quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Iansa

 IANSÃ
 
Iansã, na África, é a deusa do Rio Níger, mitologicamente, uma divindade de nove cabeças, representando o delta daquele rio. Ao Brasil, é ligada principalmente aos ventos.
Na teologia umbandista, ocupa o 5º raio junto à Xangô.
No plano físico, comparece através dos raios, ventos, tempestades, furacões e tornados, modificando intempestivamente ao ambiente normal da natureza com propósito acima da compreensão humana.
No plano emocional, sua atuação é marcante no que tange à ancestralidade das criaturas, definindo-as desapego e proporcionando ações apaixonantes e avassaladoras em todos os campos da atividade social. Os seus filhos de cabeça estão na vanguarda dos movimentos libertários e decisivos para a conquista de uma posição liberal e independente do povo na sociedade. Estão quase sempre entre os cabeças de greve e rebeliões. Possuem, no entanto, uma atitude recatada de fiel obediência ao que lhes parece verdadeiro, justo e lógico no plano psicológico. São inteiramente contra os preconceitos, discriminações ou quaisquer formas outras de diferença menores e mesquinhas contra os semelhantes.
Elegantes, educados no trato, logo se destacam do grupo onde vivem, não só pelo gosto refinado, pelo vestuário, como também pela linguagem franca e corajosa com que debatem seus pontos de vista.
No plano mental, os filhos do Orixá aparecem entre os grandes pensadores, construtores de ideologia (filosóficas, políticas e religiosas). Progressistas, são bons condutores ou auxiliares na consecução de um ideal.
Ao contrário do Orixá Xangô que emana conservadorismo e fidelidade às tradições, os filhos de Iansã estão sempre reciclando seus conceitos e comportamentos. São exigentes na forma e no conteúdo das proposições filosóficas e na vida prática do dia a dia. Certos ou errados, surpreendem a si mesmo e conhecidos.
Não guardam rancor aos desafetos, embora fugidos ao reatamento. Fazem amizades com muita facilidade; todos gostam de dizer amigos seus. São perdulários embora tenham facilidade nos ganhos. É próprio aos filhos da Orixá guerreira dar partida aos movimentos reivindicados da classe a quem pertencem.
Agora, as tendência negativas. Tendência da criatura e não do Orixá. O reverso das suas qualidades. Quando fracassados, encontram prazer no jogo, bebida, tóxico e completo abandono de si mesmo. Podem chegar ao topo da montanha, mas, por imprudência, podem rolar pelo abismo da miséria moral e material.

ALGUMAS ERVAS, FLORES, FRUTOS E BEBIDAS DEDICADOS A IANSÃ:
Erva santa, umbaúba, folhas de bambu, folha de fogo, capeba, perientária, bredo sem espinho, malmequer branco, dormideira, espada de santa bárbara, flores amarelas ou coral, dracena, papoula, gerânio, erva de passarinho, erva tostão, guiné, jaborandi, louro, malva rosa, nega mina, peregum, pinhão roxo;
Frutos: romã, groselha, pêssego, pitanga, framboesa e cajá
Bebidas: suco das ervas e dos frutos, além da água de chuva.
Dia da semana: quarta-feira
Número: 9,11
PRATOS PARA OFERECER À IANSÃ: Acarajé, inhame cozido, descascado e fatiado com mel.
SÍMBOLO: Espada curta de cobre ou estanho e um raio
SAUDAÇÃO: Eparrei Oyá! - Oyá (nome pelo qual é conhecida Iansã); Eparrei (Saudação a um dos raios da Orixá da Decisão).

Iansã / Oyá / Matamba - Saravá a Santa Guerreira !!!

Oyá recebeu, de Olorun, a missão de transformar e renovar a natureza através do vento, que ela sabe manipular. O vento nem sempre é tão forte, mas, algumas vezes, forma-se uma tormenta, que provoca muita destruição e mudanças por onde passa, havendo uma reciclagem natural. Normalmente, Oyá sopra a brisa, que, com sua doçura, espalha a criação, fazendo voar as sementes, que irão germinar na terra e fazer brotar uma nova vida. Além disso, esse vento manso também é responsável pelo processo de evaporação de todas as águas da terra, atuando junto aos rios e mares. Esse fenômeno é vital para a renovação dos recursos naturais, que, ao provocar as chuvas, estarão fertilizando a terra.
Como vibração divina é o próprio axé que prepara toda a criação.
Sendo a força direcionadora, não só dos elementos na natureza, mas também na vida dos seres humanos.
A compreensão dos domínios desse orixá fica mais clara através da análise de suas lendas.
Seu domínio sobre os mortos foi-lhe concedido por seu grande amigo, o orixá obaluaiê. Iansã é o único orixá que não teme os mortos, tendo sobre eles autoridade.
Seu conhecimento sobre a magia foi-lhe dado pelo orixá exú.
Com seu marido ogum, aprendeu a usar a espada e aprimorou sua habilidade de guerrear. Adotou a espada como seu símbolo. Com o orixá oxóssi, aprende à caçar. Com o orixá oxaguiã, aprendeu a usar o escudo. Com o orixá logun-edé, aprendeu à pescar. Do poderoso orixá xangô, recebeu o direito de comandar junto com ele os raios e os trovões. Que são símbolos dos dois. De oxalá ganhou o bem mais precioso, o afeto verdadeiro do pai amoroso Como não se encantar com um orixá que encantou tantos outros Orixás, ganhando o que cada um tinha de melhor para dar. 

“Eparrei Oiá “


Iansã é um Orixá feminino muito famoso no Brasil, sendo figura das mais populares entre os mitos da Umbanda e do Candomblé em nossa terra e também na África, onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oiá. É um dos Orixás do Candomblé que mais penetrou no sincretismo da Umbanda, talvez por ser o único que se relaciona, na liturgia mais tradicional africana, com os espíritos dos mortos (Eguns), que têm participação ativa na Umbanda, enquanto são afastados e pouco cultuados no Candomblé.
Iansã costuma ser saudada após os trovões, não pelo raio em si (propriedade de Xangô ao qual ela costuma ter acesso), mas principalmente porque Iansã é uma das mais apaixonadas amantes de Xangô, e o senhor da justiça não atingiria quem se lembrasse do nome da amada. Ao mesmo tempo, ela é a senhora do vento e, conseqüentemente, da tempestade. Iansã é a Senhora dos Eguns (espíritos dos mortos), os quais controla com um rabo de cavalo chamado Eruexim - seu instrumento litúrgico durante as festas, uma chibata feita de rabo de um cavalo atado a um cabo de osso, madeira ou metal. É ela que servirá de guia, ao lado de Obaluaiê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Comanda também a falange dos Boiadeiros.

LENDAS E HISTÓRIAS - IANSÃ

Nenhum vento poderá desviar a minha barca,
nenhum raio mudará o meu caminho...
 


Oiá e Iansã (entre os Nagôs), Sobô (jejes), Matamba (angolas), Nunvurucoma buva (congos), Bamburucema (bantos em geral. Divindade do Rio Oiá (Niger).
 
Senhora da Tarde, Dona dos Espíritos, Carregadeira de Ebó, Senhora dos Ventos, Raios e das Tempestades. Esses e alguns outros são os nomes desta grande Obirinxá (Orixá fêmea). Rainha dos raios, dos ciclones, furacões, tufões, vendavais, é um orixá do fogo, guerreira e poderosa. Ela é a Mãe dos eguns (espíritos dos mortos), guia dos espíritos desencarnados, deusa dos cemitérios. É ela que servirá de guia, ao lado d e Obaluaiê, para aquele espírito que se desprendeu do corpo. É ela que indicará o caminho a ser percorrido por aquela alma. Comanda a falange dos Boiadeiros. Oiá relaciona-se com todos os elementos da natureza. A água, sob a forma de chuva, de tempestade. O ar, sob a forma do vento da tempestade, que arranca árvores, derruba casas. No seu aspécto benéfico, foi o ar de Iansã que espalhou as plantas medicinais, anteriormente guardadas pro OSSAIN numa cabaça. Ligada a floresta, ela se transorma num búfalo, cervo ou elefante. Propicia a caça abundante. Mas sua essência é o movimento e o fogo, é o Orixá do raio. Esta relação com o movimento e o fogo faz de Iansã uma divindidade do sexo e do amor. Ela é rainha por ser a predileta de Xangô. E por ser mãe e rainha dos EGUNS, é o único orixá que não tem medo dos mortos. Seu número é o nove, produto de 3 x 3 - o par Inicial mais um, indicando continuação -- puro movimento. Ela usa uma espada de cobre e um "espanta moscas"- o eruexim -, com o qual mantém os Eguns afastados.

Oiá, filha de Iemanjá com Oxala é mais conhecida no Brasil como Iansã, foi uma princesa real na cidade de Irá, na Nigéria, em 1450 a. C. Sobrinha-neta do rei Elempe, e neta de Torôssi (mãe de Xangô), conquistou com valentia, coragem e dedicação seu caminho para o trono de Oió.

Conhecedora de todos os meandros da magia encantada, Oiá nunca se deixou abater por guerras, problemas ou disputas. Nobre guerreira, jamais tripudiou sobre inimigos e rivais vencidos.

Oiá foi a primeira e a mais fiel das três mulheres de Xangô – que era seu primo – e ajudou-o a conquistar os reinos que foram anexados ao império ioruba. Porém quando ele tentou invadir Nupe e Tapa, onde Oiá havia nascido, ela o abandonou e postou-se na entrada daquelas cidades disposta a enfrentá-lo. Como nem mesmo Xangô ousou desafiá-la, ninguém passou. Oiá é a menina dos olhos de Oxalá, seu protetor, a única divindade que entra no Ibalé de Egum (mortos), por seu poder e omnisciência. Oiá foi a primeira entidade feminina a surgir nos cultos negros. Quando Xangô morreu, antes de se transformar num orixá, sua mulher chorou tão copiosamente que as lágrimas formaram o grande rio Oiá (Niger) do qual ela se tornaria deusa.

Como foi relatado atrás, Oiá era antes mulher de Ogun, encarregando-se de acionar o fole que atiçava o fogo da forja. Seduzida por Xangô, Oiá fugiu com ele. Ogun perseguiu os fugitivos e, quando tocou Oiá com sua vara mágica de ferro, ela foi dividida em nove partes e recebeu o nome de Iansã, "a mãe (transformada em) novo".

Embora tenha sido esposa de Xangô, Oia percorreu vários reinos. Foi paixão de Ogum, Oxaguian, Exu. Conviveu e seduziu Oxóssi, Logun-Edé e tentou, em vão, relacionar-se com Obaluaiê. Em Ifê, terra de Ogum, foi a grande paixão do guerreiro. Aprendeu com ele e ganhou o direito do manuseio da espada. Em Oxogbo, terra de Oxaguian, aprendeu e recebeu o direito de usar o escudo.

Deparou-se com Exu nas estradas, com ele se relacionou e aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Oxóssi, seduziu o deus da caça; aprendendo a caçar, tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal com a ajuda da magia aprendida com Exu. Seduziu o jovem Logun-Edé e com ele aprendeu a pescar.

Oiá partiu, então, para o reino de Obaluaiê, pois queria descobrir seus mistérios e até mesmo conhecer seu rosto, mas nada conseguiu pela sedução. Porém, Obaluaiê resolveu ensinar-lhe a tratar dos mortos. De início, Oiá relutou, mas seu desejo de aprender foi mais forte, aprendeu a conviver com os eguns e controlá-los. Partiu, então, para Oió, reino de Xangô, e lá acreditava que teria o mais vaidoso dos reis, e aprenderia a viver ricamente. Mas, ao chegar ao reino do deus do trovão, Oiá aprendeu muito mais. Aprendeu a amar verdadeiramente e com uma paixão violenta, pois Xangô dividiu com ela os poderes do raio e deu a ela o seu coração. O fogo é o elemento básico de Oiá. O fogo das paixões, da alegria, o fogo que queima. E aqueles que dão uma conotação de vulgaridade a essa belíssima e importantíssima divindade africana, são dignos de pena e mais dignos ainda, do perdão de Oiá-Iansã.

Recebendo de Xangô, para guardar, o restante do poderoso alimento mágico dado por Oxalá, Iansã também comeu dele e, como o marido, passou a expelir labaredas pela boca, quando falava. Este mito une Iansã e Xangô, fazendo dela também um orixá do fogo.

Altiva, dinâmica, implacável, Iansã participa dos combates, ao lado do turbulento marido. Manifestada no candomblé, usa uma espécie de turbante enfeitado, com uma franja de contas sobre o rosto e, na parte posterior, uma fita larga que pende de um laçarote. Uma grande faixa (ojá) termina atada na frente, sobre o busto. Iansã dança marcialmente, o alfange em punho e, quando cruz com Ogun terça armas com ele, como num bailado de pirrica. Na outra mão, Iansã leva o eruexim, espanador feito com pêlos de rabo de cavalo, que serve para varrer as almas do mortos.

Além do alfange e do eruexim, são símbolos da deusa os chifres de búfalo. Conta um mito etiológico que Ogun, caçando na floresta, ia matar um búfalo, quando o animal retirou a pele e surgiu uma linda mulher. Era Oiá-Iansã. Ogun apaixona-se por ela, acaba se casando e têm nove filhos. As outras mulheres de Ogun, enciumadas, descobrem o segredo e começa a ridicularizar a deusa. Este veste a pele, assume outra vez a forma de búfalo e mata as mulheres ciumentas. Depois deixa os chifres com os filhos, dizendo: "Quando necessitarem, batam um chifre contra o outro e eu virei socorrê-los". É por essa razão que os chifres de búfalo estão sempre nos lugares consagrados a Oiá-Iansã.

Senhora do fogo, dos raios e da guerra, é ela quem traz as tempestades e a ventania para varrer a maldade humana da face da Terra. Iansã andava pelo mundo se aventurado, onde quer que ela soubesse haver algo impossível para se fazer, lá estava ela se propondo a obter mais uma conquista.

Iansã é aquela que gosta de participar de tudo, é vingativa com aqueles que não sabem respeitá-la, porém não mede esforços para agradar quem a reverencia.

Protetora dos bombeiros e todas as mulheres guerreiras.

Uma lenda sobre Iansã

Ogum foi um dia caçar na floresta. Ele ficou na espreita e viu um búfalo vindo em sua direção. Ogum avaliou logo à distância que os separava e preparou-se para matar o animal com a sua espada. Mas viu o búfalo parar e, de repente, baixar a cabeça e despir-se de sua pele. Desta pele saiu uma linda mulher. 
Era Iansã, vestida com elegância, coberta com panos, um turbante luxuoso amarrado à cabeça e ornada de colares e braceletes. Iansã enrolou sua pele e seus chifres, fez uma trouxa e escondeu num formigueiro. Partiu, em seguida, num passo leve, em direção ao mercado da cidade, sem desconfiar que Ogum tinha visto tudo. 
Assim que Iansã partiu, Ogum apoderou-se da trouxa, foi papa casa, guardou-a no celeiro de milho e seguiu, também, para o mercado. Lá, ele encontrou a bela mulher e cortejou-a. Iansã era bela, muito bela, era a mais bela mulher do mundo. Sua beleza era tal que se um homem a visse, logo a desejaria. 
Ogum foi subjugado e pediu-a em casamento. Iansã apenas sorriu e recusou sem apelo. Ogum insistiu e disse-lhe que a esperaria. Ele não duvidava de que ela aceitasse sua proposta. Iansã voltou à floresta e não encontrou seu chifre nem sua pele. “Ah! Que contrariedade! Que teria se passado? Que fazer?” 

Iansã voltou ao mercado, já vazio, e viu Ogum que a esperava. Ela perguntou-lhe o que ele havia feito daquilo que ela deixara no formigueiro. Ogum fingiu inocência e declarou que nada tinha a ver, nem com o formigueiro nem com o que estava nele. Iansã não se deixou enganar e disse-lhe: “Eu sei que escondeu minha pele e meu chifre. 
Eu sei que você se negará a me revelar o esconderijo. Ogum, vou me casar com você e viver em sua casa. Mas, existem certas regras de conduta para comigo. Estas regras devem ser respeitadas, também, pelas pessoas da sua casa. Ninguém poderá me dizer: Você é um animal! Ninguém poderá utilizar cascas de dendê para fazer fogo. Ninguém poderá rolar um pilão pelo chão da casa”. 
Ogum respondeu que havia compreendido e levou Iansã. Chegando em casa, Ogum reuniu suas outras mulheres e explicou-lhes como deveriam comportar-se. Ficara claro para todos que ninguém deveria discutir com Iansã, nem insultá-la. 
A vida organizou-se. Ogum saía para caçar ou cultivar o campo. Iansã, em vão, procurava sua pele e seus chifres. Ela deu à luz uma criança, depois uma segunda e uma terceira… Ela deu à luz a nove crianças. Mas as mulheres viviam enciumadas da beleza de Iansã. 
Cada vez mais enciumadas e hostis, elas decidiram desvendar o mistério da origem de Iansã. Uma delas conseguiu embriagar Ogum com vinho de palma. Ogum não pôde mais controlar suas palavras e revelou o segredo. Contou que Iansã era, na realidade, um animal; Que sua pele e seus chifres estavam escondidos no celeiro de milho. 
Ogum recomendou-lhes ainda: “Sobretudo não procurem vê-los, pois isto a amedrontará. Não lhes digam jamais que é um animal!” Depois disso, logo que Ogum saía para o campo, as mulheres insultavam Iansã: “Você é um animal! Você é um animal!!” 
Elas cantavam enquanto faziam os trabalhos da casa: “Coma e beba, pode exibir-se, mas sua pele está no celeiro de milho!” Um dia, todas as mulheres saíram para o mercado. Iansã aproveitou-se e correu para o celeiro. Abriu a porta e, bem no fundo, sob grandes espigas de milho, encontrou sua pele e seus chifres. 
Ela os vestiu novamente e se sacudiu com energia. Cada parte do seu corpo retomou exatamente seu lugar dentro da pele. Logo que as mulheres chegaram do mercado, ela saiu bufando. Foi um tremendo massacre, pelo qual passaram todas. Com grandes chifradas Iansã rasgou-lhes a barriga, pisou sobre os corpos e rodou-os no ar. 
Iansã poupou seus filhos que a seguiam chorando e dizendo: “Nossa mãe, nossa mãe! É você mesma? Nossa mãe, nossa mãe! Que você vai fazer? Nossa mãe, nossa mãe! Que será de nós?” O búfalo os consolou, roçando seu corpo carinhosamente no deles e dizendo-lhes: “Eu vou voltar para a floresta; lá não é bom lugar para vocês. 
Mas, vou lhes deixar uma lembrança.” Retirou seus chifres, entregou-lhes e continuou: “Quando qualquer perigo lhes ameaçar, quando vocês precisarem dos meus conselhos, esfreguem estes chifres um no outro. Em qualquer lugar que vocês estiverem, em qualquer lugar que eu estiver, escutarei suas queixas e virei socorrê-los.” Eis por que dois chifres de búfalo estão sempre no altar de Iansã. 
LENDAS AFRICANAS DOS ORIXÁS - DE PIERRE FATUMBI VERGER -
TRADUÇÃO: MARIA APARECIDA NÓBREGA - EDITORA: CORRUPIO

Eram duas ventarolas...

É apenas uma lenda, mas é bonita!!!

Exu foi chamado ao reino de Olokun, senhor dos mares, para um trabalho que somente ele poderia realizar. Ao chegar à sala do trono ficou encantado ao conhecer Iemanjá, a filha do rei, que andava pelo salão a procura de uma jóia que tinha perdido. A beleza da moça era indescritível e Exu sentiu o ardor da paixão queimar-lhe o peito.
Saiu determinado a cumprir a missão e voltar o quanto antes para pedir a mão da princesa. Nunca ele fora tão rápido no cumprimento de uma tarefa quanto naquela. Em dois dias estava de volta apresentando as provas do sucesso da empreitada. Olokun ficou contentíssimo e ofereceu ao rapaz grandes riquezas, mas este foi inflexível. A ele somente interessava casar-se com Iemanjá. O monarca ficou extremamente irritado com tamanha audácia e mandou que o colocassem para fora de seus domínios.
Exu jurou vingança. Nunca ninguém o tinha tratado daquela forma e não engoliria a desfeita tão facilmente. Durante semanas nada mais fez a não ser arquitetar um plano para raptar a princesa.
Certa manhã, Iemanjá com um imenso séqüito, passeava pelas areias da praia, quando um imenso buraco se abriu a seus pés e a tragou para seu interior. Foi tudo tão rápido que ninguém pode fazer nada. A fenda se fechou como se ali nada jamais houvesse acontecido. Os escravos desesperaram-se, como contar ao rei o sucedido? Certamente seriam mortos sem piedade. Não havia quem não conhecesse a fúria real. Pensando dessa forma todos fugiram e nunca mais apareceram para testemunhar o ocorrido. Enquanto isso nas profundezas da terra Exu desvelava-se em carinho e atenção para ganhar o amor de Iemanjá.
Desesperado com o sumiço da filha o velho rei foi procurar um Babalaô que he contou exatamente o que tinha acontecido e o aconselhou a procurar por Iansã, jovem guerreira que nada temia e por sua rara beleza poderia granjear a simpatia de Exu.
Iansã foi chamada e prontificou-se a buscar a jovem. Providenciou uma oferenda a Ifá, pedindo proteção e força e partiu para o resgate. Depois de muito andar sentiu sob os pés a quentura que denunciava a presença do seqüestrador. Brandiu sua espada no ar, chamando os raios de seu domínio, e enfiou-a na terra com toda a força. Uma cratera se formou e a guerreira foi descendo lentamente. Logo avistou a bela moça sentada a um canto chorando copiosamente, a seu lado Exu afagava-lhe os longos cabelos fazendo juras de amor eterno.
- Vim buscar a princesa! - Seu tom de voz não deixava dúvidas, viera disposta a tudo.
- Como ousa invadir meu reino e ainda por cima ditar-me ordens? - Exu gritava descontrolado
- Minha princesa daqui não sai! - Apontou para os pés de Iansã e um circulo de fogo se formou em torno dela impedindo seu avanço.
- Não discutirei com você, peço a intercessão de Orunmilá, para cumprir a missão para a qual fui incumbida! Raios começaram a se espalhar por todo o espaço, uma ventania muito forte envolveu o corpo de Iansã, que assim chegou perto da moça que a tudo assistia perplexa.
O homem foi jogado contra uma parede atingido pela violência do vento. Um redemoinho as envolveu transportando-as para o reino de Olokun. O mar se abriu dando passagem para o pequeno tufão cavalgado por Iansã. Dos olhos do rei correram lágrimas de alegria e gratidão quando avistou em meio ao tormento o rosto da querida filha.
Iemanjá e Iansã tornaram-se amigas pela eternidade. Exu ainda está no interior da terra, algumas vezes chora por uma e pragueja contra a outra.
Hoje muitos terreiros cantam que em pleno mar havia duas ventarolas. É a essa história que se referem!

" Eram duas ventarolas, eram duas ventarolas
que vinham lá do mar, 
Mas uma era Iansã, o Eparrei!
A outra era Iemanjá, Adocia!"
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