidades da direita, ou seja não virá em terra para contrariar todo um trabalho de doutrina realizado por caboclos e pretos velhos. Encontraremos até exus dando consultas, limpando e descarregando consulentes, fazendo desobsessão e outras coisas mais dentro do mesmo objetivo e até dando bons conselhos aos que a ele procuram.
Por tudo isso somos gratos a exu e Pomba gira por trabalharem conosco a favor da luz, e afirmamos muito do que se fala de exu e pomba-gira ligado a magia negativa, nós desconhecemos, sabemos que muitos tentam se passar por exu, mas aí já não é mais Umbanda.
Umbanda acima de tudo é Amor e Caridade, exu não deve vir em terra para dar o contra no trabalho de direita. 
Matéria extraída do JUS – JORNAL DE UMBANDA SAGRADA

Exu - Nossos Guardiões
Uma energia da natureza. Ser elementar e Guardião das fronteiras que separa o mundo inferior do superior. Polícia de choque que persegue, prende e leva para os campos de orientação espiritual os espíritos perversos, que semeiam a discórdia, o ódio e a vingança entre os homens. Elo de ligação entre o ser humano e os Guias maiores, é ele que leva seus pedidos até eles, e cumpre severamente suas determinações.
Guardião não é mal, é uma energia que pode ser direcionada pela mente humana. Se o for para o bem, fará bem, se for para o mal, fará mal. O ser humano tem consciência do que é certo e do que é errado, mas age em desacordo com as leis divinas que, em um de seus mandamentos diz ” Ama teu próximo, como a ti mesmo “. O homem não cumpre esta lei, age por impulso e consciente do que faz, semeia a tristeza e a dor nos corações inocentes, direcionando esta energia somente para a maldade, sabendo que ele que existe no Universo outra lei que chamamos de ” Lei do Retorno “.
Muitos trabalham com entidades trevosas, que, ludibriando médiuns desesperados, se passam por Guardiões e praticam todos os tipos de atrocidades. As pessoas que trabalham com tais seres não passam de “Adeptos do Mal”, que cegos pelo egoísmo, e pelo desejo do poder, seguem fielmente suas ordens, não sabendo eles que o submundo os espera. E grande vai ser a surpresa, quando se sentirem arrastados por estes habitantes das trevas. Os seres a que me refiro acima, são Espíritos que ao longo de suas encarnações contraíram Karmas pesadíssimos, com a maldade que semearam e ainda semeiam. Conscientes dos seus erros, se afundam nos poços fétidos dos Umbrais, arrastando consigo adeptos do mal que estarão sempre aos seus serviços.
O Guardião possui grande legiões de entidades que trabalham sob seu comando e , como ele, lutam para evoluir. São espíritos que já encarnaram, mas por terem vibrações muito próximas a "Terra" ainda sente algumas necessidades.
Quando pedimos à um Guardião para que o mesmo desmanche um trabalho de Magia Negra contra alguém, ele entrega este pedido aos espíritos que desmancham a Magia causadora do mal. Esses espíritos prendem as legiões que praticaram tal ato e as leva para o Guardião, que os envia para os campos de orientação espiritual. Assim, o Guardião evoluí e com ele as entidades que trabalham para o bem. Dia chegará em que não mais precisarão de tais trabalhos, porque passarão para uma nova etapa da evolução espiritual.
O Guardião está num estágio de evolução a que se submete as leis divinas, no qual é incumbido de cobrar ou resgatar os débitos de seres que estão na terra e dos que já estiveram na condição humana, a fim de alcançar no fim deste estágio um novo grau evolutivo dado por Deus aos seres do Universo. Se a humanidade varresse do Planeta a maldade que ela mesma semeou, e ainda semeia, o Guardião certamente iria para outros mundos cumprir sua missão, que é a de cobrar de cada ser do Universo e do mundo espiritual a maldade praticada que sempre se transforma em Karma. Mas o homem ainda não amadureceu para esta verdade.
Um Guardião é protetor. Guardião ( origem africana ) é o símbolo da fecundação e desenvolvimento. Carinhosamente tratado como “Compadre”, amigo íntimo e sempre presente para defender seu protegido.
Não se pode de forma alguma relacionar os espíritos obsessores aos Guardiões, que realmente existem e viveram encarnados na Terra. Não se pode confundir de forma alguma os Guardiões com o Diabo, ser criado por outras religiões.
Os Guardiões são orientados por Guias ( Caboclos e Pretos Velhos ) e trabalham como intermediários entre os Guias Maiores e os homens em missão do bem para a humanidade. Formam numerosas falanges, todas lideradas por grandes chefes agindo no nosso mundo. S
ão criaturas como nós, já tendo encarnado e desencarnado na Terra por muitas vezes.
Muitos exerceram aqui no mundo os mais altos postos e posições, por seu saber e inteligência, ou mesmos, os postos mais humildes e sem instrução e conhecimento algum.
Quando são bem recebidos, amados e respeitados, pelas suas vibrações poderosas, eles realizam trabalhos maravilhosos de curas, dão conselhos edificantes, praticam enfim o bem, semeando o eterno amor. São sublimes as suas realizações e sua atuação dentro da Umbanda prestando caridade é uma constante. O clima que eles criam, de puras e sadias vibrações, beneficiam a todos os presentes, proporcionando-lhes alegria e contentamento.
O Guardião é quem orienta os trabalhos práticos, abrindo as cerimônias, sentinela e protetor do Centro. Os trabalhos dos Compadres, suas provas assombrosas de força e poder, suas curas maravilhosas nas enfermidades dadas por incuráveis, nos mostra sua beleza de intenção.
Toda pessoa tem o Guardião particular, responsável pela força necessária ao seu desenvolvimento.
Sendo o senhor dos limites, inclusive no horário, seu momento mais próprio não poderia ser outro senão a fronteira entre os dias, isto é, a meia-noite.
Através do tempo, o Guardião poderá atingir graus de evolução espiritual enormes, de tal forma que poderão passar a integrar as falanges dos Caboclos e dos Pretos Velhos, praticando somente o bem, pelo simples prazer de praticá-los, porém não mais como Guardião, mas sim como Caboclos ou Pretos Velhos. 

Reedição do Texto Guardiões
Umbanda São Jorge


Lendas e Histórias - Exu

A lenda de (um) Exu da Meia Noite
Conta que em sua última encarnação ele foi um rico barão,viveu em Santos.
Aos 40 anos, foi a Portugal procurar uma esposa, que tinha 14 anos; casou-se com ela.
Em sua noite de núpcias, a moça não sangrou como ele esperava. Porém ele sabia que ela era virgem.
Contudo, ficou furioso com isso. Armou uma cilada pra ela, dizendo que ela tinha o traído.
Então ela fugiu com índios, sendo que ele para procura-la chegou a matar quase uma tribo inteira.
Quando ele a encontrou, ela tinha um filho dele.
Voltou a ficar com ela, depois de um tempo, o filho dele morreu.
Não demorando muito tempo, tiveram outro filho, que teve o mesmo destino do outro, falecendo depois de alguns anos.
Ele com remorso, contou a história para sua esposa do que ele tinha armado; ela novamente o largou.
Ele, doente, foi morrendo aos poucos em cima de uma cama; não comia, não tinha força sequer para se levantar.
Morreu aos poucos...
Do livro
Guardião da Meia Noite

 Conheça-te a ti mesmo
Congá firmado, corrente mediúnica a postos e na consulência consulentes pegavam suas senhas e se acomodavam como podiam, pois toda última sexta feira do mês é sempre assim, gira de Exu e o terreiro enche tanto que muitos ficam de pé e formam fila até o portão.
Na expectativa de milagres fáceis ou mesmo por achar que exu seja uma espécie de “Office-boy do além”, muitos recorrem aos terreiros solicitando soluções emergenciais às suas tormentas.
O dirigente abre a gira e após todo ritual pertinente os exus e pomba giras incorporam nos médiuns e aguardam o atendimento que acontece adiante...
- Salve tu moça!
- O ... oi... Bo...boa noite...
- Boa noite moça, é sua primeira vez por estas bandas?
- Sim.
- Seja bem vinda.
- Obrigada!
- O que lhe traz aqui?,
- Então Exu, é que meu irmão precisa separar da noiva...
- ...
- Pois é, ela só faz inferno na minha vida e sei que ele não é feliz, ele abandonou a família, eu moro com ele e ela está tirando-o do seio familiar...
- ...
- Bem, pensando nisso é que trouxe o RG dele, uma foto dela, uma roupa dela e endereço dele...
- “Mais uma serpente revestida de santa” – meditou o exu.
- Então Exu? O que fará para livra-lo desta piranha?
Esta afirmação bastou para que o Exu se manifestasse.
- Certo moça vamos ler o que vejo aqui, primeiro saiba que esta mulher que está com seu irmão o ama verdadeiramente sendo igualmente correspondida, ele jamais imaginou viver tamanho sentimento e nela encontrou o sentido de liberdade e crescimento. Liberdade porque finalmente se livrará de você, uma mulher encalhada e ressequida no coração, que não acredita no amor, não se movimenta para mudar sua realidade, vive do dinheiro que ele lhe dá e acomodada com esta vidinha e medo de perder tudo isto, sente-se no direito de ter o seu irmão como posse para que nada mude na sua vida a ponto de se propor a encomendar um “feitiço” para desgraçar a vida dele e por fim amarra-lo em você.
- Moça, esta é sinceramente uma das situações mais inusitadas que vivencio, uma irmã querendo amarrar o irmão, enquanto que o normal seria uma apaixonada querendo prender o apaixonado. Pior é este sentimento que te move, covarde e inescrupuloso...
A mulher já em prantos, reconhecendo o erro que cometera não consegue pronunciar uma palavra ao que o exu finaliza.
- Sendo assim, pegue esta roupa, fotos e demais elementos, volte pra sua casa, olhe no espelho e se envergonhe de ser o que está sendo, se proponha a mudar e trate bem esta mulher que será a companheira do seu irmão, tenha nela sua amiga que jamais irá te desamparar, antes de dormir ore ao Criador pedindo perdão por envergonha-lo.
- Desculpe Exu....
- Leve esta vela, acenda quando sentir vontade e lembre-se que neste dia se deparou com um Exu...tenha uma boa noite...
- Desculpe Exu...
Pois é leitor, estas situações são mais comuns do que parecem. Acredite, esta é uma história verídica e bem resumida que narra o egoísmo humano, a covardia e o julgo inversor de valores. Por vezes nos deparamos com situações que não nos pertencem, avaliamos atitudes, alegrias, tristezas e decisões das pessoas no nosso convívio sem que sejamos interpelados para isso, tomamos em nossas mãos o papel de juiz da vida alheia, promotor e executor de tudo aquilo que não nos compete.
Não vou me ater em delongas e proponho a você leitor, por algum momento se sentiu na história? Sobre quem e o que falaste nos últimos dias? Você fala ou escuta mais?
Responda sinceramente estas questões e ao se olhar no espelho lembre-se da frase tão preconizada pelo pensador Sócrates:
- Conheça-te a ti mesmo. Perceba como deve agir e seja feliz. 
Rodrigo Queiroz

LENDA DE (UM) EXU CAVEIRA
Sou exu, assentado nas forças do Sagrado Omulu e sob sua irradiação divina trabalho.
Fui aceito pelo Divino Trono e nomeado Exu a mais ou menos dois milênios, depois de minha última passagem pela terra, a qual fui um pecador miserável e desencarnei amarrado ao ódio, buscando a vingança, dando vazas ao meu egoísmo, vaidade e todos os demais vícios humanos que se possa imaginar.
Fui senhor de um povoado que habitava a beira do grande rio sagrado. Nossa aldeia cultuava a natureza e inocentemente fazia oferendas cruéis de animais e fetos humanos. Até que minha própria mulher engravidou e o sumo sacerdote, decidiu que a semente que crescia no ventre de minha amada, devia ser sacrificado, para acalmar o deus da tempestade. Obviamente eu não permiti que tal infortúnio se abatesse sobre minha futura família, até porque se tratava do meu primeiro filho. Mas todo o meu esforço foi em vão. Em uma noite tempestuosa, os homens da aldeia reunidos, invadiram minha tenda silenciosamente, roubaram minha mulher e a violentaram, provocando imediato aborto e com o feto fizeram a inútil oferenda no poço dos sacrifícios. Meu peito se encheu de ódio e eu nada fiz para conte-lo. Simplesmente e enquanto houve vida em mim, eu matei um por um dos algozes de minha esposa inclusive o tal sacerdote.
Passei a não crer mais em deuses, pois o sacrifício foi inútil. Tanto que meu povoado sumiu da face da terra, soterrado pela areia, tamanha foi a fúria da tempestade. Derrepente o que era rio virou areia e o que areia virou rio. Mas meu ódio persistia. Em meus olhos havia sangue e tudo o que eu queria era sangue. Sem perceber estava sendo espiritualmente influenciado pelos homens que matei, que se organizaram em uma trevosa falange a fim de me ver morto também. O sacerdote era o líder. Passei então a ser vítima do ódio que semeei.
Sem morada e sem rumo, mas com um tenebroso exército de homens odiosos, avançamos contra várias aldeias e povoados, aniquilando vidas inocentes e temerosamente assombrando todo o Egito antigo. Assim invadimos terras e mais terras, manchamos as sagradas águas do Nilo de sangue, bebíamos e nos entregávamos às depravações com todas as mulheres que capturávamos. Foi uma aventura horrível. Quanto mais ódio eu tinha, mais eu queria ter. Se eu não podia ter minha mulher, então que nenhum homem em parte alguma poderia ter.
Entreguei-me a outros homens, mas ao mesmo tempo violentava bruscamente as mulheres. As crianças, lamentavelmente nós matávamos sem piedade. Nosso rastro era de ódio e destruição completas. Até que chegamos aos palácios de um majestoso faraó, que também despertava muito ódio em alguns dos mais interessados em destruí-lo, pois os mesmos não concordavam com sua doutrina ou religião. Eis que então fomos pagos para fazer o que tínhamos prazer em fazer, matar o faraó.
Foi decretada então a minha morte. Os fiéis soldados do palácio, que eram muito numerosos, nos aniquilaram com a mesma impiedade que tínhamos para com os outros. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Isto coube na medida exata para conosco.
Parti para o inferno. Mas não falo do inferno ao qual os leitores estão acostumados a ouvir nas lendas das religiões efêmeras que pregam por aí. O inferno a que me refiro é o inferno da própria consciência. Este sim é implacável. Vendo meu corpo inerte, atingido pelo golpe de uma espada, e sangrando, não consegui compreender o que estava acontecendo. Mas o sangue que jorrava me fez recordar-me de todas as minhas atrocidades. Olhei todo o espaço ao meu redor e tudo o que vi foram pessoas mortas. Tudo se transformou derrepente. Todos os espaços eram preenchidos com corpos imundos e fétidos, caveiras e mais caveiras se aproximavam e se afastavam. Naquele êxtase, cai derrotado. Não sei quanto tempo fiquei ali, inerte e chorando, vendo todo aquele horror.
Tudo era sangue, um fogo terrível ardia em mim e isso era ainda mais cruel. Minha consciência se fechou em si mesma. O medo se apossou de mim, já não era mais eu, mas sim o peso de meus erros que me condenava. Nada eu podia fazer. As gargalhadas vinham de fora e atingiam meus sentidos bem lá no fundo. O medo aumentava e eu chorava cada vez mais. Lá estava eu, absolutamente derrotado por mim mesmo, pelo meu ódio cada vez mais sem sentido. Onde estava o amor com que eu construí meu povoado? Onde estavam meus companheiros? Minha querida esposa? Todos me abandonaram. Nada mais havia a não ser choro e ranger de dentes.
Reduzi-me a um verme, jogado nas trevas de minha própria consciência e somente quem tem a outorga para entrar nesta escuridão é que pode avaliar o que estou dizendo, porque é indescritível. Recordar de tudo isto hoje já não me traz mais dor alguma, pois muito eu aprendi deste episódio triste de minha vida espiritual.
Por longos anos eu vaguei nesta imensidão escura, pisoteado pelos meus inimigos, até o fim das minhas forças. Já não havia mais suspiro, nem lágrimas, nem ódio, nem amor, enfim nada que se pudesse sentir. Fui esgotado até a última gota de sangue, tornei-me um verme. E na minha condição de verme, eu consegui num último arroubo de minha vil consciência pedir socorro a alguém que pudesse me ajudar. Eis que então, depois de muito clamar, surgiu um alguém que veio a tirar-me dali, mesmo assim arrastado. Recordo-me que estava atado a um cavalo enorme e negro e o cavaleiro que o montava assemelhava-se a um guerreiro, não menos cruel do que fui.
Depois de longa jornada, fui alojado sobre uma pedra. Ali me alimentaram e cuidaram de mim com desvelo incompreensível. Será que ouviram meus apelos? Perguntava-me intimamente.
Sim claro, senão ainda estaria lá naquele inferno, respondia-me a mim mesmo.  Cale-se e aproveite o alvitre que vosso pai vos concedeu. - Disse uma voz vinda não sei de onde. O que eu não compreendi foi como ele havia me ouvido, já que eu não disse palavra alguma, apenas pensei, mas ele ouviu. Calei-me por completo.
Por longos e longos anos fiquei naquela pedra, semelhante a um leito, até que meu "corpo" se refez e eu pude levantar-me novamente. Apresentou-se então o meu salvador. Um nobre cavaleiro, armado até os dentes. Carregava um enorme tridente cravado de rubis flamejantes. Seu porte era enorme. Longa capa negra lhe cobria o dorso, mas eu não consegui ver seu rosto. Não tente me olhar imbecil, o dia que te veres, verás a mim, porque aqui todos somos iguais.
Disse o homem em tom severo. Meu corpo tremia e eu não conseguia conter, minha voz não saia e eu olhava baixo, resignando-me perante suas ordens.
- Fui ordenado a conduzir-lhe e tenho-te como escravo. Deves me obedecer se não quiser retornar àquele antro de loucos que estavas. Siga minhas instruções com atenção e eu lhe darei trabalho e comida. Desobedeça e sofrerás o castigo merecido.
- Posso saber seu nome, nobre senhor?
- Por enquanto não, no tempo certo eu revelarei, agora cale-se, vamos ao nosso primeiro trabalho.
- Esta bem. Segui o homem. Ele a cavalo e eu corria atrás dele, como um serviçal. Vagamos por aqueles lugares sujos e realizamos várias tarefas juntos. Aprendi a manusear as armas, que me foram dadas depois de muito tempo. Aos poucos meu amor pela criação foi renascendo. As várias lições que me foram passadas me faziam perceber a importância daqueles trabalhos no astral inferior. Gradativamente fui galgando os degraus daquele mistério com fidelidade e carinho.
Ganhei a confiança de meu chefe e de seus superiores. Fui posto a prova e fui aprovado. Logo aprendi a volitar e plasmar as coisas que queria. Foram anos e anos de aprendizado. Não sei contar o tempo da terra, mas asseguro que menos de cem anos não foram.
Foi então que numa assembléia repleta de homens iguais ao meu chefe, eu fui oficialmente nomeado Exu. Nela eu me apresentei ao Senhor Omulu e ao divino trono, assumindo as responsabilidades que todo Exu deve assumir se quiser ser exu.
- Amor a Deus e às suas leis;
- Amor à criação do Pai e a todas as suas criaturas;
- Fidelidade acima de tudo;
- Compreensão e estudo, para julgar com a devida sabedoria;
- Obedecer às regras do embaixo, assim como as do encima;
E algumas outras regras que não me foi permitido citar, dada a importância que elas têm para todos os Exus.
A principio trabalhei na falange de meu chefe, por gratidão e simpatia. Mas logo surgiu-me a necessidade de ter minha própria falange, visto que os escravos que capturei já eram em grande número. Por esta mesma época, aquele antigo sacerdote, do meu povoado, lembram-se? Pois é, ele reencarnou em terras africanas e minha esposa deveria ser a esposa dele, para que a lei se cumprisse. Vendo o panorama do quadro que se formou, solicitei imediatamente uma audiência com o Divino Omulu e com O Senhor Ogum – Megê e pedi que intercedessem para que eu pudesse ser o guardião de meu antigo algoz. Meu pedido foi atendido. Se eu fosse bem sucedido poderia ter a minha falange. Assim assumi a esquerda do sacerdote, que, na aldeia em que nasceu, foi preparado desde menino para ser o Babalorixá, em substituição ao seu pai de sangue. A filha do babalao era minha ex-esposa e estava prometida ao seu antigo algoz. Assim se desenvolveu a trama que pôs fim às nossas diferenças. Minha ex-mulher deu a luz a vinte e quatro filhos e todos eles foram criados com o devido cuidado. Muito trabalho eu tive naquela aldeia. Até que as invasões e as capturas e o comércio de negros para o ocidente se fizeram. Os trabalhos redobraram, pois tínhamos que conter toda a revolta e ódio que emanava dos escravos africanos, presos aos porões dos navios negreiros.
Mas meu protegido já estava velho e foi poupado, porém seus filhos não, todos foram escravizados. Mas era a lei e ela deveria ser cumprida.
Depois de muito tempo uma ordem veio do encima: Todos os guardiões devem se preparar, novos assentamentos serão necessários, uma nova religião iria nascer, o que para nós era em breve, pois não sei se perceberam, mas o tempo espiritual é diferente do tempo material. Preparamo-nos, conforme nos foi ordenado. Até que a Sagrada Umbanda foi inaugurada. Então eu fui nomeado Guardião à esquerda do Sagrado Omulu e então pude assumir minha falange, meu grau e meus degraus. Novamente assumi a obrigação de conduzir meu antigo algoz, que hoje já está no encima, feito meritóriamente alcançado, devido a todos os trabalhos e sacrifícios feitos em favor da Umbanda e do bem.
Hoje, aqui no embaixo, comando umaa falange dos Exus Caveira e somente após muitos e muitos anos eu pude ver minha face em um espelho e notei que ela é igual à de meu tutor querido o Grande Senhor Exu Tatá Caveira, ao qual devo muito respeito e carinho. Não confundam Exu Caveira, com Exu Tatá Caveira, os trabalhos são semelhantes, mas os mistérios são diferentes. Tatá Caveira trabalha nos sete campos da fé; Exu caveira trabalha nos mistérios da geração na calunga, porque é lá que a vida se transforma, dando lugar à geração de outras vidas. Onde há infidelidade ou desrespeito para com a geração da vida ou aos seus semelhantes, Exu Caveira atua, desvitalizando e conduzindo no caminho correto, para que não caiam nas presas doloridas e impiedosas, pois não desejo a ninguém um décimo do que passei. Se vossos atos forem bons e louváveis perante a geração e ao Pai Maior, então vitalizamos e damos forma a todos os desejos de qualquer um que queira usufruir dos benefícios dos meus mistérios. De qualquer maneira, o amor impera, sim o amor, e por que Exu não pode falar de amor? Ora se foi pelo amor que todo Exu foi salvo, então o amor é bom e o respeito a ele conserva-nos no caminho. Este é o meu mistério. Em qualquer lugar da calunga, pratique com amor e respeito a sua religião, pois Exu Caveira abomina traição e infidelidade, como, por exemplo, o aborto, isto não é tolerado por mim e todos os que praticam tal ato é então condenado a viver sob as hostes severas de meu mistério.
Peça o que quiser com fé, e com fé lhes trarei, pois todos os Exus Caveira são fiéis aos seus médiuns e àqueles que nos procuram.
A falange de Exus Caveira pertence à falange do Grande Tatá Caveira, os demais não posso citar, falo apenas do meu mistério, pois dele eu tenho conhecimento e licença para abrir o que acho necessário e básico para o vosso aprendizado, quanto ao mais, busquem com vossos Exus pessoais, que são grandes amigos de seus filhos e certamente saberão orientar com carinho sobre vossas dúvidas. Mais a mais, se um Exu de minha falange consegue vencer através de seu médium ou protegido, ele automaticamente alcança o direito de sair do embaixo e galgar os degraus da evolução em outras esferas.
Que o Divino Pai maior possa lhes abençoar e que a Lei Maior e a Justiça Divina lhes dêem as bênçãos de dias melhores.
Com carinho
Exu Caveira. 
José Augusto Barboza.

Lenda de um Exú Marabo
EXÚ MARABÔ DA FIM A CARREIRA DO KIUMBA E SEU CAVALO!
***
Exu Marabô está em terra. Os poucos filhos que acompanham aquele terreiro vibram com sua presença. Na assistência algumas pessoas ansiosas aguardam para serem atendidas. O Exú ri, dança, bebe desenfreadamente.
Atende uma filha da casa recém-casada. Fala para a filha tomar cuidado com o marido, pois ele vai traí-la em breve. A moça desespera-se. Ele então passa uma longa lista para realizar o trabalho salvador. Sabe que já plantou a semente irreversível da desconfiança no jovem casal. Na assistência um pequeno empresário aguarda atendimento. O Exú diz que a firma não falirá, para isso precisa de vultuosa quantia em dinheiro para trabalho urgente. Chega a vez de uma médium, filha de outro terreiro, que visita pela primeira vez a casa. Mais uma vez o compadre não se faz de rogado. Diz para a pequena sair do terreiro que freqüenta, pois segundo ele a mãe de santo não entende nada sobre Umbanda. E assim ele vai plantando a discórdia, a desunião, a dor.
Sempre que pode humilha publicamente os filhos da casa.
Os dias passam sem novidades.
O que ninguém ali imagina é que por trás daquela entidade que se diz chamar Marabô, está escondido um enorme quiúmba. Aproveitando-se do fato do tal pai de santo ser pessoa leiga, gananciosa e totalmente despreparado, ele domina o mental do incauto médium. Diverte-se com a angústia dos outros. Sempre que pode põe o pai de santo em enrascadas (cheques sem fundos, golpes que são descobertos constantemente, brigas e desunião em família). E o pai de santo não tem escrúpulos algum em usar o nome de um grande e respeitado Exú de Lei. Ao contrário, fica feliz em saber que aos poucos vai minando a credibilidade do verdadeiro Marabô. O Exú raciocina que o dia em que as trapalhadas colocarão tudo a perder e ele simplesmente abandonará o falso pai de santo à própria sorte. Não será o primeiro nem o último que ele abandonará. Afinal pensa o quiúmba, não fora ele que médium ainda novo, desenvolvendo, resolveu mistificar para dar uma abreviada no processo mediúnico de desenvolvimento? Não fora também por conta própria que o médium abandonara o terreiro de sua mãe de santo, sem ter preparo algum? Sem falar que enquanto esteve lá, desrespeitava os ensinamentos da casa, zombava dos irmãos de santo, dava golpes em tantos médiuns que muitos pediram até sua expulsão da casa? Pois então fora ele mesmo que atraiu o quiúmba e sendo assim essa sociedade duraria até quando fosse possível.
O ser do umbral ganhando energia negativa, achincalhando Marabô, e o falso pai de santo ganhando dinheiro. O quiúmba também aproveitava para trazer em terra seus falangeiros, que se aproveitam dos médiuns titubeantes da casa.
Hoje é dia de gira, no atabaque o atabaqueiro já está devidamente bêbado e sob influência dos asseclas do quiúmba. As filhas e filhos da casa cegos em sua fé e sob forte energia maléfica, são capazes de aceitar qualquer loucura ali realizadas. O falso Marabô está feliz, já olhou a assistência antes de incorporar.
Notou algumas pessoas que não lhe despertaram interesse.
Algumas mulheres velhas e sem dinheiro, um homem que também não traz dinheiro algum. Vai se divertir com eles. Pronto já está em terra!
Atende a assistência como de costume, diverte-se com as angústias, os medos, as dores daquelas pobres almas.
Chega a vez do homem que estava na assistência, ele adentra de maneira lenta. O quiúmba não lhe dá a mínima atenção.
Um erro fatal.
Pois assim que o homem fica frente a frente com o ser do umbral algo inusitado acontece: o homem incorpora, solta uma gargalhada jovial e desafiadora. Alguns médiuns do terreiro que mistificavam ou recebiam alguns asseclas do quiúmba “desincorporam” convenientemente.
O atabaqueiro de tão bêbado, acaba por cair ao lado do tambor.
A assistência não entende o que se passa.
O quiúmba entende, mas para ele é tarde demais.
Por estar incorporado ele não tem tanta desenvoltura como gostaria nesse momento crucial. Está só, já que os covardes que o seguiam fugiram dali.
Um verdadeiro Marabô está ali diante dele e avança em sua direção.
No congá as velas começam a queimar a cortina que protege o altar.
Na cafua a pinga aquecida pelas velas também se incendeia.
A assistência percebe que algo muito errado está acontecendo e fogem todos.
Antes o verdadeiro Marabô se vira para eles e mostra o quanto foram tolos em se deixar enganar. Fala que devem procurar ajuda, mas em terreiros sérios aonde se pratica a caridade, o amor e a união. Mostra o quanto foram usados.
O quiúmba protesta, mas é inútil, a máscara já caiu.
Marabô não está só, sua falange e muitos Exús de Lei estão adentrando no falso terreiro.
O quiúmba é capturado e levado para o Reino de Exú, onde pagará caro pela insolência.
O falso pai de santo está entregue a própria sorte.
As chamas consomem o terreiro velozmente.
Ao chegar as primeiras viaturas do Corpo de Bombeiro o oficial de plantão presencia uma cena que jamais esquecerá: no meio das chamas o pai de santo é tragado pelo fogo e desencarna diante dos olhos do atônito bombeiro.
Uma risada se faz ouvir. Marabô gargalha satisfeito do outro lado. Apesar das chamas o bombeiro sente um frio que lhe percorre a espinha. O terreiro e o "pai de santo" viram cinzas.
Justiça foi feita.
Saravá Senhor Marabô!!!

Mais uma lenda de (um) Exu Marabô
O reino estava desolado pela súbita doença que acometera a rainha. Dia após dia, a soberana definhava sobre a cama e nada mais parecia haver que pudesse ser feito para restituir-lhe a saúde.
O rei, totalmente apaixonado pela mulher, já tentara de tudo, gastara vultosas somas pagando longas viagens para os médicos dos recantos mais longínquos e nenhum deles fora capaz sequer de descobrir qual era a enfermidade que roubava a vida da jovem.
Um dia, sentado cabisbaixo na sala do trono, foi informado que havia um negro querendo falar com ele sobre a doença fatídica que rondava o palácio. Apesar de totalmente incrédulo quanto a novidades sobre o caso pediu que o trouxessem à sua presença. Ficou impressionado com o porte do homem que se apresentou. Negro, muito alto e forte, vestia trajes nada apropriados para uma audiência real, apenas uma espécie de toalha negra envolta nos quadris e um colar de ossos de animais ao pescoço. - Meu nome é Perostino majestade. E sei qual o mal atinge nossa rainha. Leve-me até ela e a curarei.
A dúvida envolveu o monarca em pensamentos desordenados. Como um homem que tinha toda a aparência de um feiticeiro ou rezador ou fosse lá o que fosse iria conseguir o que os mais graduados médicos não conseguiram?
Mas o desejo de ver sua amada curada foi maior que o preconceito e o negro foi levado ao quarto real. Durante três dias e três noites permaneceu no quarto pedindo ervas, pedras, animais e toda espécie de materiais naturais.
Todos no palácio julgavam isso uma loucura. Como o rei podia expor sua mulher a um tratamento claramente rudimentar como aquele? No entanto, no quarto dia, a rainha levantou-se e saiu a passear pelos gramados como se nada houvesse acontecido.
O casal ficou tão feliz pelo milagre acontecido que fizeram de Perostino um homem rico e todos os casos de doença no palácio a partir daí eram encaminhados a ele que a todos curava. Sua fama correu pelo reino e o negro tornou-se uma espécie de amuleto para os reis.
Logo surgiram comentários que ele seria um primeiro ministro que agradaria a todos, apesar de sua cor e origem, que ninguém conhecia.
Ao tomar conhecimento desse fato o rei indignou-se, ele tinha muita gratidão pelo homem, mas torná-lo autoridade? Isso nunca!
Chamou-o a sua presença e pediu que ele se retirasse do palácio, pois já não era mais necessário ali.
O ódio tomou conta da alma de Perostino e imediatamente começou a arquitetar um plano. Disse humildemente que iria embora, mas que gostaria de participar de um último jantar com a família real.
Contente por haver conseguido se livrar do incomodo, o rei aceitou o trato e marcou o jantar para aquela mesma noite.
Sem que ninguém percebesse, Perostino colocou um veneno fortíssimo na comida que seria servida e, durante o jantar, os reis caíram mortos sobre a mesa sob o olhar malévolo de seu algoz.
Sabendo que seu crime seria descoberto fugiu embrenhando-se nas matas.
Arrependeu-se muito quando caiu em si, mas seus últimos dias foram pesados e duros pela dor da consciência que lhe pesava.
Um ano depois dos acontecimentos aqui narrados deixou o corpo carnal vitimado por uma doença que lhe cobriu de feridas.
Muitos anos foram necessários para que seu espírito encontra-se o caminho a qual se dedica até hoje.
Depois de muito aprendizado foi encaminhado para uma das linhas de trabalho do Exu Marabô e até hoje, quando em terra, aprecia as bebidas finas e o luxo ao qual foi acostumado naquele reino distante.
Tornou-se um espírito sério e compenetrado que a todos atende com atenção e respeito.
Saravá o Sr. Marabô!

Obs.: A Falange do Exu Marabô é formada por inúmeros falangeiros que levam seu nome e esta é apenas uma das muitas histórias que eles têm para nos contar.
 
UMA HISTÓRIA  PARA VOCÊ - De (um) Exu Sete Encruzilhada das Almas
A noite convidava à festa,
Os sorrisos pairavam no ar,
Os olhos percorriam a Vida
E as estrelas se faziam brilhar.

Tudo era alegria
Naquele dia qualquer....
Eu havia lhe feito promessas,
Eu havia lhe dado presentes...
Mas não contava que a felicidade
Tivesse um preço tão ardente!

A bela tentou me avisar,
Correndo pela ladeira...
Mas, chegou tarde, a pobre,
Pois já era feita a colheita!

Foi nas quebradas da noite,
Lá pras bandas do Tuití...

As bebidas e as gargalhadas
Criavam imagens berrantes
Quando o alvoroço chegou,
Dando fim ao som da música
Que naquele instante parou!

O infeliz mau amado,
Ferido no seu orgulho
De homem, de fera, de alma carente,
Lançou-me na escuridão
Feito um bicho doente!
O golpe a mim desferido
Com punhal ainda pulsa
E ainda lembro da noite,
Que mais sozinho fiquei,
Olhando-me sem entender,
Meu corpo frio, escondido,
Servindo de alimento
Para os vermes, apodrecer!

A tocaia do destino
Cumpriu-se no seu ardor,
Não sei bem quem desferiu
A primeira garrafada...
Porém, caindo, cambaleando,
Ainda zonzo, entendi: 
- Eis-me a hora derradeira,
Eis que chega o meu fim!... 

Embora a dor me pungisse o corpo,
Queimando-me as entranhas,
Ainda puder reter os olhos
Naquele pobre infeliz,
Porém, mais pena senti de mim... 
- Deus do céu! O que eu fiz?! 
Ainda lembro do olhar
De um amigo assustado,
O único a chorar o pranto
Da minha triste despedida,
Que volto a encontrar no tempo,
Feito Alma, minha amiga!

A rua se fez deserta
No morro do Tuití.
Não se soube do indigente
Que ali teve seu fim!

Mas que engano tão irônico,
Lá estava eu a penar
E nem mesmo outro infeliz,
Que eu pudesse abraçar...

Fiquei na escuridão das trevas,
O que chamam de Umbral,
E não sei por quanto tempo
Eu paguei pelo meu mal!

Até que um dia, Deus louvado,
Uma luz se acendeu,
Em meu caminho solitário,
Uma alma intercedeu!

Estendeu a sua mão,
Num gesto protetor,
Tirando-me das trevas
E me dando seu amor.

Ao anjo que me salvou
Após tantas preces pedidas,
O meu feliz obrigado,
A minha eterna amizade,
Adeus às trevas e ao medo,
Bendigo, hoje, seu nome: 
Meu Amigo e Irmão Alfredo! 
Hoje na minha lida,
De ajudar e servir,
Lição tiro da vida,
Daquela que perdi...
Não fazer mal a si mesmo,
Muito menos ao seu irmão,
Pois as contas se ajustam,
Do outro lado do portão! 

Faço versos no Astral,
Como humilde versejador,
Canto as frases que repito
Para quem vem perguntar,
Pois hoje sou Exu pequenino
Na ânsia de ajudar,
Seguindo o Pai Maior
No seu gesto de amar!

E sou 7 Encruza por que jurei
7 mil vezes 7, perdoar
A toda e qualquer punhalada
Que me venha magoar!
E sou das Almas,.
Pois uma Alma sou,
Num eterno caminhar,
Em direção à Luz,
Sob o manto de Pai Oxalá

Sete Encruzilhadas das Almas

 História de (um) Exú Morcego
Em um castelo, inteiramente de pedra, mal cuidado e isolado no meio de uma floresta, típico daqueles pertencentes ao feudo europeu, vivia um homem branco e corpulento, trajando uma surrada roupa, provavelmente antes pertencente a um guarda-roupa fino.
Percebia-se o desgaste causado pelo passar do tempo, pois ainda carregava uma grossa e rica corrente de ouro de bom quilate, com um enorme crucifixo do mesmo cobiçado material. Parecia viver na solidão, muito embora no castelo vivessem vários serviçais.
Na torre do castelo, as janelas foram fechadas com pedra, e só pequenas frestas foram feitas no alto das paredes. A luz não podia entrar. A torre não tinha paredes internas, formando uma enorme sala, com pesada mesa de madeira tosca, tendo como iluminação dois castiçais de um só vela cada. Ao lado da tênue luz das velas, livros se espalhavam sobre a mesa, mostrando ser aquele homem um estudioso e que algo buscava na literatura.
De braços abertos, com um capuz preto cobrindo sua cabeça, emitia estranhos e finos sons, tentando descobrir o segredo da conhecida Sagrada Arte.
Pelas frestas da torre, entravam e saiam voando vários morcegos com os quais ele procurava inspiração e força para atingir sua conquista. Por quê? Não sei. A idéia e as razões eram da estranha figura. Parecia um homem de fino trato, transfigurado na fixação de atingir um poder que não lhe pertencia.
Seu nome era Guland, hoje, ele trabalha como Guardião do Vale dos Suicidas e já teve seu corpo perispiritual muuuuuito deformado por suas sucessivas vidas interrompidas das mais diversas formas, e exatamente por isso levei mais de 4 anos, com o trabalho de sucessivas incorporações nas linhas de esquerda, entregas e rezas para que ele perdesse seu aspecto deforme, quase animalesco e voltasse seu aspecto humano. Gouland, este senhor alquimista tem muitos mistérios e segredos, mas nenhum deles causaram tanta admiração e respeito quanto sua linhagem de atuação, incorporado no terreiro como o querido mas temido Exu Morcego. Ele é um exu nervoso , anti-social, não é muito de prosa mas quando faz algum tipo de trabalho como ele mesmo diz "vai buscar voando " e sempre cumpre com o que diz.

O AMIGO
Sob um clarão de luz, caminhe adiante, com força e com vontade. Os percalços da vida são jogados ao léu, para se superar a caminho do céu! A presença de um amigo é tão bom de se sentir... eu te acompanho, eu te ajudo, é só você não desistir! A presença dos guias e a confiança no que fazem é tão importante quanto o ar que se respira. Basta apenas umas coisinhas, fé e confiança. Compreensão no que acontece. Depois da tempestade vem a bonança. Nunca abaixe a cabeça ou desanime no caminho, já contou quantos amigos tem? Tem eu e tem muitos outros, Malandrinho... Me chamam de "Cláudio", mas sou um "Irmão de Jornada", mais um espírito nas estradas da vida. Cada degrau, cada passada, é sempre uma experiência a ser vivida. Sou o amigo dos idos passados. Temos dívidas um com o outro, fora a grande amizade conquistada a duras penas, que não se esvai com facilidade. Basta coragem e alegria para vivermos em harmonia. Persistência e postura para subir lá nas Alturas. Depois olhar para baixo e ver quanta coisa passamos juntos e unidos, formando uma bela amizade, num laço de fraternidade. Quando pensava me conhecer de pouco, já te acompanhava a caminhada. A hora certa nos fez um ao outro conhecer. Depois sem perceber, gostar, apreciar... com defeitos e acertos, mesmo assim me ama, falar do meu modo de ser, que gosta e não reclama. Bela é sua conduta, agradeço o amor por mim, pois na mesma luta, subiremos sempre assim. Trabalho muito e por isso me alegro. Não se esqueça, amigo, que mesmo no meio da festa, estou a trabalhar, ajudando a quem precisa dessas águas se banhar, de um jeito ou de outro, da maneira que convém. Você me ajuda a subir, a me elevar, pois então, tome-me como exemplo pra sua cabeça não baixar. Se eu não quero parar, não vai ser você que vai estancar. Não viemos aqui e agora para estacionar e sim nos elevarmos a quem nos guia e comanda! Tomara, Deus, que eu possa te ajudar com essas pequenas palavras a ditar. Na minha mais pura ignorância, espero mandar para você um momento de paz e alegria, trazendo a você a harmonia interior desejada. Você me dá a chance de ser alguém e se depender de mim, não vai parar na estrada sem luz. Pois graças a Jesus, a oportunidade de felicidade em nossa jornada é dada a todos, sem deixar que a luz que há vá embora! Amigo é palavra chave. Como essa você tem muitos aqui, não nos deixe chupando o dedo, por simples medo. O medo e o escuro se supera. Caminhe com luz e altivez, como um Caboclo de luz e elevação. Mais embaixo estou eu, lhe cobrindo com as forças que tenho, para sua mais breve ascensão. Espero ter ajudado... se você tem lágrimas nos olhos, também tenho. Isso é sinal que valeu e confirma a união. Caminhe com Deus e a nossa jornada estará sempre livre e iluminada pelo Cristo. Com amor de um amigo... Seu guardião Claudio
Psicografia enviada ao
Pai Pequeno Julio,
no ano de 1994
 

 A lenda de (um) Exú Capa Preta
 O ônibus estava lotado, eu não conseguia vê-la, mas sabia que estava lá. Podia senti-la, captava sua angustia, sua indecisão, e acima de tudo seu medo. Ela não estava só, alem de mim, vi outros que a acompanhavam. Eram de outra faixa vibratória, pertenciam ao passado.
Tentavam envolvê-la com uma energia densa e pegajosa. Sempre que faziam isso ela ficava mais nervosa e também mais decidida. Eu os via, mas eles não me notavam. à medida que o ônibus avançava pelas ruas centrais mais e mais pessoas entravam. Todos apressados para chegar em casa. O coletivo corria em direção a periferia da cidade. Ela esta lá, meio deslocada, olhava com insistência um pedaço de papel. Ali em suas mãos o endereço que segundo ela mudaria seu destino. Ato continuo ela toca a campainha, o ônibus para, descemos... Aqueles que a acompanham, vibram, ela esta na iminência de servir como instrumento na vingança que planejam há muito tempo. Vibram com tanto ódio que ela enfureceu-se consigo mesma.
Como se deixara envolver por aquele rapaz? Tinha que resolver isso imediatamente e tratar de seguir sua vida, sem que seus pais soubessem. Ela verifica o número anotado, esta perto. Chega a uma casa humilde, como todas as outras ali no bairro. Toca a campainha é atendida por uma senhora que executara o serviço. A mulher a analisa rapidamente, já vira muitas iguais a ela, não tem tempo para conversa fiada.
Pede-lhe o dinheiro e manda que espere, pois existem duas mulheres na frente dela. Ela senta-se e aguarda. Eu tenho que agir rápido. Vibro minha espada no ar, e os seres trevosos que a acompanham estarrecem ante minha presença. Fatalmente eles me notam,agora ou correm ou me enfrentam. Decidem sabiamente pela primeira opção, saem da casa, mas ficam do lado de fora, tentando contatar outros que podem vir ajudá-los. Aproveito para me aproximar dela. Envolvo-a com minha capa, ela se acalma, por um instante, sugestionada por mim e titubeia. Já não tem certeza se deve continuar. Eu vibro em seu mental para que saia dali vá tomar um ar fresco lá fora. Ela me atende. Quando chega , ainda envolvida por minha capa, torna-se invisível para os que a acompanham. Tenho que me materializar. Ela assusta-se ao me ver, tenta gritar não consegue, tenta voltar para dentro da casa, mas eu a impeço. Chamo-a pelo nome, digo-lhe que não deve me temer, falo que venho em paz. Tenho uma missão: Evitar que ela faça o aborto. Não deve impedir aquele espírito de vir ao mundo. Pouco importa se a concepção fora fruto de uma aventura. Deve deixá-lo vir.
Será um menino, veio do passado para cumprir uma missão, ela não deve abortá-lo. Sei que seus pais não aprovarão a gravidez, mas me comprometo a acalmá-los e fazê-los aceitar. Ela chora, não entende como pode estar ouvindo aquilo. Falo com tanta firmeza que ela quer saber quem sou. Digo-lhe que me chamam de Exu Capa Preta, sou um guardião, protegerei o menino que ela carrega no ventre. Estarei ao lado dele a vida toda, acompanhando-o, guiando-o e protegendo-o. Portanto ele não deve temer. Chorando ela consente, avança para a rua, toma um ônibus e retorna para casa. Protejo-a durante a gravidez, o menino nasce forte e saudável, cresce sem sobressaltos como prometi. Sempre que acho conveniente deixo-o que me veja, aos poucos vou me apresentando. Hoje ele esta feliz, acabara de completar 18 anos.Seus amigos comemoram a data festiva. Movido pela curiosidade o rapaz resolve conhecer um terreiro de Umbanda. Estou ansioso, chegou meu grande dia! Ele chega, senta na assistência. Lá dentro uma gira de Exu. Eu já me entendi com o Exu chefe da casa, somos bem vindos. Quando ele entra para tomar um passe com linda Pomba Gira eu tomo-lhe à frente e incorporo. Abraço a moça com carinho, já nos conhecemos de longa data, fumo, bebo, canto. Daqui para frente haverei de incorporar sempre que necessário. E assim foi. Ele desenvolveu, abriu seu próprio terreiro, cumpre com amor e carinho sua missão. De minha parte não o abandono nunca. Estou sempre disposto e feliz. 
Salve Sr. Exu da Capa Preta
Por Cásso Ribeiro

Conversando sobre Exu
Dizem que Exu é homem sério, carrasco, espírito sem compaixão alguma. Muitos falam que nem mesmo sentimento essas entidades têmMuitos temem Exu, relacionando–o com o Diabo ou com algum dessesmonstros cavernosos que a mente humana é capaz de criar.
Bem... dia desses, no campo santo de meu pai Omulu, o cemitério, vialgo inusitado, que me fez pensar...
Um desses Exus Caveiras, que apresentam essa forma plasmada comomeio de ligação à falange a que pertencem, chorava sobre um túmulo. Discretamente, isso devo dizer. Afinal, os Caveiras, em sua maioria,são de natureza recatada e introspectiva. Mas chorava sim.
Engraçado pensar nessa situação, não é mesmo? Ele chorava peloserros do passado, chorava por uma pessoa a que amava muito, mas quejá não tem mais por perto. Claro, sabe que ninguém morre, mas asaudade e o remorso apertavam fundo seu coração.
Isso acontece muito no plano espiritual, onde, muitas vezes, os laços são rompidos, devido às diferenças vibratórias. Na verdade,eles não se rompem, mas apenas se afrouxam um pouco...
Mas, voltando à nossa história, fiquei pensando muito sobre aquela visão. Pensei que ninguém acreditaria em mim, se eu contasseesse "causo" a alguém. Afinal, Exu é homem acima do bem e do mal, Exu não tem sentimento, Exu não chora...
E para aqueles, então, que endeusam "seu" Exu, pensando ser ele um grande guardião, espírito da mais alta elite espiritual, espírito corajoso, sem medos, violento guerreiro das trevas. Acaba que, na Umbanda, Exu assume um arquétipo, ou mito, tão supra–humano, que,muitas vezes, deixa de ser apenas o mais humano da própria Umbanda.
Arquétipo esse, diga–se de passagem, muito diferente do Orixá Exu, o arquétipo base para a formação do que chamamos de Linha de Esquerda dentro do ritual de Umbanda.
É, eu acho que todo Exu chora. Assim como eu e você também. Todo mundo chora, pois todos temos dores, remorsos e tristezas. Isso é humano. Mas, voltando ao campo santo...
Logo depois vi outro Exu, vestindo uma longa capa preta, aproximar-se do triste amigo Caveira. O que conversaram não sei, pois não ouvie não estava apto a ler os seus pensamentos. Mas uma coisa é certa: os dois saíram a gargalhar muito!
Engraçado... Como é que pode? Estava chorando até agora e, de repente, sai rindo, de uma hora pra outra? - pensei, contrariado.
Fiquei alguns dias refletindo sobre isso e cheguei a uma conclusão.
A principal característica de todo Exu é o seu bom–humor. Afinal,mesmo em situações muito complicadas, eles sempre têm uma boa gargalhada para dar. Na pior situação, mesmo que de forma sarcástica, eles se divertem. Eles podem escrever certo por linhas tortas, errado por linhas retas, errado por linhas tortas, ou sei lá mais o quê, mas uma coisa é certa: vão escrever gargalhando.
Admiro esse aspecto de Exu. Tem gente que, de tanto trabalhar com Exu, torna–se sério, faz "cara de mau", vive reclamando da vida, além de tornar–se um grande juiz.
A verdade é que nunca vi Exu reclamar de nada, nem julgar ninguém. Pelo contrário, o que vejo é Exu nos ensinar a não reclamar da vida, pois tem gente que passa por coisa muito pior e o faz com honra e ... bom–humor!
Vejo também que Exu não julga ninguém. Afinal, quem é ele, ou melhor, quem somos nós para julgarmos alguém? Exu ensina que o que nós muito condenamos, assim o fazemos porque isso nos incomoda. E sabe por quê? Porque tudo que condenamos aparece em nós, antes de aparecer nos outros.
Por isso Exu não gosta de falso pregador, que vive dizendo aos outros como devem agir, vive dizendo o que é certo, vive alertando os outros contra a vaidade, vive julgando, mas, no dia a dia, pouco aplica as regras que impõe para os outros. O mundo está cheio deles. E Exu sorri quando encontra um desses. Mais para frente eles serão engolidos por si mesmos. Pela própria sombra. Mas Exu não ri porque fica feliz com isso. Muito pelo contrário. Ele até sente por aquela pessoa, mas já que não dá pra fazer outra coisa, o melhor é sorrir mesmo, não é?
O certo é que a linha de Exu nos coloca frente a frente com o inimigo! Mas aqui não estamos falando de nenhum "kiumba", assediador ou obsessor, mas sim de nós mesmos. O que eu já vi de médium perdendo a compostura quando "incorporado" com Exu, não é brincadeira. Muitos colocam suas angústias para fora; outros, seus medos e inseguranças; muitos, seus complexos de inferioridade. Tudo isso Exu permite, para que a pessoa perceba o quanto é complicada e enrolada naquele sentido da vida.
Mas dizem que o pior cego é aquele que não quer ver... E o que tem de gente que não quer enxergar os próprios defeitos... Aí não resta outra opção para Exu, a não ser sorrir e sorrir mesmo quando nós nos damos mal.
Mas, ainda falando dos múltiplos aspectos contraditórios de Exu, pois ele é a contradição em pessoa, devo relatar aqui mais uma experiência surpreendente sobre a sua natureza.
Dia desses, depois de um "pesado trabalho de esquerda", fiquei refletindo sobre algumas coisas. E sempre que faço isso, algo estranho acontece.
Nesse trabalho, muitos kiumbas, espíritos assediadores, obsessores, eguns, ou seja qual for o nome que queiram dar, foram recolhidos e encaminhados pelas falanges de Exu que estavam presentes. Sabe como é... na Umbanda, a gente não pega um livro pesado e começa a doutrinar os espíritos "desregrados da seara bendita". A gente entra com a energia, com a mediunidade e com os sentimentos bacanas, deixando o encaminhamento e a "doutrinação" desses amigos mais revoltados nas mãos dos guias espirituais.
Esse trabalho foi complicado. Muitos, na expressão popular, estavam "demandando o grupo", ou seja, estavam perseguindo nosso grupo de trabalho e assistência espiritual, pois tinham objetivos e finalidades diversas e opostas.
Ninguém tinha arriado um ebó na encruzilhada contra a gente. Eram atuações vindas de inteligências opostas ao trabalho proposto e atraídas pelas "brechas vibratórias" de nossos próprios sentimentos e pensamentos.
Mas que na Umbanda ainda se pensa que tudo de errado é culpa de algum ebó na encruzilhada, isso é verdade...
Bom, o que sei é que, alguns dias depois, durante a noite, enquanto eu dormia, alguém me levou até um estranho lugar. Eu estava projetado, desdobrado, desprendido do corpo físico, ou qualquer outro nome que vocês queiram dar. Fenômeno esse muito estudado por diversas culturas espiritualistas do mundo. Fenômeno esse muito comum também dentro da Umbanda, mas pouco estudado. Afinal, muitos pensam que Umbanda é "só incorporar" os guias e, de preferência, de forma inconsciente! Sei, sei... Olha Exu gargalhando novamente!
Nesse local, muitos espíritos eram levados até mim e eu projetava energias de cura para eles. Vi várias pessoas projetadas no ambiente, inclusive gente muito próxima, do grupo. Alguns um pouco conscientes, outros completamente inconscientes. Mas o importante era a energia mais densa que vinha pelo cordão de prata e que auxiliava no tratamento daqueles irmãos sofredores.
Por quanto tempo fiquei lá não sei, já que a noção de tempo e espaço é muito diferente no plano astral. O que sei é que, em um certo momento, um Exu, que tomava conta do ambiente, veio conversar comigo:
- Está vendo quanto espírito a gente tem "pego" daquelas reuniões que vocês fazem? - perguntou ele.
- Nossa, quantos! Muito mais do que eu podia imaginar.
- E isso não é nada, comparado aos milhares que chegam, diariamente, "das muitas casas" dos guardiões da Umbanda, espalhadas pelo Brasil.
- Puxa!, mas isso é sinal que o pessoal anda trabalhando bem, não é mesmo?
- Hahahaha, mas você é um idiota mesmo, né? Desde quando fazer isso é um bom trabalho? Milhares chegam, mas sabem quantos saem daqui? Poucos! A maioria também para servir as falanges de Exu. O grande problema é que os médiuns de Umbanda pouco ou nada cuidam dos que aqui ficam precisando de ajuda.
- Nossa missão aqui é transformar os antigos valores desses espíritos, mesmo que seja através da dor. Mas, depois disso, muitos precisam ser curados, tratados. E, dessa parte, os umbandistas não querem nem saber!
- Ah, eu ainda pego o maldito que disseminou que Umbanda só serve para cortar magias negras e resolver dificuldades materiais. Vocês adoram falar de amor e caridade, mas quase ninguém se lembra de vir até aqui cuidar desses espíritos que vocês mesmos mandam para cá.
- É que muitos não sabem como fazer isso, amigo! - tentei eu defender os umbandistas.
- Claro que não sabem! Só se preocupam em "cortar demandas", combater feitiços e destruir "demônios das trevas". Grandes guerreiros! Mas nada fazem sem os vossos Exus, parecendo mais grandes bebês chorões, querendo brincar de guerra!
- Lembre–se bem. Todos que a mão esquerda derrubar terão de subir pela mão direita. Essa é a Lei. Comecem a se conscientizar de que ninguém aqui gosta de ver o sofrimento alheio. Comecem a ter uma visão mais ampla do universo espiritual e da forma como a Umbanda se relaciona com ele.
- Dediquem–se mais a esses que são encaminhados nos trabalhos espirituais. Orem por eles, façam uma vibração por eles, tratem–nos com a luz das velas e do coração. Busquem conhecimento e uma forma de auxiliá–los.
- Quero ver se amanhã, quando você não agüentar mais o chicote e não tiver ninguém para lhe estender a mão, se você vai achar tão "glamoroso" esse ciclo infernal de demandas, perseguições emagias negativas. Isso aqui é só sujeira, ódio, desgraça e tristeza. Poucos têm coragem de pousar os olhos sobre essas paragens sombrias.
- É, isso é verdade. Muitos falam, mas poucos realmente conhecem a verdadeira situação do astral inferior, à qual a Umbanda e toda a humanidade está ligada, não é mesmo?
- Hahaha, até que você não é tão idiota! Olha, vou dar um jeito de você se lembrar dessa conversa toda ao acordar. Veja se escreve isso para os seus amigos umbandistas! E pare de reclamar da vida. Quer melhorar? Trabalhe mais!
- Está certo, seu Exu Ganga. Só mais uma coisa. Um dia desses li num livro que Ganga é uma falange relacionada ao "lixo". Mas você se apresenta como um negro e, a julgar por esses facões nas suas mãos, acho que nada tem a ver com lixo...
- Lixo é esse livro que você andou lendo! Ganga é uma corruptela do termo Nganga, do tronco lingüístico bantu. Quer dizer "o mestre", aquele que domina algo. O termo foi usado por muitos, desde sacerdotes até mestres na arte da caça, da guerra, da magia, etc. Algo parecido com o Kimbanda, mas esse mais relacionado diretamenteà cura e à prática de Mbanda. A linha de Exus Ganga é formada por antigos sacerdotes e guerreiros negros. É isso! Veja se queima a porcaria do livro onde você leu essa besteira de "lixo"...
Pouca coisa lembro depois disso.
Despertei no corpo físico, era madrugada e não fui dormir mais.
Agora estou acabando de escrever esse texto, onde juntei duas experiências sobre os Exus. Não sei porque fiz isso, talvez pelo caráter desmitificador da sua figura.
Para falar a verdade, essas duas histórias são bem diferentes.
Primeiro um Exu que chora, sorri e ensina o bom–humor, o autoconhecimento e o não julgamento. Depois um Exu que se preocupacom o pessoal "lá de baixo".
Diferente, principalmente daquilo que estamos acostumados a ouvir dentro do meio umbandista. Talvez Exu esteja mudando. Talvez nós, médiuns e umbandistas, estejamos mudando. Talvez a Umbanda esteja mudando.
Ou, quem sabe, a Umbanda e os Exus sempre foram assim, nós é que não compreendemos direito aquilo que está muito perto de nós, mas, ao mesmo tempo, é tão diferente.
Dizem que o pior cego é aquele que não quer ver...
(Fernando Sepe)
                                       
                                                LENDA - ORIXÁ EXU
Como todos sabem exu sempre foi ranzinza e encrenqueiro, adorava provocar confusões e fazia brincadeiras que deixavam a todos confusos e irritados. Certa manhã acordou desalentado, afinal quem era ele? Não fazia nada, não tinha poder algum, perambulava pelo mundo sem ter qualquer motivação. Isso não estava correto. Todos os orixás trabalhavam muito e tinham seus campos de atuação bem definidos e para ele nada fora reservado. Essa injustiça ele não iria tolerar. Arrumou um pequeno alforje e colocou o pé no mundo. Iria até o Orun exigir explicações. Depois de muito andar, finalmente chegou ao palácio de Olorun. Tudo fechado. Dirigiu-se aos guardas do portão e exigiu uma audiência com o soberano. Eles riram muito. Quem era aquele infeliz para vir ali e exigir qualquer coisa. Exu ficou enfurecido nem os guardas daquela porcaria de palácio o respeitavam. Passou então a gritar impropérios contra o grande criador. Imediatamente foi preso e jogado em uma cela onde ficou imaginando como sair daquela situação. Já estava arrependido de ter vindo, mas não daria o braço a torcer. Iniciou novamente a gritaria e tanto barulho fez que Olorun decidisse falar com ele. Exu explicou o que o trazia ali, falou da injustiça que se achava vitima e exigiu uma compensação. Pacientemente o pai da criação explicou que todos os orixás eram sérios e compenetrados, mas que ele, Exu, só queria saber de confusões e brincadeiras. Então como ousava tentar se igualar aos companheiros? Que fosse embora e não o aborrecesse mais. Era assim? Não prestava para nada? Era guerra? Resolveu fazer o que mais sabia. Comer! Todos sabiam de sua fome incontrolável desde o nascimento. Desceu do Orun e começou a atacar os reinos dos orixás. Comeu as matas de Oxóssi. Bebeu os rios de Oxum. Palitou os dentes com os raios de Xangô. O mar de Iemanjá era muito grande e ele foi bebendo aos poucos. A terra tornou-se árida e prestes a acabar. Por conta disso todos os orixás correram ao palácio em completo desespero. Exu imediatamente foi preso e arrastado novamente até o Orun, desta vez, porém, sentia-se vitorioso. Exigiu ser tratado com respeito e assumir um lugar no panteão divino. Se assim não fosse, nada devolveria e comeria o restante do mundo. Foi feita então uma reunião para se resolver o grande problema. Olorun não poderia julgar sozinho, todos que ali estavam tinham muito a perder. Depois de muita discussão chegaram a um consenso. Exu seria o mensageiro de todos eles, o contato terreno entre os homens e os deuses. Ele gostou, mas ainda perguntou: - E vou morrer de fome? - Nova discussão. Decidiram então que todos os orixás que recebessem oferendas entregariam uma parte a ele. Exu saiu satisfeito, agora sim tinha a importância que merecia, desceu cantarolando e devolvendo pelo caminho tudo que tinha comido. E a paz voltou a terra, mas ficou o recado: Com Exu ninguém pode!
   
Lenda de Tata Caveira (uma das lendas)
Tatá Caveira é um exu, ou seja, uma entidade que trabalha na Umbanda, através da incorporação de médiuns. 
Antes de ser uma entidade, Tatá Caveira viveu na terra física, assim como todos nós. Acreditamos que nasceu em 670 D.C., e viveu até dezembro de 698, no Egito, ou de acordo com a própria entidade, "Na minha terra sagrada, na beira do Grande Rio".

Seu nome era Próculo, de origem Romana, dado em homenagem ao chefe da Guarda Romana naquela época.

Próculo vivia em uma aldeia, fazendo parte de uma família bastante humilde. Durante toda sua vida, batalhou para crescer e acumular riquezas, principalmente na forma de cabras, camelos e terras. Naquela época, para ter uma mulher era necessário comprá-la do pai ou responsável, e esta era a motivação que levou Próculo a batalhar tanto pelo crescimento financeiro.

Próculo viveu de fato uma grande paixão por uma moça que fora criada junto com ele desde pequeno, como uma amiga. Porém, sua cautela o fez acumular muita riqueza, pois não queria correr o risco de ver seu desejo de união recusado pelo pai da moça.

O destino pregou uma peça amarga em Próculo, pois seu irmão de sangue, sabendo da intenção que Próculo tinha com relação à moça, foi peça chave de uma traição muito grave. Justamente quando Próculo conseguiu adquirir mais da metade da aldeia onde viviam, estando assim seguro que ninguém poderia oferecer maior quantia pela moça, foi apunhalado pelas costas pelo seu próprio irmão, que comprou-a horas antes. De fato, a moça foi comprada na noite anterior à manhã que Próculo intencionava concretizar seu pedido.

Ao saber do ocorrido, Próculo ficou extremamente magoado com seu irmão, porém o respeitou pelo fato ser sangue do seu sangue. Seu irmão, apesar de mais velho, era muito invejoso e não possuía nem metade da riqueza que Próculo havia acumulado.
A aldeia de Próculo era rica e próspera, e isto trazia muita inveja a aldeias vizinhas. Certo dia, uma aldeia próxima, muito maior em habitantes, porém com menos riquezas, por ser afastada do Rio Nilo, começou a ter sua atenção voltada para a aldeia de Próculo.

Uma guerra teve início. A aldeia de Próculo foi invadida repentinamente, e pegou todos os habitantes de surpresa. Estando em inferioridade numérica, foram todos mortos, restando somente 49 pessoas.

Estes 49 sobreviventes, revoltados, se uniram e partiram para a vingança, invadindo a aldeia inimiga, onde estavam mulheres e crianças. Muitas pessoas inocentes foram mortas neste ato de raiva e ódio. No entanto, devido à inferioridade numérica, logo todos foram cercados e capturados.

Próculo, assim como seus companheiros, foi queimado vivo. No entanto, a dor maior que Próculo sentiu "não foi a do fogo, mas a do coração", pela traição que sofreu do próprio irmão, que agora queimava ao seu lado.

Esta foi a origem dos 49 exus da linha de Caveira, constituída por todos os homens e mulheres que naquele dia desencarnaram.

Entre os exus da linha de Caveira, existem: Tatá Caveira, João Caveira, Caveirinha, Rosa Caveira, Dr. Caveira (7 Caveiras), Quebra-Osso, entre muitos outros. Por motivo de respeito, não será indicado aqui qual exu da linha de Caveira foi o irmão de Tatá enquanto vivo.
Como entidade, o Chefe-de-falange Tatá Caveira é muito incompreendido, e tem poucos cavalos. São raros os médiuns que o incorporam, pois tem fama de bravo e rabugento. No entanto, diversos médiuns incorporam exus de sua falange.

Tatá é brincalhão, ao mesmo tempo sério e austero. Quando fala algo, o faz com firmeza e nunca na dúvida. Tem temperamento inconstante, se apresentando ora alegre, ora nervoso, ora calmo, ora apressado, por isso é dado por muitos como louco.

No entanto, Tatá Caveira é extremamente leal e amigo, sendo até um pouco ciumento. Fidelidade é uma de suas características mais marcantes, por isso mesmo Tatá não perdoa traição e valoriza muito a amizade verdadeira. Considera a pior das traições a traição de um amigo.

Em muitas literaturas é criticado, e são as poucas as pessoas que têm a oportunidade de conhecer a fundo Tatá Chefe-de-falange. O cavalo demora a adquirir confiança e intimidade com este exu, pois é posto a prova o tempo todo.

No entanto, uma vez amigo de Tatá Caveira, tem-se um amigo para o resto da vida. Nesta e em outras evoluções.




A ENTIDADE
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