sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Segredo das Curas

O doutor Fortes era médico generoso. Interessava-se pelos doentes, fosse qual fosse a sua condição social. Amparava do senhor ao ultimo dos escravos, sem nenhuma distinção.
A técnica precária da medicina, na época, porém, quase o sempre colocava em desvantagem diante das enfermidades rebeldes.
Clinicamente, também, na enfermaria do Convento de Santo Antônio, desde a muito passara a observar aquele enfermeiro Fabiano de Cristo, que vencia onde ele se sentia derrotado.
Daquelas mãos dedicadas, vira doentes sem esperanças saírem recuperados e retornarem à vida comum, sem sinais das doenças que deveriam tê-lo vitimado.
Deveria haver, ali, algum segredo – conjeturava muitas vezes. E certo de que esse segredo existia, disfarçadamente inspecionava a cada um dos atos de Fabiano.
Talvez tudo estivesse na água! Sim! É que a cada doente em estado grave, Fabiano ministrava uma porção de água. E até para aqueles portadores de ferimentos graves, ele aplicava gotas d’água na região enferma, provocando miraculosamente a reversão do quadro e obtendo cicatrizações espantosas.
Fortes queria dominar aquele conhecimento.
- Há dias te observo trabalhando na enfermaria, irmão Fabiano! – irrompe o médico, após Fabiano de Cristo haver distribuído porções d`água a diversos internados. – Por mais que queiras negar, colocas nessa água algum recurso medicamentoso que desconheço.
O interpelado sorriu candidamente.
- Nada faço, que qualquer um outro não possa fazer, doutor!
- Desculpe-me, porém não creio! Afinal, eu te trouxe dois doentes irrecuperáveis, segundo os meus recursos médicos e, três dias após, ei-los refeitos e a te ajudar! E vi que nada lhes deste além da água.
O médico insistia:
- Se guardas avaramente teu segredo, lembra-te de teu dever de humanidade! Muitas outras pessoas poderiam retornar à normalidade da saúde, se me revelasses o teu conhecimento misterioso.
Fabiano, visivelmente constrangido diante do doutor Fortes, foi direto ao incisivo:
- Doutor, apiedo-me e muito diante de cada um que sofre. Eles chegam aqui e nada sei de enfermagem! Como socorrê-los? E, querendo minorar as suas dores, apanho as canecas com água e faço as minhas orações, para cada doente em particular.
E, diante do médico admirado, complementou:
- Sabendo que a vida vem de Deus, rogo ao Pai de misericórdia que abençoe a água que Ele próprio criou e que nela dê o seu sopro de vida, como dá à vida inicial ao homem.
Houve uma pausa longa, quebrada pelo reticente médico:
- E...?
- E sabendo que o Pai atende a todas as súplicas desinteressadas, sei que a água se transforma em um santo remédio. O que Deus coloca nela, nunca perguntei! Só sei que, com muito amor e muita fé, vou ministrá-la aos doentes, em nome de Jesus Cristo!
- Se o senhor fizer isso, doutor – completou Fabiano – Deus por certo te atenderá, pois Ele me ouve a mim, que sou ignorante e pecador, e mais te ouvira pelas tuas virtudes.
Sabe-se que, algumas vezes, o doutor Fortes foi visto dando pequenas porções d`água a escravos enfermos!
Texto extraído do livro:
“Fabiano de Cristo o Peregrino da Caridade”
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